Aglomerações em praias: uma questão mais profunda do que parece - Revista Esquinas

Aglomerações em praias: uma questão mais profunda do que parece

Por Juliano Bertaco Tolomelli, aluno do projeto Redação Aberta #1* : maio 28, 2021

Aumento populacional e aglomerações em cidades praianas podem estar ligadas à saúde mental

Cenários de aglomerações tornaram-se cada vez mais comuns, principalmente em cidades litorâneas, durante a pandemia do novo coronavírus no Brasil. Afrouxamentos nas medidas preventivas e baixa fiscalização nas praias são fatores que auxiliam o aumento desses episódios.

Em Riviera de São Lourenço, no litoral paulista, a medida de prevenção escolhida para conter aglomerações foi a “Operação Verão”. Visando o aumento do policiamento durante os períodos da temporada, a operação aconteceu entre 22 de dezembro e 17 de fevereiro. Entretanto, durante esses períodos, praias e cidades continuaram lotadas, mostrando a ineficácia do projeto. Durante o intervalo, o local apresentou picos de 10 mil a 16 mil casos diários da doença, segundo dados do Centro de Ciência e Engenharia de Sistemas da Universidade Johns Hopkins.

O empreendimento residencial da prefeitura de Bertioga teve aumento de 214% na população fixa, segundo a Associação dos Amigos da Riviera, saltando de 7 mil para 22 mil habitantes durante a pandemia da COVID-19. Portanto, entre 22 de dezembro e 17 de fevereiro, os picos de novos casos diários chegaram a valores superiores à metade da população fixa do bairro. Segundo especialistas, entre os motivos para os deslocamentos de centros urbanos para cidades litorâneas, como ocorreu em Riviera, está, principalmente, a saúde mental.

O que pensa quem vai à praia

Carlos Magalhães, 50, empresário e morador de São Paulo, definiu como “revigorantes” suas idas à praia de Barra do Una, a 37 km de Riviera. Para o administrador, o convívio diário com a família, dentro de casa, gera um certo tipo de estresse, que é aliviado quando está sozinho em contato com a natureza. Seus deslocamentos para o litoral durante a pandemia são, segundo ele, “momentos que tenho comigo mesmo, refletindo sobre várias coisas, melhorando, até mesmo, as relações familiares”. Magalhães ainda revelou que as viagens não são uma forma de cuidar apenas da própria saúde mental, mas sim da família como um todo.

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Lorena Tourinho Baptista, 47, especialista em psicologia clínica e psicopedagoga, enxerga as viagens à praia como algo benéfico para todos, sobretudo para quem apresenta quadros de ansiedade e depressão. O isolamento, ou seja, estar no mesmo ambiente todos os dias, somado ao estresse do trabalho e das notícias, por exemplo, agrava estes quadros. “O contato com a natureza e a liberdade de caminhar na areia auxiliam a recarregar as energias e relaxar a mente”, disse a psicóloga. Por outro lado, Tourinho acredita que, em cenários de aglomeração, as idas à praia se tornam algo estressante, uma vez que existe um grande perigo da pessoa se contaminar com o vírus da COVID-19.

O outro lado da moeda

Por mais que seja uma maneira benéfica de cuidar da saúde mental, os deslocamentos às praias podem gerar cenários de aglomeração. O sentimento de “estar preso” dentro de casa,  em conjunto ao estresse do dia-a-dia, resulta em um grande número de visitantes nas praias do Brasil.

Ian Pavani Verderesi, 32, engenheiro ambiental e morador de Riviera de São Lourenço, indica que, em sua visão, houve um aumento na população fixa da cidade, mas uma diminuição na população flutuante. Contudo, Verderesi observou um relaxamento das pessoas que se deslocam de metrópoles para o bairro em relação à pandemia. O desrespeito ao uso obrigatório de máscaras é um cenário comum em Riviera, conforme revela o engenheiro. “O pessoal, de São Paulo, que está estressado com o trabalho vêm pra cá, mas chuta o balde e esquece da pandemia”, completa o morador.

* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

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