Isolamento social e uso de redes sociais podem provocar insatisfações com a própria imagem, segundo especialista
Durante o isolamento social, insatisfações com a aparência aumentaram, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), e o interesse por procedimentos estéticos também. Thauanny Ferreira, 23 anos, biomédica esteta pela FMU, alerta, no entanto, que principalmente em momento de pandemia é preciso “garantir que o paciente não tenha nenhuma restrição para realizar algum tratamento. Uma das contraindicações para qualquer procedimento estético é a questão psicológica”.
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Pessoas com transtorno de imagem, de acordo com a especialista, não podem realizar procedimentos estéticos antes de fazer um tratamento psicológico. Isso também vale para aqueles que perderam um ente querido recentemente. É recomendado respeitar o luto e executar o tratamento desejado de forma mais consciente.
Incomodada com a queda de cabelo devido à ansiedade na pandemia, Maria Gilda, 42 anos, procurou ajuda profissional de Thauanny e realizou procedimentos estéticos para resolver suas insatisfações. O interresse por cuidados com a beleza surgiu após os 40 anos e se intensificou nesse cenário de isolamento. Sua história conta com o agravante da rosácea, doença vascular inflamatória crônica que impede o uso de componentes químicos na pele.
Para muitos, a queda da autoestima em relação ao cabelo, peso e pele aumentou a vontade de fazer procedimentos estéticos durante a pandemia — o que não significa, necessariamente, que a procura acompanhou o mesmo ritmo. Na experiência da doutora, o interesse cresceu, mas as restrições sanitárias podem ter impedido muitas pessoas de realizar os tratamentos.
Pós-procedimentos estéticos
Segundo Thauanny, uma das maiores insatisfações nesse periódo é a “‘mascne‘, uma acne provocada pelo uso da máscara”. Ela ressalta que mesmo aqueles que sofrem com essa condição devem continuar utilizando as máscaras de proteção de forma correta, seguindo os protocolos da OMS (Organização Mundial de Saúde).
“Durante a pandemia, minha maior insatisfação com a minha beleza foi em relação ao meu rosto. Fiz um peeling e me ajudou muito”, diz Michele Vieira, nutricionista de 24 anos. Ela conta que tem uma rotina de skincare para tratar sua pele e faz exercícios físicos para o corpo.
Michele relata que manchas decorrentes da acne em seu rosto prejudicavam sua autoestima. Por isso, resolveu procurar procedimentos estéticos que a ajudassem, e confessa já estar planejando realizar mais no futuro. “O tratamento melhorou muito a minha autoestima em relação à acne. Não tive malefícios, confio muito na profissional que me atendeu”. Maria Gilda também percebeu uma melhora na autoestima com os procedimentos que realizou. Para Thauanny, é essencial procurar um especialista de confiança e que preze pela saúde do paciente.
Filtros e influências sociais
Um estudo da plataforma Socialbikers mostrou que o Instagram cresceu na pandemia, e a produção e o consumo de filtros acompanhou esse processo. Durante o isolamento, muitos jovens se viram reféns dessas funções embelezadoras, usando-as diariamente para aparecer nos stories ou até mesmo no feed.
O estudante Kauã Rodrigues, 17 anos, já coleciona mais de 31 mil de seguidores em seu Instagram. “Em todas as minhas fotos de antigamente, eu tinha o nariz perfeito por meio de edições no Facetune. Hoje, eu sempre procuro filtros que não modifiquem muito o rosto, não sou escravo dos filtros do Instagram”.
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Autoestima e procedimentos estéticos
Desde o início da pandemia, Kauã teve problemas com autoestima e sua vontade de realizar uma rinomodelação, abordagem não cirúrgica para modificar o nariz, se tornou mais frequente. Apesar disso, ele salienta que teve uma grande evolução pessoal e, agora, se aceita muito mais. Mas ele não é o único. Dados da Associação Americana de Cirurgia Plástica e Estética (ISAPS) mostram que os procedimentos não cirúrgicos são os que mais aumentaram nos últimos tempos.
Larissa Fernandes, 18 anos, relata que embora admire outras mulheres e celebridades, como Selena Gomez, hoje se sente muito bem com sua aparência. Durante a pandemia, ela passou por problemas de perda de peso, ao contrário do que muitas pessoas experienciaram. Segundo pesquisa da USP, quase 20% dos brasileiros engordaram ao longo do isolamento.
Ela conta que seu emagrecimento ocorreu por conta do estresse e foi uma das poucas situações que afetaram negativamente sua autoestima. Diferente de Kauã, ela não é ativa nas redes e se limita a postar algumas fotos de momentos pessoais. Também não é grande fã de filtros que modificam o rosto. “Eu não uso muito os filtros, mas essa questão é relativa, a gente pode usar sem exageros”, opina.
Segundo Thauanny, “muitas vezes, os filtros promovem uma expectativa irreal nos pacientes”. Isso explica o fenômeno em que pessoas se inspiram em filtros ao buscar procedimentos estéticos. De acordo com a especialista, como cada individuo tem suas características, não é saudável atender a pedidos para mudanças extremas. “Sempre prezo pela naturalidade, por manter os traços do paciente para que ele se olhe no espelho e se reconheça, como ele fez durante a vida inteira”, afirma.
Especialista da estética durante a pandemia
Thauanny Ferreira é proprietária da clínica de estética Haus of Beauty, junto a outras colaboradoras. Com a pandemia, a organização da agenda das profissionais funciona de forma com que o espaço não tenha aglomerações. Os atendimentos são marcados com intervalos de uma hora para que aconteça a higienização do local e as regras de distanciamento permitem no máximo duas pessoas em espera na recepção.
A biomédica faz sua própria agenda e não vai ao consultório todos os dias por conta das normas de segurança do local, revezando as idas com as demais colaboradoras. O cuidado com a higienização é rigoroso, tanto nos espaços públicos da clínica quanto nos consultórios de atendimento. “Além de profissional, a gente também é ser humano, então nos preocupamos com nós mesmas e com nossos pacientes também. Seguimos os procedimentos de higiene recomendados pela OMS”.
*Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.