Segunda live de saúde mental promovida por ESQUINAS fala sobre emoções negativas e como aprender com elas
“[O medo] é justamente a emoção mais presente neste momento. Medo do desconhecido, da incerteza econômica, de ser contagiado”. Ao mesmo tempo, Daniel destaca como essa emoção pode nos ajudar. “Vamos seguir com medo e isso é importante, porque quem não se sente vulnerável não se protege”, comenta.
Durante a live, o médico exemplifica que a falta de medo, e por consequência ausência de proteção, provoca comportamentos como não lavar as mãos e negligenciar o uso de máscaras. No entanto, pontua que essas emoções não podem sair do controle. “… te colocam em risco se elas te impedem de fazer algo”. Segundo ele, muitos dos sentimentos negativos chegam, porque o vírus é desconhecido. E isso se justifica uma vez que o cérebro tende a buscar padrões e respostas, só que elas não existem no momento.
“O limite é tênue, mas, na dúvida, é melhor buscar opinião profissional. O momento certo de procurar ajuda é quando você acha que precisa”, explica o psiquiatra.
A entrevista
O segundo convidado das lives sobre saúde mental promovidas por ESQUINAS foi Daniel Martins de Barros. Seu último livro foi “O lado bom do lado ruim”, qual fala sobre as cinco emoções básicas e como lidar com elas. Além disso, ele também é professor colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, e médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Na conversa, Rodrigo Ratier, editor-chefe da revista, comanda perguntas sobre como os sentimentos podem ser influenciados durante a quarentena.
Falando sobre sua obra, o psiquiatra começa: “No livro, as cinco emoções são: medo, raiva, tristeza, nojo e alegria”, começa o médico. Não por coincidência, são os mesmos personagens do filme Divertida Mente (2015). Discorrendo sobre o assunto, o professor comentou sobre a importância dos sentimentos negativos. “Eu quero auxiliar as pessoas a se libertarem da ideia e da obrigação de ser feliz”, diz.
Ao falar sobre a importância de cada emoção no seu livro, ressalta que a tristeza sinaliza uma perda às pessoas e que ela é útil, porque mostra que acabou algo conectado a nós e é necessário seguir em frente. Sobre a raiva, ele diz que é o motor da indignação e “é daí que vêm as mudanças”. Já o nojo atua como um condutor em direção à civilização. E a única positiva delas, a alegria, te mantém vivo.
“O problema das emoções é que não aprendemos nem a dar nome a elas e muito menos a lidar, vamos vivendo como se fosse tão natural quanto respirar”, comenta o médico. A indicação dele é fazer um inventário das emoções. “Olhar para dentro e se perguntar: o que é isso? As emoções têm uma mensagem para transmitir e quanto mais cedo a identificamos, melhor e mais rápido lidamos com isso”.
Como será o amanhã?
Sobre futuro, o psiquiatra não acredita que a sociedade vá registrar mudanças estruturais pós-pandemia. “As lições de vida que estamos aprendendo vão nos melhorar individualmente, mas não como sociedade”, comenta. O médico defende que o mundo melhora porque é simplesmente um ciclo natural onde o dia seguinte é melhor do que o anterior. E para exemplificar, cita os protestos anti-racistas. “E isso só deixa mais claro que a pandemia não cria problema, ela escancara os já existentes”, conclui.
Além dos problemas emocionais ocasionados pela pandemia, ele também fala sobre os privilégios. “Se você não é xingado por ser o que é, você é mais privilegiado do que imagina e precisa ter o exercício de empatia de se colocar no lugar do outro. Usar a sorte de ser privilegiado para tornar o mundo um lugar melhor”, diz o psiquiatra. Ele também pontua que os preconceitos são generalizados e ofendem todo um grupo. Por exemplo, usar o termo “mulher” como xingamento pressupõe que a pessoa é ruim por pertencer àquele grupo e que todo ele não presta e, segundo ele, “isso prejudica toda a humanidade”.
Ao final da live, o doutor deixa uma mensagem falando que “tudo vai passar”. De acordo com ele, é importante que a humanidade se lembre disso para combater sentimentos de angústia e de desespero. “Achamos que não vai passar, não vemos saída, mas, acreditem, vai!”, finaliza.