Vip ou Xepa: por que "diversidade corporal" não é pauta do BBB23? - Revista Esquinas

Vip ou Xepa: por que “diversidade corporal” não é pauta do BBB23?

Por Giuliana Miranda : abril 12, 2023

Participantes do Big Brother Brasil 2023. Reprodução: Instagram / @bbb

No último mês de programa, a 23º edição do reality mantém problemáticas remanescentes de anos anteriores, envolvendo transtorno alimentar e gordofobia

Um aspecto do programa que chamou a atenção de especialistas, foi a relação de alguns participantes com seus corpos e certas comidas. Uma das participantes foi a atriz Bruna Griphao. Durante conversa com a cantora, Aline Wirley, Bruna falou sobre suas questões alimentares e sua batalha contra o transtorno alimentar.

Segundo Wagner Gurgel, psiquiatra do PROTAD (Programa de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência) o acesso a conteúdos de mídia que mostram comportamentos pouco saudáveis é um dos fatores para a piora no quadro de transtorno alimentar:

“A exposição a comportamentos alimentares inadequados para pessoas que sofrem algum tipo de transtorno alimentar (TA) pode gerar muito sofrimento, principalmente, a depender da intensidade dos seus sintomas naquele período. Quanto mais grave está a sintomatologia do TA, mais o paciente foca em comida e corpo. Assim, assistir ou ter acesso a algum conteúdo de mídia mostrando esses comportamentos pouco saudáveis pode funcionar como fator desencadeante (precipitante) de comportamentos similares com consequente piora do quadro de TA.”

O ambiente onde os participantes residem durante os três meses de programa é planejado para desestabilizá-los. O psiquiatra afirma que experiências e estudos na área de TA colocam os fatores ditos ambientais, ou seja, externos ao indivíduo, como desencadeante (precipitante) dos sintomas, enquanto fatores internos (experiências estressantes, sintomas ansiosos, sintomas depressivos) costumam ter papel perpetuador do transtorno, isto é, contribuindo para cronificação dos sintomas ao atrapalhar a busca e manutenção do tratamento.

Representatividade corporal

A jornalista e criadora de conteúdo, Tamyres Sbrile, aponta que a falta de representatividade corporal não está somente no programa, mas no desenvolvimento infantil, fazendo com que pessoas gordas cresçam com o sentimento de exclusão, de não pertencerem a tal grupo.

Além dessa carência presente no programa, foram presenciados comentários gordofóbicos, como o do modelo Gabriel Fop ao referir-se ao ex-participante Bruno Nogueira: “E o Bruno que parece o Garfield de tão gordo”. Segundo Tamyres, a gordofobia está enraizada na sociedade: “A gente já percebe que esses comentários do Gabriel são de muitos anos, de uma gordofobia enraizada. Então, ele só está reproduzindo o que lhe foi ensinado. Ele tem culpa, claro, por reproduzir isso e por não querer entender a causa, mas ele só está replicando o que a sociedade o ensinou”.

A falta de diferentes tamanhos de corpos no programa também é consequência do que o público deseja assistir, ou seja, da audiência do programa. Durante a entrevista, Tamyres pontuou o quanto a audiência é afetada por isso e que o motivo seria a visão que as pessoas possuem da comunidade gorda, de que corpos gordos são feios, repulsivos e menos desejados.

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Grau de risco ao transtorno

Outro ponto importante a ser ressaltado sobre as questões alimentares é a divisão dos participantes entre “Vip” e “Xepa”. Enquanto em festas e na cozinha “Vip” há abundância e variedade de alimentos, na “Xepa” há racionamento e pouca variedade. De acordo com Bruna Caruso Mazzolani, nutricionista, doutoranda da Faculdade de Medicina da USP e voluntária do PROTAD o grau de desafio para pessoas com transtorno alimentar na convivência dessa variação quantitativa de alimentos é maior:

“Quando em situações de extrema abundância e variedade de alimentos, fazer escolhas alimentares torna-se mais desafiador. O que acontece na maioria das vezes, os indivíduos acabam comendo mais nessas situações, tanto em quantidade quanto em variedade e isso é bem normal. O problema é que para algumas pessoas, esse comer a mais pode levar a culpa e consequentemente ao pensamento de restrição, bem como a episódios de compulsão alimentar. No caso de escassez de alimentos, a restrição imposta pela situação aciona o ‘mecanismo de sobrevivência’ do corpo, levando a altos níveis de estresse, pensamentos obsessivos por comida, desregulação da saciedade e episódios de exagero com a comida.”

Essa realidade é intensificada no BBB, mas em todas as relações humanas a gordofobia ainda se mostra presente, além da desinformação e dos estereótipos presentes na sociedade. Dessa forma, existem perfis nas redes sociais que buscam conscientizar as pessoas em benefício da causa, como: @oquehouvecomacouve, @nutri_marcela, @nutri.laurahofmeister, @itstamyres, @movimentocorpolivre, @alexandrismo entre outros.

 

Editado por Ronaldo Saez

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