Funcionários de duas empresas de diferentes setores da economia relatam como pandemia impactou desde familiares dos proprietários até trabalhadores
Desde o início da pandemia, em março de 2020, as pessoas procuram maneiras de se adaptar à realidade pandêmica. Algumas empresas precisaram fechar, outras investiram mais que o esperado para garantir a segurança dos seus funcionários. Porém, um ponto comum foi o impacto em lucros e salários. Esse fenômeno acarreta um efeito dominó, visto que, se uma empresa é financeiramente prejudicada, o problema afeta desde a família dos chefes até a dos funcionários, atingindo o negócio em sua totalidade.
Diante do problema, as primeiras medidas tomadas por Luiz Fernando Peçanha, 61 anos, em relação à segurança dos funcionários incluíam passar a equipe do escritório para trabalhar em home office. Já nas obras, Luiz, que gerencia a ENGEFER, em São Paulo, precisou tomar providências diferentes, como fazer testes de Covid semanalmente nos trabalhadores, evitar aglomerações nos refeitórios e nos ônibus fretados, promover a higienização das mãos com álcool gel e tornar o uso de máscaras obrigatório. “Quando um funcionário testa positivo, fica de quarentena. Nos casos de internação, oferecemos todo apoio”, esclareceu o engenheiro. Luiz também contou que a pandemia trouxe um entendimento sobre a valorização da vida e aproximou as relações no ambiente familiar.
O supervisor da ENGEFER de 65 anos, Ademar Dias, que atua no cargo há 20 anos, reconhece as adaptações, mas relata que os novos obstáculos incluem principalmente as máscaras. “Como a gente tem que ir de um lugar para o outro na obra, com a máscara, parece que ficamos mais cansados, além dos testes semanais de covid”, explica.
Com a crise financeira da empresa, a vida de Ademar foi afetada nas esferas pessoal e familiar. “Meu filho começou a trabalhar para nos ajudar, ele já tinha se formado em 2019, mas ainda não trabalhava. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar em uma empresa que ele queria, ele aceitou”, conta. “Talvez, se o meu filho não tivesse arranjado um emprego nessa época, minha família estaria muito preocupada”, completa Ademar.
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Mesmo que em outro ramo da economia, Douglas Domingues, 65, proprietário da RDS etiquetas relatou os mesmos problemas que Luiz acerca das finanças durante a pandemia. Ambos reportaram vendas perdidas que não puderam ser recuperadas pois já haviam sido atendidas por outras corporações. Com a prestação de serviços online, a única adaptação que a RDS Etiquetas fez foi aumentar o estoque – o que também aconteceu na ENGEFER.
Mesmo trabalhando sozinho, o microempreendedor afirma que uma empresa presta serviço de venda à RDS. Por contrato, ela recebia exclusivamente um percentual sobre as vendas realizadas, mas isso mudou. “A ausência de um leque mais diversificado de clientes fez com que a empresa fosse mais atingida. Independentemente do volume de vendas, eu passei a gerar um salário mínimo de retirada”, explica Douglas.
No âmbito familiar, a pandemia causou mudanças nas relações do microempresário. Antes, ele costumava ver a filha mensalmente e, agora, essa frequência se tornou semestral. Entretanto, com a mãe, aconteceu o oposto. “O contato com a minha mãe aumentou muito. Antes, a minha irmã morava aqui [São Paulo] e levava minha mãe em consultas médicas. Agora, minha irmã se mudou para o interior e quem presta esse atendimento à minha mãe sou eu”, diz Douglas.
Visão profissional
Segundo Adalton Diniz, economista de informações, “o que nós temos que pensar é que essa crise econômica que estamos vivendo não é só devido à pandemia. A pandemia agravou uma crise da economia brasileira que começou em 2014”. Tendo em vista que a instabilidade financeira do país não depende exclusivamente do momento atual, o especialista sugere que, “assim que a pandemia terminar, o governo deve tomar medidas que acabem com os problemas estruturais relacionados ao baixo nível de confiança que vêm dos problemas no investimento”.
O economista também pontua que, atualmente, a taxa de investimento no Brasil está em 15% do PIB, considerado baixo para uma economia em desenvolvimento. Segundo ele, o percentual deve ficar em torno de 25%, “o que só acontecerá se empresários e o governo tiverem a confiança de que é vantajoso investir no país”.
* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.