“Se meu filho estivesse desempregado, minha família estaria preocupada”, diz supervisor de empresa sobre impacto da pandemia - Revista Esquinas

“Se meu filho estivesse desempregado, minha família estaria preocupada”, diz supervisor de empresa sobre impacto da pandemia

Por Caroline Mora Rusafa e Carolina Poloni Moraes, alunas do Projeto Redação Aberta #1 * : maio 28, 2021

Funcionários de duas empresas de diferentes setores da economia relatam como pandemia impactou desde familiares dos proprietários até trabalhadores.

Funcionários de duas empresas de diferentes setores da economia relatam como pandemia impactou desde familiares dos proprietários até trabalhadores

Desde o início da pandemia, em março de 2020, as pessoas procuram maneiras de se adaptar à realidade pandêmica. Algumas empresas precisaram fechar, outras investiram mais que o esperado para garantir a segurança dos seus funcionários. Porém, um ponto comum foi o impacto em lucros e salários. Esse fenômeno acarreta um efeito dominó, visto que, se uma empresa é financeiramente prejudicada, o problema afeta desde a família dos chefes até a dos funcionários, atingindo o negócio em sua totalidade.

Diante do problema, as primeiras medidas tomadas por Luiz Fernando Peçanha, 61 anos, em relação à segurança dos funcionários incluíam passar a equipe do escritório para trabalhar em home office. Já nas obras, Luiz, que gerencia a ENGEFER, em São Paulo, precisou tomar providências diferentes, como fazer testes de Covid semanalmente nos trabalhadores, evitar aglomerações nos refeitórios e nos ônibus fretados, promover a higienização das mãos com álcool gel e tornar o uso de máscaras obrigatório. “Quando um funcionário testa positivo, fica de quarentena. Nos casos de internação, oferecemos todo apoio”, esclareceu o engenheiro. Luiz também contou que a pandemia trouxe um entendimento sobre a valorização da vida e aproximou as relações no ambiente familiar.

O supervisor da ENGEFER de 65 anos, Ademar Dias, que atua no cargo há 20 anos, reconhece as adaptações, mas relata que os novos obstáculos incluem principalmente as máscaras. “Como a gente tem que ir de um lugar para o outro na obra, com a máscara, parece que ficamos mais cansados, além dos testes semanais de covid”, explica.

Com a crise financeira da empresa, a vida de Ademar foi afetada nas esferas pessoal e familiar. “Meu filho começou a trabalhar para nos ajudar, ele já tinha se formado em 2019, mas ainda não trabalhava. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar em uma empresa que ele queria, ele aceitou”, conta. “Talvez, se o meu filho não tivesse arranjado um emprego nessa época, minha família estaria muito preocupada”, completa Ademar.

Veja mais em ESQUINAS

“O impacto da pandemia é desigual”: As consequências do coronavírus na economia

“Zé Gotinha resolveria mais do que colocar número de mortes”: intensivista que desenvolveu burnout na pandemia descreve o trabalho na UTI

“Dar um furo de reportagem ou morrer de covid?”: jornalistas relatam trabalho na pandemia

Mesmo que em outro ramo da economia, Douglas Domingues, 65, proprietário da RDS etiquetas relatou os mesmos problemas que Luiz acerca das finanças durante a pandemia. Ambos reportaram vendas perdidas que não puderam ser recuperadas pois já haviam sido atendidas por outras corporações. Com a prestação de serviços online, a única adaptação que a RDS Etiquetas fez foi aumentar o estoque – o que também aconteceu na ENGEFER.

Mesmo trabalhando sozinho, o microempreendedor afirma que uma empresa presta serviço de venda à RDS. Por contrato, ela recebia exclusivamente um percentual sobre as vendas realizadas, mas isso mudou. “A ausência de um leque mais diversificado de clientes fez com que a empresa fosse mais atingida. Independentemente do volume de vendas, eu passei a gerar um salário mínimo de retirada”, explica Douglas.

No âmbito familiar, a pandemia causou mudanças nas relações do microempresário. Antes, ele costumava ver a filha mensalmente e, agora, essa frequência se tornou semestral. Entretanto, com a mãe, aconteceu o oposto. “O contato com a minha mãe aumentou muito. Antes, a minha irmã morava aqui [São Paulo] e levava minha mãe em consultas médicas. Agora, minha irmã se mudou para o interior e quem presta esse atendimento à minha mãe sou eu”, diz Douglas.

Visão profissional

Segundo Adalton Diniz, economista de informações, “o que nós temos que pensar é que essa crise econômica que estamos vivendo não é só devido à pandemia. A pandemia agravou uma crise da economia brasileira que começou em 2014”. Tendo em vista que a instabilidade financeira do país não depende exclusivamente do momento atual, o especialista sugere que, “assim que a pandemia terminar, o governo deve tomar medidas que acabem com os problemas estruturais relacionados ao baixo nível de confiança que vêm dos problemas no investimento”.

O economista também pontua que, atualmente, a taxa de investimento no Brasil está em 15% do PIB, considerado baixo para uma economia em desenvolvimento. Segundo ele, o percentual deve ficar em torno de 25%, “o que só acontecerá se empresários e o governo tiverem a confiança de que é vantajoso investir no país”.

* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

Encontrou um erro? Avise-nos.