Esquinas 30: debate sobre o fazer jornalístico e estreia de documentário marcam celebração - Revista Esquinas

Esquinas 30: debate sobre o fazer jornalístico e estreia de documentário marcam celebração

Por Larissa Menegatti, Léo Albiero e Thais Morello : maio 27, 2025

Em 30 anos, Esquinas já foi jornal, revista e agora segue totalmente digital. Foto: Léo Albiero

Evento reuniu gerações de jornalistas de Esquinas para discutir passado, presente e futuro da produção de reportagens e documentários

Na última quinta-feira (22), o Teatro Cásper Líbero recebeu o evento de comemoração dos 30 anos de Esquinas. Uma história que se iniciou em 1995. De lá para cá, Esquinas já foi jornal, revista e, hoje em dia, é totalmente digital, sendo o maior veículo laboratorial da América Latina.

“Esquinas 30: conectando histórias e formando jornalistas” contou com a presença de Alessandro Jodar, Marcelo Sakate, Mauro Albano e Marcella Centofanti — todos ex-casperianos que já contribuíram com Esquinas. Além disso, o evento teve a participação do documentarista Leonardo Brandt e a estreia do documentário “Sozinhos: A Vila Cenográfica de Paranapiacaba”, uma produção Esquinas.

A abertura do evento foi feita pela atual editora-chefe, Lorena Vieira, e contou com a exibição de um vídeo que apresentou a trajetória de Esquinas.

Bloco 1: O documentário como produto jornalístico

• Conversa com Leonardo Brant

Leonardo Brant é documentarista e aborda temas como transformação social, cultural e ambiental. É diretor de filmes como ‘Comida para Quem Precisa’, ‘Varandas’ e ‘Descarte’. Além disso, já atuou como consultor em grandes veículos, como Rede Bandeirantes, ESPN e TV Cultura. Atualmente, lidera a produtora Deusdará Filmes, a plataforma Doc Station e a comunidade Doc Hub.

Durante a conversa, Brant se aprofundou na arte de ser documentarista. Segundo ele, um documentarista é, assim como um jornalista, um apurador de fatos — alguém que se apropria das histórias de outras pessoas e as conta sob sua ótica, seu entendimento e seu viés. A responsabilidade de transformar aspectos íntimos de pessoas, lugares ou épocas em uma obra, sem se desviar da verdade, é um enorme desafio.

“A pessoa está dando a vida dela nas minhas mãos. Eu poderia pegar aquelas informações, desviá-las completamente e contar uma história que deturpa a realidade daquele indivíduo. É necessário construir uma confiança muito grande com o documentarista para fazer as ideias saírem do papel.”

Apesar da constatação dos fatos, segundo Leonardo, os documentaristas se afastam do jornalismo tradicional, pois “não há aquela necessidade de ouvir os dois lados”. Os documentários não necessariamente precisam ser imparciais — muitas vezes, seu objetivo é justamente contar uma história a partir do ponto de vista de uma pessoa ou grupo.

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Leonardo Brant ressaltou a importância da confiança para contar histórias verdadeiras em um documentário. Foto: Sophia Lima
Foto: Sophia Lima

• Exibição de “Sozinhos: A Vila Cenográfica de Paranapiacaba”

Após a conversa com Brant, o evento contou com a exibição de estreia de “Sozinhos: A Vila Cenográfica de Paranapiacaba”, um documentário produzido por Esquinas ao longo de dois anos. O filme acompanha a difícil luta de uma comunidade para preservar a memória e o patrimônio cultural.

Os trens se foram, os turistas chegaram, mas os moradores agora se sentem abandonados pelo poder público. A história de Paranapiacaba está sendo apagada. O documentário busca ouvir os moradores e questionar o impacto do turismo predatório em seu cotidiano.

O documentário está disponível no Youtube de Esquinas.

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Bloco 2: Mesa-redonda – Os caminhos da reportagem

No segundo bloco, o evento contou com uma mesa-redonda formada por jornalistas com passagens por grandes redações e que já contribuíram para Esquinas. Durante o bate-papo, os convidados fizeram uma verdadeira viagem no tempo — relembrando o início dos estudos na área e chegando aos dias atuais, marcados pelo impacto das novas ferramentas de inteligência artificial no jornalismo.

• Trajetórias e escolhas profissionais

Marcelo Sakate, que passou pela Folha de S.Paulo, CNN e Exame Invest, e hoje é editor-chefe da Bloomberg Línea, e Mauro Albano, que trabalhou por 12 anos na Folha, onde foi editor-adjunto da Agência Folha e chefe de reportagem do caderno de política, compartilharam vivências que mostram como os caminhos da profissão podem ser moldados por escolhas inesperadas.

Albano contou que nunca teve interesse direto pela editoria de política, mas acabou se dedicando à área por conta das oportunidades que surgiram ainda na faculdade. “Fui aprendendo a gostar”, lembrou. Já Sakate revelou que, apesar da paixão por esportes, decidiu investir no jornalismo econômico ainda no colégio: “Achei que teria mais oportunidades profissionais nessa área”.

• Desafios contemporâneos do jornalismo

Marcella Centofanti, que já atuou como editora na Veja, Women’s Health e na plataforma Plenae, e atualmente é editora de saúde da Marie Claire, trouxe à tona os desafios contemporâneos do jornalismo, especialmente diante do excesso de informação e da desinformação. Para ela, é papel do jornalista “distinguir o que é confiável daquilo que só quer gerar cliques e impactar emocionalmente, sem compromisso com a verdade”.

Alessandro Jodar, que iniciou a carreira na TV TEM e há mais de uma década é repórter da TV Globo, com passagens pelo Hora 1 e Bom Dia São Paulo, comentou sobre as dificuldades de comunicar nas redes sociais. “A compreensão do público nem sempre corresponde à intenção da mensagem”. Para ele, o ambiente digital é um espaço de aparências, onde falhas de interpretação são comuns, exigindo ainda mais clareza e responsabilidade por parte dos profissionais.

• Um legado em constante transformação

O debate reforçou o papel de Esquinas como mais do que um projeto universitário: trata-se de um verdadeiro laboratório de formação que acompanha a evolução do jornalismo. Mesmo com o avanço das tecnologias e das novas linguagens, valores como apuração, responsabilidade e adaptabilidade seguem essenciais para quem deseja atuar na área. Ao celebrar seus 30 anos, Esquinas reafirma seu compromisso com um jornalismo ético, criativo e atento às transformações do mundo.

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O evento dos 30 anos de Esquinas reuniu jornalistas para debater o futuro do jornalismo e celebrar a trajetória do veículo. Foto: Sophia Lima
Foto: Sophia Lima

Bloco 3 – Encerramento

Ao final do evento, um bolo simbólico foi oferecido em comemoração aos 30 anos de Esquinas. A equipe e os convidados celebraram juntos esse marco tão significativo na história do veículo. O público também pôde aproveitar o momento para tirar fotos, conversar brevemente com os convidados e trocar impressões sobre as falas e experiências compartilhadas ao longo do evento.

Editado por Enzo Cipriano

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