Amapaense desabafa sobre crise no estado e relata descaso dos políticos
Renato Costa, arquiteto amapaense de 24 anos, estava saindo da academia quando presenciou o início do blecaute que viria a durar dias. “Aqui no estado é comum que falte energia e água, então a gente não estranha quando isso acontece”, diz. Por isso, ele conta que as pessoas não entraram em pânico logo no início. “Na manhã seguinte, eu acordei e ainda estava sem energia, eu ia trabalhar e não tinha sinal de celular, não tinha gasolina e estava sem notícias do trabalho. Foi aí que o caos começou a tomar conta”.
Desde o dia três de novembro, 13 dos 16 municípios do estado do Amapá estão sem eletricidade. O apagão ocorreu após uma tempestade seguida de incêndio em uma subestação de energia que abastece 90% do Amapá, e, segundo o governo estadual, trouxe prejuízos para 89% da população, cerca de 770 mil pessoas. Foram comprometidos o sistema hidráulico, o fornecimento de água potável e os serviços de telecomunicação, supermercados e hospitais amapaenses.
Renato conta que os momentos que vieram após as primeiras 24 horas do apagão foram muito impactantes: “A gente ficou em estado de choque também pela questão da pandemia, que está voltando a assombrar o estado. O que eu mais pensava era ‘meu Deus, como ajudar as pessoas?’”
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A situação provocou corrida por água, filas em mercados e postos de gasolina, uso de água da chuva e até mesmo do esgoto. “Eu particularmente tenho água em casa por conta do poço e consigo fazer minha higiene pessoal, mas muitos não têm. Crianças e mães com baldes estavam indo para dentro de lagos da cidade para fazerem o básico, em águas que inclusive são contaminadas, mas era o que tinha no momento. São cenas de horror”, relata o arquiteto sobre os últimos dias.
Para ele, a imprensa brasileira não repercutiu o suficiente o cenário caótico do Amapá. “A revolta é muito grande porque a mídia não ajuda. Passaram o dia todo cobrindo as eleições americanas e enquanto isso o aeroporto lotado, ninguém conseguia sacar dinheiro e só um dos shoppings estava funcionando. A gente mora às margens do maior rio em extensão do mundo. É muita água, mas a gente acaba ficando sem”, desabafa.
Além disso, o descaso do governo também preocupa e internautas pressionam nas redes com a campanha #SOSAmapa pedindo ações imediatas. As cidades passaram a funcionar com um sistema de revezamento de energia que demonstra falhas, e o cenário ainda é crítico. No dia 7 de novembro, a Justiça determinou que a empresa responsável, a Isolux, resolvesse a situação até hoje. Ontem, o presidente Bolsonaro, que demorou a se pronunciar sobre o assunto, afirmou que a situação só deve voltar à normalidade em nove dias, e que a energia no Amapá “não é responsabilidade do Estado nem da União”.
“Estamos vendo cenas que pensamos que nunca iríamos ver. A gente é isolado do Brasil inteiro”, diz o amapaense. “O maior horror de todos é que a gente não via pronunciamento de políticos, a própria rádio não conseguia falar com eles para saber o que iria acontecer nos próximos dias”, completa, indignado.
Motivados pela crise no estado, moradores têm ido às ruas protestar, principalmente na capital, Macapá. Segundo a Polícia Militar, já foram registrados mais de 40 protestos. Renato ainda ressalta a união entre os amapaenses, essencial para superar este momento com troca de água e de informações. “A gente abre o poço, puxa água e leva para os vizinhos que não têm água pra cozinhar e tomar banho. Uma amiga estava sem notícias da família dela desde terça e hoje eu consegui mostrar áudios para a família dela, que mora aqui perto”.
Como ajudar?
S.O.S Apagão Amapá
SOS Macapá