No começo da carreira, Mila conta como pretende atingir as pessoas com sua rima
O rapper Sabotage, que foi assassinado em 2003, dizia que “O rap é compromisso”. Ele como um grito de manifestação. Uma voz vinda das minorias, daqueles que querem expressar o que muitas vezes os oprimiu. Mila aparece nesse cenário, dando os primeiros passos rumo a seu maior sonho. “Eu já sabia que queria ser cantora. É meu sonho e eu sabia que realizaria. Um amigo me disse uma vez: ‘A gente sabe, só que não sabe’”.
Camila Neves, 18 anos, mais conhecida como Mila, vê Mano Brown, do grupo de rap brasileiro Racionais MC’s, como uma inspiração. Saindo do Rio de Janeiro em direção ao Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, a jovem rapper buscava encontrar aquele que escrevia versos que “só quem já sentiu na pele entende”.
“O Brown é minha maior inspiração, tanto como pessoa quanto como artista. Tiro das mensagens dele a realidade e os desafios que só quem já sentiu na pele entende”, conta. Quem conhecia Mila e suas apresentações nas ruas do Rio de Janeiro, sabia que ela queria mostrar sua arte para o ídolo.
E o encontro de fato aconteceu. A carioca apresentou a ele “Mais um dia”, seu primeiro single. No dia, Mano Brown estava com produtores que gravavam o clipe do Mc Leozinho. A apresentação de Mila foi filmada e postada no perfil oficial do rapper, batendo um milhão de views em poucas horas. Em seu Instagram, ela contou como foi a experiência:
“Sair de casa sem saber exatamente para onde ia, mas não sem saber o que fazer. Eu cantaria minha música pra São Paulo inteiro pra que pelo menos um diazinho dos 80 anos de vida que tenho pela frente, ela pudesse chegar até você. Você foi o primeiro rap que ouvi, apresentado pelo meu falecido tio e quando ouvi a sua voz, vi que você era um soldado da fé. Obrigado por não se importar com o meu pé preto ou minha roupa suja. Obrigada por dar mais valor ao que vinha de dentro e o que eu tinha pra mostrar e não às coisas materiais. Foi muito bom te contar tudo olhando no teu olho porque você é guerreiro e me entende, tamo junto!”.
O momento foi uma virada de chave para ela, que descreveu o encontro como algo inesquecível e emocionante. “Me fez acreditar ainda mais no meu sonho, sei que ainda tenho muito trabalho pela frente”.
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A música apresentada a Mano Brown é seu primeiro trabalho produzido de forma profissional. “Eu amo a música e todo dia aprendo mais sobre ela. Daqui a alguns anos, quero responder mais precisamente sobre minha história no rap, ainda estou me descobrindo e quero escrever uma bela história”, diz.
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“As mulheres estão assumindo seu espaço. Na música não seria diferente”
As dificuldades enfrentadas por mulheres no meio musical são imensas: “Esses dias, me lembro de ter visto um comentário no meu post, onde o maluco dizia ‘mulher não sabe rimar‘”.
Tendo Dina Di como inspiração feminina, Mila reconhece o machismo a que são submetidas e a luta constante das mulheres para terem seu espaço reconhecido dentro da rima. A ídola, vocalista do grupo Visões de Rua, foi uma das primeiras vozes femininas a entrar em cena no rap brasileiro. Falecida em 2010, ela deixou para as mulheres a mensagem de que elas podem chegar ao topo, combatendo um sistema que sempre silenciou suas semelhantes.
“Estamos lutando pelo nosso espaço, ocupando mesmo que ele não seja dado”, reflete Mila. Segundo ela, as mulheres não precisam da permissão de ninguém, ainda que “a sociedade não valorize nossos corpos, o que não é novidade”.
Para o futuro, ela espera ver as pessoas cantando, aprendendo e sendo impactadas por sua música e poesia. “Pretendo cantar as coisas certas para atingir as pessoas certas, buscando sempre que façam as coisas certas”, diz.
Ela finaliza com uma mensagem para as garotas que querem seguir carreira no rap: “O rap é uma arma, a sua história é uma arma, sua poesia é a bala e a fé é o gatilho, o que não falta para as mulheres é munição”.