Com discurso de Lula, "Bolsonaro recebe golpe e passa recibo", diz professor da Cásper - Revista Esquinas

Com discurso de Lula, “Bolsonaro recebe golpe e passa recibo”, diz professor da Cásper

Por Pedro Consoli : março 15, 2021

Alexander Hilsenbeck diz que ação e discurso de Bolsonaro são confusos e fragmentados, cujas peças formam um “boneco lego” da forma que mais convém àquele que o monta. A análise faz parte do “Observatório da Pandemia” da Cásper Líbero.

Após o dia 10 de março, Jair Bolsonaro (sem partido) e seus filhos alteraram seus discursos e posturas sobre a pandemia no Brasil. Esse mesmo dia foi quando do ex-presidente Lula fez um discurso na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP).

Segundo Alexander Hilsenbeck, doutor em Ciências Políticas pela Unicamp e professor da Faculdade Cásper Líbero, bastou um discurso “acertado e bem calibrado” do ex-presidente Lula para fazer com que o Governo Federal “recebesse o golpe e passasse o recibo, ou seja, não convocassem nenhum Ministro para dar uma contrarresposta. O próprio Presidente tentou passar a mensagem de que se importava com a pandemia”.

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Apesar disso, o cientista político adiciona que o pronunciamento de Lula não foi o único motivo para essa alteração: “Há uma conjunção de diversos fatores, que envolvem o Lula e o discurso dele, mas também envolve uma análise das recentes pesquisas de opinião, onde mostram que não só o ex-presidente, mas também outros candidatos, têm a preferência da população caso as eleições fossem hoje”.

Pressão pública no discurso de Bolsonaro

Para Hilsenbeck, o governo Bolsonaro é muito suscetível a pressões da opinião pública, algo que foi provado quando o Presidente e sua família retomaram sua postura usual após sua base ver o novo discurso como manifestação de fraqueza e temor da força política de Lula.

Essa maneira de discursar da família Bolsonaro é algo que Hilsenbeck vê como tática de comunicação: “Eles vão jogando uma forma de confusão dentro do próprio discurso. Ele traz uma certa ambiguidade, ‘um disse que não disse’, ‘que era isso, mas não foi bem isso’, então eles conseguem manejar seu discurso para setores diferentes da população. Fazem um direcionamento melhor da sua comunicação para vários setores da população através de diversos meios comunicacionais”, diz.

Com isso, as frases e citações da família Bolsonaro são de variedade imensa e, mesmo que contradigam umas as outras, cobrem um imenso escopo de opiniões. Isso permite a população, nas palavras do professor, montar “um boneco de Lego [de Jair Bolsonaro] da forma que mais lhes aprouver”. Cada setor da sociedade vê o Presidente da República – e, por conseguinte, sua família – de uma forma diferente.

Ao ser perguntado se a mudança no discurso dos Bolsonaro era apenas mais uma peça para o “boneco de Lego”, Hilsenbeck disse: “Eu acho que sim, infelizmente sim. […] Ele aposta num discurso do caos e um discurso da morte também, porque para as parcelas da população que não tem nenhum tipo de renda, decretar por duas semanas o fechamento do comércio para quem já enfrenta há um ano uma série de dificuldades, pode significar uma situação muito calamitosa, de muito sofrimento, de muito desespero. Então o Governo Federal joga com essas questões, trabalha junto com esse sentimento”.

Isto posto, diferentemente da adesão ao uso de máscaras e ao distanciamento social, a postura pró-vacina não retrocedeu de ontem para hoje. Tanto Flávio quanto Eduardo Bolsonaro – que, inclusive, já haviam dito que não se vacinariam – postaram tweets com os dizeres: “nossa arma é a vacina”.


Para Hilsenbeck, isto se deve, novamente, à susceptibilidade do atual Governo Federal à opinião pública: “Se houver uma oposição consistente, tanto de centro-esquerda quanto de centro-direita, se os governadores começarem a atuar de forma mais efetiva na aquisição de vacinas, se tiver uma campanha massiva para isso, eu acho que o governo também vai cedendo neste ponto. O Governo vai se movendo a partir da mobilização dos outros atores.”

A administração de Jair Bolsonaro rege o país “na base do susto”, isto é, “enquanto a oposição ficar quieta ou ficar preocupada apenas com cargos em comissões, o Governo vai continuar sentado nas possibilidades de solução dessa pandemia que a gente têm enfrentado. É bom para o jogo democrático que tenhamos mais forças que façam essa oposição, essa pressão no Governo para que ele possa se mover também”, completou Hilsenbeck.

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