Jornalista critica manutenção do futebol durante o pior momento da pandemia e defende que paralisação seria mensagem social
Comércios fecharam, escolas e serviços foram paralisados e a economia desabou. Apenas o mundo futebolístico recusa se adaptar à atual situação mundial — e, por isso, é alvo de críticas. “O futebol se mostra indiretamente responsável por mortes na pandemia por essa postura ora negacionista, de relativização, ora mercantilista, de manter o sustento e a permanência da atividade com o mesmo formato de um tempo sem pandemia”, afirma o jornalista Breiller Pires, comentarista dos canais Disney no Brasil e editor-chefe da Minute Media.
De forma direta ou indireta, o contágio pela doença, dentro e fora de campo, é inevitável. Mas apesar de estar dentro do grupo de serviços não essenciais, o futebol nacional se comporta como exceção e mantém suas atividades no pior momento da pandemia.
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Escanteio para o futebol nacional
O esporte mais popular do mundo molda o calendário brasileiro e, especialmente em tempos de isolamento social, atua como válvula de escape para grande parte da nação. O papel do futebol, para a maioria da população, é entreter. Porém, para um pequeno grupo, o esporte é um negócio. E sua paralisação trouxe prejuízos financeiros sem precedentes, deixando até mesmo clubes com maior poder aquisitivo, como Palmeiras e Flamengo, no vermelho.
Depois de parados durante quatro meses, os campeonatos estaduais de 2020 foram retomados de forma artificial e forçada. A necessidade de continuar a girar a roda do universo milionário do futebol se tornou prioridade, enquanto milhares de comércios fecharam suas portas, respeitando as medidas de restrição para conter a pandemia.
“A volta do futebol no ano passado estava indo na contramão e dando um mal exemplo para a sociedade como uma atividade não essencial que voltou numa hora inadequada”, opina o jornalista.
Para Breiller, é difícil que o futebol dê o exemplo no combate à crise sanitária, mas “a paralisação seria uma mensagem social bem representativa, visto que boa parte do País já normalizou o número de casos e mortes pela covid-19”.
Matou no peito
Não é exagero considerar que o futebol teve participação nas mais de 300 mil mortes de brasileiros pelo vírus. Mesmo alegando seguir os protocolos de segurança, a maioria dos clubes brasileiros tiveram casos de covid-19 em seu elenco e comissão técnica, colocando o andamento e a qualidade do próprio campeonato em jogo.
“O futebol ajudou a matar muita gente no Brasil. Há uma grande mobilização de profissionais para que aconteça uma partida de futebol, acabando com que a doença tenha mais um caminho de contaminação”, diz Breiller. Renê Weber, ex-jogador e assistente técnico do Botafogo; Marcelo Veiga, técnico do São Bernardo, e o presidente da Chapecoense, Paulo Magro, são algumas das vítimas da covid-19 no meio futebolístico.
Surtos da doença se tornaram mais comuns dentro de grandes clubes, e aglomerações de torcedores – muitos sem máscaras – em porta de estádios ou em recepção das delegações em aeroportos, contribuíram para a disseminação da doença.
De acordo com Breiller, o futebol precisa mudar o seu formato e se adaptar, como todos os outros setores foram obrigados a fazer. “Precisamos de ideias novas, não podemos realizar campeonatos nacionais, no máximo regionais, com sede única, com concentração e testagem, como a NBA fez”.
Prorrogação
A situação atual da crise sanitária levou, novamente, à paralisação de alguns campeonatos estaduais, como o paulista e o paranaense. O governador João Doria proibiu a realização de partidas no estado de São Paulo, e a Federação Paulista de Futebol recorreu a outros estados onde os campeonatos continuam para realizar seus jogos, a fim de impedir eventuais adiamentos.
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