Em entrevista ao CAVHCAST, especialista em comunicação e mídia fala sobre educação, aceleração da vida e cenário atual do jornalismo
“A pandemia acentuou um processo que já estava acontecendo há anos: a sobreposição cada vez maior entre os tempos da nossa vida”. É assim que Luis Mauro Sá Martino inicia sua entrevista ao CAVHCAST, programa do Centro Acadêmico Vladimir Herzog, da Cásper Líbero. O professor, pesquisador e jornalista afirma que já não existe uma grande distinção entre o lazer e o trabalho, pois estamos concentrando tudo diante das telas.
O resultado dessa nova configuração, segundo ele, é uma “aceleração da nossa vida diária”. Martino lembra que, mesmo nas redes sociais, quando estamos vendo algo, novas postagens já estão sendo feitas: “Enquanto se está no presente – um que é sempre eterno e atualizado na tela do seu smartphone –, já se está atrasado. É por isso que estamos sempre cansados.”
Para o professor, a crise da covid-19 inflou processos que já afetavam a sociedade. Ele se diz preocupado com a pressão que é colocada sobre os jovens e que acaba criando problemas de insegurança. “A ideia de lembrar que a vida não tem um projeto prévio é ressaltar a liberdade que se tem de escolher, dentro das circunstâncias em que se encontra”, afirma.
Ainda sobre a conjuntura atual, o jornalista comenta que as redes sociais e as diferentes mídias perpetuam um conceito que existe desde a criação da televisão: a espetacularização da violência. Isto é, a ampla divulgação de imagens e cenários de brutalidade como forma de entretenimento.
“O problema disso é acabar colocando coisas com importâncias muito diferentes na mesma linha, como se tivessem o mesmo valor. Pegamos uma situação de extrema violência e apresentamos dentro da mesma lógica de uma competição, uma série ou um reality show”, aponta Martino. “Por outro lado, a circulação dessas imagens também pode ter um impacto positivo ao mostrar aquela situação para mais gente”.
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Luis Mauro Sá Martino: Desafios dos comunicadores
“O trabalho da mídia, nesse sentido, é muito complexo”, diz. Ao comentar o crescimento das fake news e do negacionismo, o professor afirma que existe um problema na comunicação do mundo atual. Mas a questão vai além disso: “Muitas vezes, não confiamos naquilo que está diante de nossos olhos, e sim naquilo que queremos acreditar. Por mais que nos apresentem evidências e dados, não têm efeito. Isso porque nos apegamos tanto a nossas verdades que não existe fato que possa desafiá-las”.
Segundo ele, mesmo que atualmente as pessoas tenham maior acesso à informação, isso não significa que elas terão maior compreensão das coisas, já que informação não é conhecimento. “Temos uma tendência a tomar como verdade aquilo que reforça nossas crenças e a olhar com desconfiança ou até mesmo rejeitar aquilo que vai contra as nossas concepções.”
Martino também aborda a dificuldade do jornalismo em conciliar a transmissão com a humanização da informação, em especial quando se trata das vítimas da covid-19. “É importante sabermos os números. Tem um momento em que precisamos dar a informação curta e a notícia. Mas também tem espaço para a reportagem, para contar histórias de vida. Para lembrar que esses números são pessoas”, diz.
Para ele, o trabalho de tratar uma fonte como pessoa e não apenas como fruto da informação é essencial, não só para os entrevistados, mas também para os jornalistas. “Cada vez que eu retiro a humanidade do outro e o trato como coisa, eu também perco um pedaço da minha humanidade”, explica.
Luis Mauro Sá Martino: Educação na pandemia
“Mais do que qualquer outra coisa, a aula é um acontecimento de comunicação”, diz Martino. Como professor universitário, ele conta que a chegada da pandemia foi um desafio para o ensino. Mas acredita que, independente do modelo, o segredo de ensinar é aprender a compartilhar a linguagem dos alunos.
“A aula precisa se dirigir a quem está ouvindo, e para isso precisamos falar a mesma língua. Isso significa pensar em uma posição de igualdade e lembrar que o aprendizado acontece no diálogo”, diz.
Para Martino, a sala de aula é um espaço de subjetividade e encontro de diferentes vivências: “A pergunta que faço ao entrar em aula é: ‘Como posso conversar com esses 40 universos e compartilhar o amor pelo conhecimento?’”
Para assistir à entrevista na íntegra, acesse o link.