Disputando a atenção com as obras do interior do museu, músicos, poetas e artesãos do vão do MASP tentam viver da arte em São Paulo
Na avenida mais movimentada do Brasil, entre carros e edifícios, também existe lugar para a arte. O espaço cultural mais icônico da cidade, afinal, fica localizado na Paulista. Quem visita o Museu de Arte de São Paulo (MASP) vai em busca de arte, porém, em alguns casos ela só é reconhecida no piso de cima.
As terças-feiras, quando a entrada é gratuita, se formam filas enormes de apreciadores culturais em frente ao museu. Enquanto aguardam para observar um dos acervos mais importantes do Brasil, algumas outras obras vão até eles ainda na fila, como as pulseiras artesanais de Marcos Vinicius, artista independente de 48 anos.
Nascido na Bela Vista, o artesão vai até o vão do MASP para vender suas obras feitas de fios de cobre. Marcos não estipula valor às peças, a contribuição é dada de acordo com o que cada cliente acha justo pelo trabalho. Para ele, ser artista é mais do que um “ganha pão”, é um estilo de vida. Por meio de seus vários talentos, que vão desde as pequenas esculturas de metais até poemas autorais ou canções na flauta transversal, já conheceu 46 países. “Arte é quando eu passo o que eu penso para algo”, concluiu.
Outro artista que podemos encontrar no vão é o rapper Alexandre Bane, de 45 anos. Para realizar seu sonho de cursar gastronomia, o cantor vende seu CD autoral, Do Papelão à Reação, estrategicamente toda terça-feira no MASP, dia em que o museu recebe mais público.
Alexandre fez do disco sua fonte de renda e esperança. Em situação de rua desde os 14 anos, aos 21 anos encontrou na música uma oportunidade. Quem o incentivou a começar a escrever canções foi um companheiro das ruas. “Seu caderno? Você ‘tá’ deitado em cima dele”, disse o amigo. A partir daí, Alexandre foi conquistando espaço e conseguiu gravar seu álbum. “Esse CD ele já me deu o maior presente: pôs minha filha na faculdade”, ele conta.
Devido a suas experiências no local, Alexandre sabe bem como lidar com o público, dos mais indiferentes aos mais receptivos. “Tem aquela pessoa que tá afim de ouvir a tua história, tem aquela pessoa que tem uma história pior que a sua, tem aquela pessoa que não tem uma história. Mas é aquilo, a gente trabalha com o público em geral né. Então ‘nóis tá’ acostumado a ver e ouvir de tudo”, contou.
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Muito da indiferença vem do medo das pessoas de serem abordadas por, até então, estranhos em um local público. Consequentemente, o talento de diversos artistas acaba sendo ignorado.
“Tem como ponderar, você consegue sentir quando a pessoa tem uma boa intenção e quando não tem. Um vendedor de livro chegou em mim e minha primeira reação foi o susto. Ele teve uma abordagem diferente pra me acalmar e me fazer querer ouvir o que ele tem pra falar”, comentou Ivy Soverai, de 21 anos, visitando o MASP pela primeira vez.
“Na hora que eu entrei na fila, um senhor veio falar comigo e mostrar o livro dele, que ele escreveu. Contou toda a história e o processo da escrita dele. Bem legal e me interessei em comprar pra ler depois”, afirmou a turista curitibana.