Fórmula 1: sem brasileiros no grid, modalidade ainda tem futuro no país? - Revista Esquinas

Fórmula 1: sem brasileiros no grid, modalidade ainda tem futuro no país?

Por Julia Fratti (1ª ano) : maio 6, 2023

Grande Prêmio de Interlagos em 2007. Reprodução: Morio / Wikimedia Commons

Sem brasileiros no grid da Fórmula 1, o Brasil anseia por futuras vitórias na categoria para atrair de volta o público aos domingos de Interlagos

O Brasil possui uma história fascinante na Fórmula 1, dando início em 1956, quando o brasileiro Chico Landi foi o primeiro piloto a ter a oportunidade de guiar um carro de F1. Entretanto, a relação de sucesso entre a categoria e o país foi se perdendo durante os anos e hoje o espaço no mercado automobilístico é defasado pela falta de representatividade brasileira no grid.

Senna: herói nacional

Quando pensamos no automobilismo brasileiro é involuntário que Ayrton Senna seja recordado em nossas mentes, o piloto é considerado um dos melhores da F1 mundial, além de popularizar o esporte no Brasil. Na década de 90, quando Senna era um dos principais nomes da categoria e brigava por títulos, a audiência da corrida chegava a ficar entre 40 a 50 pontos, conforme o Ibope. Até as transmissões de madrugada tinham índices acima da média, chegando a bater 25 pontos.

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Ayrton Senna durante o treino livre no GP da Inglaterra em 1993.
Reprodução: Picasa / Flickr

Porém, a figura de herói nacional que lhe foi atribuída não se deve somente ao talento nas pistas, mas também ao impacto social que à influência do piloto gerou em milhões de brasileiros que o acompanhavam aos domingos. Em 1980, o Brasil passava por uma carência no esporte, e a figura de Ayrton surgiu como forma de orgulho nacional. A revista O Globo realizou uma pesquisa em 1991 em que 39,46% dos leitores consideravam Senna, o maior ídolo do esporte brasileiro.

“O Senna foi crescendo dentro dessa época em que o Brasil estava precisando de uma referência no esporte, já que a seleção brasileira não vinha de bons resultados no futebol”, comentou Isamara Fernandes, repórter do Motorsport Brasil.

Fórmula 1 – 2008

A edição de 2008 foi a temporada em que o piloto Felipe Massa esteve mais próximo de conquistar o título da Fórmula 1. O brasileiro ficou perto de se tornar campeão mundial, mas perdeu a chance após Lewis Hamilton ultrapassá-lo na reta final. Esse foi um dos momentos mais frustrantes aos fãs brasileiros de automobilismo que sonhavam com esse título pós a era Senna.

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O piloto Felipe Massa no pódio em 2008 após o GP do Brasil.
Reprodução: diogo dubiella / Wikimedia Commons

Após o fim do campeonato, muitos espectadores pararam de acompanhar a Fórmula 1, fazendo com que a audiência diminuísse. Em 2011, o portal UOL divulgou que em 2008, quando Massa era candidato ao troféu, a audiência teve uma média de 17 pontos, enquanto em 2009 essa média diminuiu para 15 pontos.

A temporada de 2008 voltou à tona em abril deste ano com a descoberta de um dos maiores escândalos da Fórmula 1, o Singapuragate. Essa investigação pode alterar os títulos que o Brasil tem na Fórmula 1, assim, Massa se tornaria campeão mundial da categoria.

“Acho que tiraria o peso das costas do Brasil, mostraria que o país ainda tem pilotos de grande escalão capazes de conquistar um título.”, comenta Fernandes.

Drive to Survive: bastidores da F1

Em 2019 foi ao ar a 1ª temporada da série Drive to Survive, que contava sobre a temporada de 2018 da categoria. O programa fez um grande sucesso no mundo inteiro, entretanto, diversos fãs não aceitaram o conteúdo entregue pela Netflix.

“A série não é ideal para as pessoas da bolha da Fórmula 1, não serve para quem curte corrida, porque os pilotos são personagens, é algo roteirizado.” disse Rafael Lopes, comentarista de automobilismo da Globo.

Por mais que a série não tenha agradado os fãs heavy user – aqueles que acompanham minuciosamente toda a temporada – os episódios atingiram a função principal de atrair público para a Fórmula 1. Em 2022, a organização confirmou que mais de 236 mil pessoas estiveram no Grande Prêmio de Interlagos, um aumento de 28% em relação a 2021, que contou com 181 mil.

O programa traz um conteúdo que te convida a assistir mais episódios e que instiga a acompanhar as temporadas da F1, isso se deve muito às imagens e intrigas dos bastidores captadas pela Netflix. O que acaba por atrair o público mais jovem para a categoria, já que veem uma série no catálogo do streaming e surge o interesse em assistir. Isso se torna mais perceptível na pesquisa feita pela Fórmula 1 em 2021, onde 40% do público consumidor está na faixa etária dos 16 aos 24 anos, o que só mostra como o esporte está conquistando os jovens.

“Vejo que no Brasil a série cumpriu a função de atrair os jovens, trazendo esse ar de rejuvenescimento da Fórmula 1”, explica a repórter do Motorsport.com Brasil.

Audiência em escada

Antigamente a grande audiência da televisão se devia muito mais à pouca opção de entretenimento, do que propriamente o conteúdo em si. Isto é, nas décadas de 70, 80 e 90, as pessoas passavam mais tempo na tv naturalmente, fazendo com que acompanhassem mais a Fórmula 1, dessa forma, muitos brasileiros passaram a se interessar pelo esporte e a criar vínculos com alguns pilotos. Porém, com o passar dos anos, começaram a surgir outras opções de difusão da comunicação, como a TV à cabo, a internet, os streamings, gerando uma dispersão do público aos canais abertos.

“A curva de audiência na televisão foi impactada pelo avanço da tecnologia, assim que passa a ter mais opção, automaticamente passa a ver menos televisão, não só no esporte, mas em praticamente tudo.”, comenta Lopes.

Atualmente, o que mais interfere na audiência da Fórmula 1 no país, é a falta de representatividade brasileira. O público nacional tem um sentimento de patriotismo quando envolve esporte, exemplo disso são as Olimpíadas, onde brasileiros torcem por alguns atletas e mal sabem as regras daquela modalidade. Quando um brasileiro passa a dominar um esporte, atrai uma mídia que possivelmente não existia antes, e na Fórmula 1 isso não é diferente. O automobilismo é um esporte que raramente ultrapassa sua bolha.

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Brasileiros no grid

O último piloto que correu integralmente no grid da Fórmula 1 foi Felipe Massa em 2017, a partir daí o Brasil só teve Pietro Fittipaldi, que substituiu o titular da escuderia Haas, Romain Grosjean nos Grande Prêmios de Sakhir e Abu Dhabi. Desde então só se vê brasileiros em outras categorias do automobilismo, mas não chegando ao nível principal como acontecia em anos anteriores.

A entrada para a F1 não é um caminho fácil, e pelo automobilismo brasileiro ter estado fora do radar nos últimos anos, com poucos patrocinadores, a jornada para entrar na categoria se torna cada vez mais complicada. A maioria dos jovens pilotos do grid atendem aspectos para ocuparem essa vaga, como: estar no lugar certo, possuir muito dinheiro, ter uma boa gestão, além de conter o talento natural. O Brasil tem diversos pilotos que cumprem todas ou a maioria desses requisitos que os ajudariam a entrar na Fórmula 1.

De exemplo, temos o piloto Felipe Drugovich que foi campeão da Fórmula 2 em 2022 e este ano é piloto reserva da escuderia Aston Martin. Drugovich tem um talento para as categorias, já que liderou a temporada e hoje integra a equipe britânica, conquistando patrocínios como, o da XP Investimentos e da PortoSeguro. Porém, o brasileiro entrou na categoria em um momento em que nenhum dos pilotos titulares está em fim de contrato, diminuindo a sua chance de estrear pela Fórmula 1.

Outro exemplo é o piloto Gabriel Bortoleto, atual líder do campeonato da Fórmula 3. Bortoleto vem mostrando bons resultados na categoria e conta agora com o apoio da empresa de Fernando Alonso, piloto da Aston Martin.

Editado por Ronaldo Saez

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