"É uma representação de justiça", diz diretor de fotografia de 'Argentina 1985' - Revista Esquinas

“É uma representação de justiça”, diz diretor de fotografia de ‘Argentina 1985’

Por Rodrigo de Andrade Alves : março 8, 2023

40 anos depois da queda da ditadura militar, o filme ‘Argentina 1985’ cativa o Oscar 2023; confira a entrevista com o diretor de fotografia do longa

Entre os meses de abril e dezembro de 1985, após dois anos da queda do regime militar argentino, responsável por inúmeras denúncias de crimes de tortura e perseguição, o julgamento responsável por punir militares culpados por esses respectivos crimes aconteceu por liderança do promotor chefe Julio César Strassera. 39 anos após o fim da ditadura militar, o filme “Argentina 1985”, dirigido por Santiago Mitre e estrelado por Ricardo Darín e Peter Lanzani, se mostra como notável projeto sobre o acontecimento histórico vencendo o Globo de Ouro como Melhor Filme Internacional e chega como forte candidato para a mesa categoria no Oscar 2023.

Após a apresentação de sucesso no Festival de Veneza, “Argentina 1985” se consagrou como um dos mais bem avaliados longas-metragens lançados em 2022, tendo alta performance entre os circuitos de premiações mundiais do cinema e gerando discussões sobre o tema abordado em meio aos amantes de história e cinema.

Em entrevista exclusiva para ESQUINAS, o diretor de fotografia do longa, Javier Juliá, deu o seu depoimento sobre a produção do sucesso mundial. Javier nasceu em Tucumán na Argentina em 1970, já tem mais de 25 anos de carreira e acumula alguns prêmios e diversas indicações por seus trabalhos em filmes e séries de televisão.

O estrangeiro no Oscar

No Oscar 2023, “Argentina 1985” conquistou uma indicação na categoria Melhor Filme Internacional, com a cerimônia no dia 12 de março, Javier conta sobre suas expectativas em relação à premiação.

Argentina 1985

Javier Juliá, Diretor de fotografia do filme “Argentina 1985”
Reprodução / Instagram @eljavierj

“Esse ano temos candidatos muito fortes, é difícil afirmar quem vai levar o prêmio”, diz. “A academia vem mudando muito ao longo dos últimos vinte anos, existem exemplos claros disso, como a vitória do filme coreano ‘Parasita‘ em diversas categorias, entre elas a categoria principal de melhor filme, este ano também temos ‘Nada de novo no front‘, filme alemão, disputando a categoria principal: Melhor Filme. Portanto, é clara a visibilidade que a academia tem dado para os filmes estrangeiros e isso é muito positivo”.

A Argentina já conta com dois filmes vencedores do Oscar em Melhor Filme estrangeiro: ‘O Segredo dos Teus Olhos’ (2010) e ‘A História Oficial’ (1986), curiosamente o vencedor da edição de 1986 traz o mesmo cenário do indicado deste ano, também trabalha uma narrativa relacionada aos problemas deixados pelo regime ditatorial militar argentino, existindo assim a possibilidade de a academia ter de premiar uma abordagem crítica ao regime militar argentino pela segunda vez e premiar um projeto argentino pela terceira vez.

Veja mais em ESQUINAS

De Pinheiros à Bela Vista, conheça a rota dos cinemas de rua em São Paulo 

Boca do Lixo: Como império cinematográfico dos anos 60 virou a cracolândia

“A gente sabe tudo sobre Luther King, mas nada sobre Luiz Gama”, diz Jeferson De, diretor de Doutor Gama e M8

Argentina 1985 nos dias atuais

Javier comenta, entre outras diversas ideias, sua visão e opinião perante a situação política de países como Brasil e Argentina, e como acredita que o filme pode ajudar na função de conscientizar o povo. “É importante informar as pessoas que não vivenciaram aqueles anos na Argentina, pois o fascismo mudou, mas não desapareceu”, declara o diretor de fotografia.

“Veja exemplos claros, olhe para a Europa, olhe para os Estados Unidos de Trump, com vocês no Brasil de Bolsonaro, e agora fortemente também presente na Itália”. Javier não poupa detalhes quanto sua insegurança para com a ascensão do fascismo nos últimos anos, sendo assim, o mesmo declara que acredita que ‘Argentina 1985’ faz um trabalho muito importante informando o povo dos riscos de ideologias e regimes predatórios como o que regeu a política argentina durante quase uma década.

Argentina 1985

Mãe da Plaza de Mayo Linha Fundadora – Mãe de Luis, Claudio e Lila Epelbaum vítimas da ditadura militar argentina
Mónica Hasenberg (CC BY-SA 4.0) Wikimedia Commons

O cineasta frisa a importância da abordagem da justiça no projeto: “’Argentina 1985′ não é apenas uma representação histórica, é também uma representação da justiça”, visto que muitos países regidos por regimes militares ditatoriais, como o caso do Brasil, não puniram os criminosos responsáveis pelas perseguições e torturas durante os anos de ditadura. Javier constata que o filme pode influenciar nos atos pela justiça.

“Acho importante as pessoas se conectarem com a narrativa e os personagens que o filme traz, mas mais do que isso esperamos conscientizar quem foi tocado pelo filme que vivemos um período muito delicado e devemos lutar pela democracia e pelos nossos direitos, pois os mesmos podem estar em risco”, finaliza.

‘Argentina 1985’ foi lançado mundialmente pela plataforma de streaming Amazon Prime e está disponível para todos os assinantes.

Editado por Nathalia Jesus

Encontrou algum erro? Avise-nos.