"É o que eu chamo de um espaço de liberdade": conheça os relatos sobre o CCSP 40 anos - Revista Esquinas

“É o que eu chamo de um espaço de liberdade”: conheça os relatos sobre o CCSP 40 anos

Por Isadora Costa, Julia Bonin e Lorena Lindenberg : maio 13, 2022

Mesas para uso público na biblioteca. Foto: Julia Bonin/Revista Esquinas

Frequentadores e funcionários relembram histórias marcantes no aniversário de 40 anos do Centro Cultural São Paulo

O Centro Cultural São Paulo (CCSP) completa hoje, 13 de maio, 40 anos de existência. Nessas quatro décadas, foi palco de milhares de manifestações artísticas, com exposições, peças teatrais, ensaios, intervenções, shows e todo tipo de arte.

Sua construção foi iniciada ainda na década de 70 com o propósito da criação de um espaço que promoveria a urbanização da região da Rua Vergueiro. Porém, o projeto foi cancelado, restando do plano original somente a criação da biblioteca pública, a qual tinha como objetivo principal o fornecimento da livre informação à sociedade.

Vale ressaltar que a construção do Centro Cultural foi feita nos últimos anos do regime militar no Brasil. A ideia era ter um espaço de liberdade, que promovesse o encontro de pessoas com a arte em suas mais diversas dimensões.

Após três anos de obras, em 1982, o Centro Cultural São Paulo foi finalmente inaugurado. A demora para a conclusão pode ser justificada com a complexidade da nova arquitetura implementada, além do desafio de armazenar toda a diversidade da identidade cultural brasileira em um só lugar. Lá, é possível encontrar manifestações artísticas de todos os tipos, cobrindo desde a cultura popular até a erudita, representando a heterogeneidade do público que o frequenta.

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Parte interior do Centro Cultural São Paulo.
Júlia Bonin/Revista Esquinas

Nas memórias da biblioteca do CCSP

Cristina Barroso Alves, 60, trabalha na biblioteca do CCSP há sete anos. Apaixonada pelo espaço desde que era jovem, ela conta que tem um carinho muito grande pelo local por ser um “espaço cheio de vida”.

Apaixonada pelo atendimento ao público, principalmente pela troca de histórias e vivências que ele proporciona, Cristina conta que já passaram por ela moradores de rua, refugiados, estudantes, professores universitários, aposentados e atrizes de cinema — um público extremamente diverso, um dos diferenciais do Centro Cultural São Paulo – “Eu acho que a riqueza está nisso: por serem pessoas diferentes, não é uma bolha”, relata a bibliotecária.

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Entrada da biblioteca.
Júlia Bonin/Revista Esquinas

“É o que eu chamo de um espaço de liberdade: sempre cheio de vida, pessoas dançando e treinando instrumentos, todo mundo fica à vontade, as pessoas se sentem como se estivessem em casa”, acrescenta Cristina.

Carlos Santiago é auxiliar na biblioteca e diz que costuma observar no seu dia a dia pessoas de classes sociais das mais diversas em busca de uma boa leitura. O acervo de mais de 10 mil exemplares do local é um dos poucos no centro da cidade que permite o empréstimo de livros sem nenhum custo.

Além disso, segundo ele, há um grande movimento dos visitantes assíduos que vão até o CCSP para ler as notícias e revistas do dia. Uma dessas pessoas é José Gutemberg Ferreira, de 69 anos, que visita o local de três a quatro vezes na semana.

José conta que fica no centro cultural do período da manhã até a hora do almoço, e aproveita o espaço para se informar através dos jornais, principalmente sobre política: “Hoje, como estou aposentado, consigo vir mais. Quando tinha shows, eu vinha muito aqui, também ia ao cinema, ao teatro. Agora, com a pandemia, muita coisa parou, mas fico um pouquinho e vou embora para almoçar.” Ele conclui dizendo que frequenta o centro há mais de 12 anos e sente falta de ver o grande movimento de pessoas no local.

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Refúgio para estudantes

Como Cristina mencionou anteriormente, o Centro Cultural possui diversas funções, dentre elas abrigar estudantes que procuram um ambiente de estudo fora de casa. A localização do acervo é próxima de muitas faculdades e cursinhos, facilitando a atração do público para o espaço. O CCSP dispõe de uma biblioteca silenciosa com diversas mesas e cadeiras com tomadas próximas para aqueles que levam computadores conseguirem carregar seus dispositivos.

O vestibulando Gabriel Gomes, 20 anos, afirma que possui muita dificuldade de se concentrar nos estudos quando está em casa e sofreu muito durante o período de isolamento da pandemia da Covid-19, na qual foi necessário o distanciamento social e o encerramento das atividades presenciais do acervo: “Tenho dificuldade de estar em um ambiente que é de lazer e me concentrar. Então para mim a pandemia foi um período muito terrível”.

O Centro Cultural abrigou milhares de histórias durante essas quatro décadas. Em meio ao cenário turbulento em que a arte no Brasil se encontra, um espaço múltiplo como esse se torna essencial para o abastecimento e incentivo da cultura. A arte é a alma do CCSP. Ele se reinventa a cada ano para formar um local rico e seguro para todos.

Editado por Nathalia Jesus

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