O Grilo: da formação ao Cine Joia lotado, confira a trajetória da banda sensação no indie - Revista Esquinas

O Grilo: da formação ao Cine Joia lotado, confira a trajetória da banda sensação no indie

Por João Nakamura e Pedro Penteado : abril 19, 2022

O Grilo se despede de seu público.

Consolidando-se como uma das principais bandas do indie brasileiro, O Grilo faz show empolgado e emocionante em um Cine Joia lotado

Na última sexta-feira (15), o grupo de rock alternativo O Grilo se apresentou no Cine Joia, tradicional casa de eventos localizada na Liberdade. Marcando o retorno da banda aos palcos após um hiato de apresentações em razão da pandemia de covid-19, o show contou com um setlist gabaritado, abrangendo os principais hits do grupo e o álbum “Você Não Sabe de Nada” quase na íntegra. Novidades como participações especiais e solos inéditos empolgaram a plateia, que pôde conferir até o último lançamento do conjunto, o single “Pra Você Gostar de Mim”, que mistura samba com elementos de música eletrônica. 

Fundado no final de 2016 pelos estudantes Lucas Teixeira (bateria), Gabriel Cavallari (guitarra), Gabriel Xavier (guitarra), Pedro Martins (vocal) e o professor de música André Maya (baixo), o grupo rapidamente se mostrou promissor. Logo em 2017, O Grilo participou da Red Bull Breaktime Sessions, competição de bandas universitárias na qual acabou em quinto lugar. Mais tarde, no mesmo ano, a banda lançava seu primeiro extended play (EP), “Herói do Futuro”, com a produção de Jean Dolabella, ex-baterista da banda do Sepultura que atualmente compõe o Ego Kill Talent. O EP estrelou hits que ainda hoje figuram entre os mais acessados em plataformas como YouTube e Spotify – é o caso de Serenata Existencialista, Sambinha e Herói do Futuro. Junto do produtor, O Grilo começava a ganhar cara e se formar profissionalmente para o mercado. 

Reestruturação e virada 

2019 foi um ano fundamental para a banda, que começava a consolidar seu futuro e definir melhor sua identidade artística. As saídas de Gabriel Xavier e André Maya levaram o grupo a uma reestruturação. Em meio a esse processo, O Grilo encontrou um espaço que, nas palavras dos próprios integrantes da banda, “escutaria suas loucuras”: a gravadora Rockambole. “O selo Rockambole e O Grilo são a mesma coisa, sempre foi e até hoje é. É difícil imaginar as duas coisas separadas. Quando entramos já percebemos um casamento de ideias”, afirma o baixista Gabriel Cavallari. 

Enquanto entravam em contato com uma produção mais aberta aos anseios artísticos do conjunto, as fileiras da banda foram preenchidas com um novo membro: Felipe “Fepa” Matins, colega de faculdade do baterista Lucas Teixeira, assumia a posição de guitarrista, enquanto Gabriel Cavallari transicionava para o baixo.  

As fileiras da banda mudavam ao mesmo tempo que a agenda se acirrava com cada vez mais eventos – dentre os novos compromissos, surge a oportunidade de fazer a abertura do festival Lollapalooza, chance concebida por meio do engajamento dos fãs em concurso promovido pela Rádio 89 FM. “2019 foi um ano muito legal porque em um momento a gente tava ali tocando no Lollapalooza e no outro abrindo os shows do Supercombo”, conta o baterista Lucas Teixeira. 

Fepa trazia um estilo diferente para o grupo e a nova formação não se entendeu imediatamente. As performances ao vivo não vinham não agradando a banda, que mal tinha tempo para os ensaios.  Nesse ínterim, a faixa “Terreiro” foi essencial para o encaixe artístico entre o novo esquadrão. 

Álbum de estreia

Após um ano movimentado, esperava-se bastante em 2020. Os fãs aguardavam novas ideias, mais shows ou até um novo álbum, mas a pandemia de covid-19 bagunçou os planos de todos, trazendo muitas dificuldades para a banda. A quarentena representou um momento mais introspectivo para o conjunto, que aproveitou os meses de confinamento para compor algumas canções. O processo, que começou com pretensões meramente terapêuticas, desembocou em um projeto muito maior, que viria a ser o álbum de estreia Você Não Sabe de Nada. 

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Em 2021, a banda resolveu se isolar em Limeira, no interior de São Paulo, para gravar as faixas. Lucas ressalta que “foi no Você Não Sabe De Nada que a gente achou nossa identidade”. Uma vez finalizado, a divulgação do álbum foi pensada em conjunto a um projeto gráfico de autoria do cartunista Pietro Soldi. Soldi criou um universo ficcional ao redor das canções habitado por Lauro, personagem que acompanha as letras das músicas e caiu nas graças dos fãs. 

Show e expectativas

Cavallari afirma que o desejo de se apresentar no Cine Joia já vinha de muito tempo: “É uma casa que sempre quisemos tocar, pela admiração pelo lugar e pelos nomes que já passaram por aqui. Acreditávamos que estávamos em um tamanho bom para poder tocar em um lugar como esse, mas jamais esperávamos o sold out”. No auge das expectativas, porém, os ânimos caíram por terra. Logo depois do anúncio, a variante ômicron da covid-19 chegou ao Brasil e adiou muitos eventos previstos para o começo do ano – era o caso do show, marcado originalmente para o mês de janeiro.

A despeito da quebra de expectativas, a banda hoje vê o adiamento com uma perspectiva positiva: “Foi saudável para a gente, pois tivemos mais tempo para construir o show, trabalhar a projeção, som, coordenação de equipe. Queríamos algo que nunca tivéssemos feito, e conseguimos uma performance com um percussionista e um setlist trabalhando todo nosso trajeto, desde o primeiro EP até o novo single”, ressalta Teixeira.

Descemos para a área dos camarins para a entrevista e, se a parte de cima tinha um ar moderno e grandioso, no backstage imperava uma atmosfera mais vintage. Estávamos em meio a pôsteres de filmes antigos, caixas de pizza largadas e garrafas de cerveja espalhadas pelos cantos. Nesse momento, a banda estava acompanhada das duas participações especiais programadas para a noite: Marina Reis, vocalista da PLUMA, projeto paralelo do baterista, que subiu ao palco para cantar “Sambinha”, e Josi, percussionista que ditou o ritmo das músicas durante toda a apresentação. 

Outros repórteres nos acompanhavam ali. A noite era, afinal, a mais importante d’O Grilo em anos. A imprensa, porém, era minoria: quem lotou mesmo o Cine Joia foram os fãs, ansiosos pela primeira apresentação da banda em muito tempo. O fã João Barros, por exemplo, menciona os ídolos como inspiração: “Comecei a tocar bateria por causa do Teixeira. Via ele tocando na banda da minha escola e quis começar a tocar também”. A empolgação da plateia, agitada pelo próprio ânimo da banda, não deixava dúvidas: as expectativas foram superadas por muito.

 

Versatilidade e energia

A característica mais marcante d’O Grilo,  que o grupo não abandona do estúdio para o palco, é a versatilidade nas performances. A banda brinca com o público e reinventa sua música, incorporando elementos do reggae e convertendo música eletrônica em rock. “Se você for num ensaio nosso você vai ver muito rock’n’roll e coisas mais pesadas, por que a gente não se fecha para um gênero ou um caminho”, afirmou Cavallari. Os beats sintetizados em computador foram marcantes na execução da música mais recente, o single “Pra você gostar de mim”

“A gente só quer fazer música, não queremos ficar em um estilo só” (Gabriel Cavallari, baixista) “O rock não é um estilo que fica na música, é uma ferramenta” (Felipe Martins, guitarrista) 

Apesar de ser o mais tímido no backstage, Pedro Martins, o vocalista, se transforma ao subir no palco, tornando-se um verdadeiro frontman. Jogando com o público por meio de seus gestos e interlocução, a banda conduziu a plateia com animação. 

Outro destaque da noite foi Felipe Martins, que estendeu os solos de algumas faixas e, para a surpresa da própria banda, improvisou um na hora de  “Meu Amor”. Ironicamente, a música, que não possui solo na versão de estúdio, brinca com a ideia de que “quem gosta de solo é minhoca”. O público não se deixou acalmar nem nas músicas mais amenas da banda, como “Infinito (-1)”, “Malabarista de Granadas” ou “Sambinha”. Antes da última música, Felipe reservou alguns minutos para discursar, de forma muito íntima e carregada de emoção, sobre o recente falecimento de seu pai.

Já no encore, o single “Competição de Ego” embalou a sequência final, na qual figuraram os principais hits do primeiro EP: “Herói do Futuro” veio logo após e “Serenata Existencialista” finalizou o evento, não antes de uma troca de instrumentos, com Cavallari assumindo a guitarra em meio a comentários sobre o histórico de Gabriel na formação original.

Em uma montanha russa de emoções, O Grilo encerrou o show da mesma forma que encerraram a entrevista quando lhes perguntamos sobre o futuro do grupo. Eles puxaram um coro com um breve recado destinado aos fãs:

“Você não sabe de nada”

Editado por Juliano Galisi

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