Semana da Música: conheça quem vive da música clássica e como ela pode mudar o meio social - Revista Esquinas

Semana da Música: conheça quem vive da música clássica e como ela pode mudar o meio social

Por Melissa Charchat : novembro 18, 2020

Entre os dias 16 e 22 de novembro, o Brasil comemora a Semana da Música que se encerra com o dia do Músico

Viver da música clássica

Atualmente, muitos profissionais dedicam-se ao estudo e ao ensino do gênero. Paulete Vainzof Bumaschny é pianista e trabalha na academia de dança Ballet Dalal Achcar, referência do ballet clássico no Brasil. Ela trabalha há mais de 35 anos tocando para aulas e espetáculos de ballet.

A respeito de sua carreira como pianista de ballet clássico, a profissional enfatiza que se trata de um aprendizado constante. “Acertar com a música adequada para o passo é a meta do pianista de ballet. (…) Acelerar ou ralentar em determinados trechos de acordo com o passo proporciona uma sensação de cumplicidade com o professor e alunos.”, explica Paulete.

Paulete Vainzof tocando um adágio do Ballet La Bayadère:

Quanto a área da dança, a ex-bailarina solista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Bianca Tagliari Sirotsky, atualmente leciona ballet clássico para crianças, adolescentes e adultos também na Ballet Dalal Achcar.

“É um privilégio poder trabalhar com música clássica atualmente dando aulas de ballet. Assim, dou a oportunidade às minhas alunas de conhecerem a música erudita de uma forma lúdica. Sem sentir, elas vão formando uma educação musical, podendo, mais tarde, nem apreciar o estilo, mas tendo o conhecimento do que é”, comenta Bianca.

“Conto de Natal” – Apresentação da Ballet Dalal Achcar:

Na área acadêmica, Alexandre Schubert é professor no Departamento de Composição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além disso, ele também é compositor, integrante do grupo Prelúdio 21 e já recebeu 16 prêmios nacionais e internacionais, tendo suas obras apresentadas em países como Suíça e Alemanha.

Sobre sua relação com a música, ele afirma: “Nunca trabalhei com algo que não fosse música clássica. Já toquei em diversos eventos e tive minhas composições tocadas em diversas partes do mundo, desde Estados Unidos e Espanha até Mongólia. Minha ligação com música é diária, eu escrevo todos os dias, toco todos os dias e sou casado com uma violinista.”

Alexandre Schubert – Jornada Fantástica num Trem de Ferro (OSNUFF – Volkmann):

Música clássica e a mudança social

Sobre a necessidade desse segmento atualmente, Paulete comenta: “A música tem um poder transformador. Jovens com educação musical que tocam instrumentos ou que fazem aulas de ballet indicam uma sociedade mais justa, mas nossos governantes não têm essa preocupação. Espetáculos populares atraíram público de camadas sociais que não tem acesso a esse tipo de música e em algumas comunidades existem iniciativas desse tipo com resultados excelentes.”

A professora de ballet clássico, Bianca, também possui um sentimento parecido: “Na minha opinião, deveria existir uma educação musical nas escolas para todas as crianças independente da classe social, para que elas pudessem conhecer e decidir com quais estilos mais se identificam. Na época que dancei no Theatro Municipal, todas as temporadas de ballet tinham dias destinados a espetáculos para escolas públicas e, quando terminavam, nós bailarinos e alguns músicos da orquestra conversávamos com o público e trocávamos experiências. Era um momento enriquecedor”, lembra Bianca.

Nesse sentido, Alexandre diz que as iniciativas de popularização da música clássica existem, mas o que falta é o reconhecimento. “Temos a Orquestra Neojibá, na Bahia, a Ação Social pela Música, no Rio, entre muitos outros [projetos]. A formação de jovens através da música em comunidades, como na Maré e na Rocinha, tem crescido e vemos muitas pessoas seguindo essa carreira. O que falta é uma ação para que a população no geral se aproxime da música clássica, tornando-a mais acessível. Existem inúmeros músicos da vertente clássica no Brasil que precisam ser reconhecidos, mas sinto que apesar disso, conseguimos mostrar nosso trabalho, e principalmente continuar formando as novas gerações.”

Por fim, Schubert comenta que o problema não é a falta de eventos, mas divulgação. “Isso contribui para a visão de que a música clássica é presente somente entre as classes mais ricas, o que não é verdade”, finaliza.

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