Mangia che ti fa bene: a gastronomia italiana como forma de identificação - Revista Esquinas

Mangia che ti fa bene: a gastronomia italiana como forma de identificação

Por Giovana Lins Barbosa : julho 26, 2022

Foto: Jakub Kapusnak

Da imigração em massa até a Cantina do Piero Il Vero, o Brasil se torna um polo de consolidação e perpetuação da cultura gastronômica italiana pelo mundo

Era madrugada do dia 04 de junho quando o chef da Cantina do Piero il Vero jantou, depois de um turno movimentado, como de costume. Ele se sentou à mesa do canto, ao lado da janela, observando as camisetas de times italianos penduradas e o noticiário que passava na televisão. A casa da Haddock Lobo, 728 já estava acostumada com o movimento dos clientes. Naquela madrugada, porém, só havia uma família no restaurante.

Roberto Alexandre, 73, frequentava há muitos anos aquele local. Amante da gastronomia italiana, ele conta que virou hábito levar seus filhos para desfrutar de uma boa massa. “Chamei a atenção da minha caçula a respeito da concentração do chef naquele momento. Foi quando começamos a conversar sobre o fato de que, para muitos italianos, a culinária e a refeição são rituais”, contou.

De acordo com o 34° Rapporto Itália, estudo sobre a sociedade italiana produzido pela Eurispes, 84,6% dos italianos têm orgulho da própria gastronomia. E o resultado atravessa oceanos: a pesquisa Hábitos Alimentares dos Brasileiros, que abrange preferências, dietas e tendências de consumo, indicou que, no quesito culinária estrangeira, 41% dos brasileiros têm preferência por restaurantes italianos ao saírem para comer.

Considerada uma das mais ricas do mundo, a gastronomia italiana é fruto da confluência de povos que passaram pela península itálica através dos séculos e deixaram sua marca. A partir do século IX, principalmente à Sicília, os árabes levaram o açúcar, o arroz, a canela, o açafrão, a berinjela e os doces de marzipã, transmitindo também as técnicas de produção de figos secos e passas.

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A partir de 1600, os espanhóis influenciaram a culinária regional com produtos originários da América, como o tomate, a batata, o feijão, o milho, o cacau, o rum e o café, agregando também produtos derivados do leite, como manteiga e creme de leite.

Foi por meio da imigração italiana para a América, especialmente para Nova Iorque, Buenos Aires e São Paulo, que a gastronomia do país se alastrou pelo mundo. Não muito tempo depois, em 1990, o italiano Pier Luigi Grandi, apelidado carinhosamente por seus amigos e clientes de Piero, fundou a Cantina do Piero Il Vero na capital paulista.

Assim como o restaurante, muitos outros locais transformaram-se em tradição para diversas famílias e a gastronomia italiana continua exercendo influência, inclusive, sobre brasileiros. Roberto Alexandre conta que, após experimentar pela primeira vez o spaghetti à carbonara da Cantina do Piero, sua filha Giovana decidiu que aprenderia a receita e instauraria a tradição de fazê-la na família.

“Após tentativas falhas de reproduzir o prato, quando voltamos ao restaurante, resolvi prestar meus cumprimentos ao chef, na secreta esperança de conseguir a misteriosa receita”, relata Giovana. “O local estava agitado, com muitos clientes esperando seus jantares, então acabei solicitando ao maître que dissesse ao chef o quão bom era aquele prato. Ele o fez na minha frente e os dois ficaram nitidamente orgulhosos, mas, por conta da correria, acabei não pedindo a receita. Fica para a próxima”, finaliza.

Isabelle Lisa, de ascendência italiana, conta sobre o papel que a gastronomia do país desempenha em sua vida: “Mesmo morando no Brasil, a família da minha mãe, que tem origem em Nápoles, segue a rigor os costumes e ‘regras’ italianas no que diz respeito à execução dos pratos, tradição e até mesmo no ato da refeição. Isso é muito importante para eles e é fácil pegar gosto também. Às vezes, até eu me pego dizendo ‘mangia che te fa bene!’”.

Editado por Anna Casiraghi

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