Conheça a história de um judeu que lutou e sobreviveu ao nazismo - Revista Esquinas

Conheça a história de um judeu que lutou e sobreviveu ao nazismo

Por Lídia Esteves : dezembro 3, 2020

Um relato sobre a história de um judeu polonês que se aliou à partisans para lutar contra os nazistas na Segunda Guerra

No dia 1º de setembro de 1939 a Polônia foi invadida pela Alemanha Nazista e assim teve início a Segunda Guerra Mundial. Nessa data, Josep*, judeu que morava em Lublin, sua cidade natal que fica há duas horas de carro de Varsóvia, capital da Polônia. O conflito fez com que ele se separasse de seus parentes e cada membro da família foi para uma direção.

Por conta desse evento, Josep não pensou duas vezes em se aliar ao partisans e lutar contra as forças de Hitler. Nas palavras de seu neto, Érik Billet,  ele começou a luta sozinho e depois se aliou a um grupo com o mesmo objetivo. “Ele era judeu. Quando viu as atrocidades, não quis deixar barato nem se submeter ao campo de concentração, então foi para cima dos nazistas.”

Durante a Segunda Guerra, os partisans se organizavam em grupos de mais ou menos 20 pessoas e utilizavam táticas de guerrilha contra os exércitos de Eixo – Alemanha, Japão e Itália. Além disso, os partisans agiram em praticamente todos os países europeus, embora sua participação tenha ficado mais conhecida na França e na Itália.

A luta

Com grande facilidade em aprender idiomas – russo, espanhol, polonês, alemão e o ídiche (língua indo-europeia adotada por judeus da parte central e oriental do continente), Josep não demorou a atuar na Rússia em trabalhos que incluíam combater inimigos e ajudar suas vítimas, como aquela que viria a ser sua futura esposa, Pola*.

Ela estava na fila para a câmara de gás, quando uma criança a sua frente notou que estava prestes a morrer e entrou em pânico começando a correr. Apavorados, outros prisioneiros também fizeram o mesmo e a confusão agravou-se ainda mais quando guardas do local começaram a disparar e a matar vários dos presos.

Pola aproveitou esse momento e conseguiu escapar. Por quase quatro dias ela seguiu a pé por um estrada, caminhando cerca de 50km. Suja, faminta e descalça encontrou o restaurante onde Josep, então partisan, estava trabalhando disfarçado como pianista. Ele a acolheu e mais tarde descreveu esse encontro como uma “paixão à primeira vista”.

Com o avançar da guerra, os dois iniciaram uma fuga com escalas em diversos países, como: Rússia, Argentina, Uruguai e por último o Brasil, se estabelecendo em São Paulo. Um fato curioso é que em todos esses destinos eles tinham que se casar novamente, assim eles poderiam forjar documentos falsos com novos nomes não-judeus.

Foi no Brasil que Josep e Pola tiveram seus dois únicos filhos, um menino e uma menina, com quem sempre evitavam falar sobre os acontecimentos do passado. E, segundo Erik, isso não é incomum: “Vários sobreviventes ficaram muito traumatizados depois da guerra e muitos deles acabaram se calando. Depois de algumas décadas que começaram a falar e aí que surgiram os livros, os filmes. Mas mesmo assim, tem muito sobrevivente pelo mundo que não fala nada até hoje, porque realmente não é fácil. (…) Então, os meus avós chegaram a falar pouquíssimas coisas.” Além das marcas psicológicas, o corpo de Josep também possuía diversas cicatrizes, a maioria produzidas por projéteis de armas de fogos.

Ainda segundo Érik, seus avós não gostavam de assistir filmes que retratavam a Segunda Guerra Mundial. “Nos anos 90 mais ou menos, começaram a fazer filmes sobre o campo de concentração e quando passava na televisão os meus avós saiam da sala. Eles não gostavam e enquanto saíam falavam: ‘Olha, vocês podem assistir, mas isso que vocês vão ver não chega nem a 10% do que realmente era’.”

Final da vida

Nas décadas de 1970 e 80, Josep era dono de uma mercearia e quatro restaurantes espalhados pelo estado de São Paulo e a maioria destes estabelecimentos estavam concentrados no bairro Bom Retiro, onde ele se estabeleceria até a sua morte em 1998. Dois anos mais tarde, em 2000, sua esposa também faleceu.

Ele nunca conseguiu saber do destino de seus parentes, embora seus descendentes tentem até os dias de hoje. Descrito por seus parentes como uma pessoa psicológica e fisicamente forte, ele foi um dos cerca de 30 mil judeus anônimos que guerrilharam na Segunda Guerra Mundial em um dos esforços civis mais notáveis contra as forças alemães.

*Os sobrenomes foram removidos a pedido da família

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