O mês de agosto é curiosamente conhecido como mês do “cachorro louco”. Mas, de onde surgiu essa expressão?
O ciclo reprodutivo dos animais pode ser afetado pelo clima. Países que têm as estações do ano bem definidas costumam ver o cio dos animais no começo da primavera. Entretanto, no Brasil isso não acontece. Mesmo assim, no mês de agosto ocorre um fenômeno intrigante, pois é o período do ano em que as cadelas mais entram no cio, devido às condições climáticas.
Segundo Italmar Teodorico, professor da Universidade Estadual de Londrina, especializado em zoonoses e saúde pública, isso acontece pois na América do Sul, na época de inverno, o clima frio e seco tem como consequência, muitas cadelas entrando no cio ao mesmo tempo, provocando nos machos um sentimento de euforia, que os deixam agressivos. Portanto, é devido a essa reação agressiva dos machos que foi criado o termo “cachorro louco”.
Consequências da raiva exagerada
Cátia Passos, médica veterinária e fundadora da Clínica Cão Maravilha, comenta sobre a reação fisiológica dos cachorros, provocada pelo clima:
“Fisiologicamente, as fêmeas no cio exalam um cheiro diferente que atrai o macho, provavelmente vocês já devem ter visto cadelas no cio; é uma fileira de machos ao seu redor, disputando sua atenção, o que pode ocasionar brigas e ferimentos.”
Esta agressividade excessiva, pode se tornar um problema, pois, ao disputar pela fêmea, os cachorros, pelo seu instinto alfa, tendem a brigar entre si, envolvendo na luta mordidas, arranhões. Entretanto, se um deles estiver contaminado com o vírus da raiva, muito citado por meio de campanhas durante o mês de agosto, a doença pode ser transmitida através da mordida, visto que o vírus é passado pela saliva do cachorro infectado.
Italmar Teodorico adiciona que o mês do cachorro louco não significa uma referência a doença da raiva e sim uma expressão usada para dizer que, nesse período os cachorros ficam mais agressivos, com aparência de “loucos” e caso algum animal esteja contaminado com a doença, tem como consequência a transmissão de forma facilitada.
Mas o que é a doença da raiva?
É uma doença infecciosa, viral e mortal. Esses vírus estão presentes na saliva de cães, gatos e animais silvestres infectados, portanto, o meio de transmissão é a penetração no organismo pela mucosa, como a da parte interna da boca, ou pela pele, através de corte ou ferida, mais comuns pelos cachorros, que, na disputa pela cadela, acabam duelando entre si, comprometendo o sistema nervoso central do infectado.
Um dos principais sintomas da doença em cães, que pode ser visto claramente, é a salivação excessiva, além das mudanças comportamentais, como ficar mais quieto ou agressivo, ansioso e agitado, se esconder em lugares mais escuros e a desorientação. Infelizmente, essa doença não tem cura, portanto, uma vez infectado, o destino dos cachorros com raiva é a eutanásia.
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Como prevenir esta doença?
A principal forma de profilaxia contra a raiva é a vacina antirrábica, aplicada nos cachorros aos quatro meses de vida e, posteriormente, anualmente. A partir do momento que esta doença não possui uma cura conhecida, a única maneira de evitar fatalidades é vacinando seu pet, para evitar que o animal seja contaminado através da saliva de outros cães por meio da mordida ou até mesmo de forma indireta ao lamber ou morder objetos contaminados pela saliva de um outro animal infectado.
Catia complementa: “A prevenção se dá pela vacinação anual. Deve-se evitar a aproximação de cães e gatos que estejam sem seus donos, não mexer ou tocá-los quando estiverem se alimentando, próximo de suas crias ou até mesmo dormindo.”
Prevenir que cães entrem em contato com o vírus é uma excelente forma de evitar a contaminação generalizada, pois dessa forma o tutor está protegendo outros animais, a si mesmo, sua família e seus amigos. Adriano Martins, clínico geral e gastroenterologista, formado em medicina veterinária pela Uninove, conta sobre o efeito da vacina:
“A vacina é um vírus inativado, ou seja, ele não tem poder de causar doença, mas induz o hospedeiro, no caso o cão, a produzir anticorpos e criar memória pelos linfócitos para combater o vírus da raiva.”
Esses anticorpos são capazes de reconhecer invasores estrangeiros, como o vírus, e assim destruí-los. À medida que a vacina contra a raiva é obrigatória por lei para cães e gatos, o governo, juntamente com organizações veterinárias e ONG’s dos municípios, costuma organizar campanhas de vacinação anuais para manter a doença controlada e a população segura.
Portanto, é imprescindível que o tutor procure vacinar seu pet anualmente, conforme a orientação das campanhas municipais, que acontecem principalmente em agosto, pois, como dito anteriormente, a vacina é a única forma de evitar a contaminação do animal pelo vírus da raiva e, consequentemente, a sua morte, já que, no presente, ainda não existe cura para tal enfermidade.