Em agosto e setembro, ESQUINAS publica relatos sobre idosos em isolamento social. O depoimento de Maria do Carmo Magalhães é a 11ª reportagem da série.
Este é mais um episódio da série Quarentena dos Idosos, produção de ESQUINAS sobre o isolamento social entre a terceira idade. “Já tenho 72 anos. Sou professora há quase 60. Conheci tudo quanto é gente e já vi muita coisa nesse mundo. Mas uma doença que para o mundo e tranca todo mundo em casa? Não, isso é novo pra mim”.
Maria do Carmo Magalhães, filósofa e professora ainda na ativa, é uma das prisioneiras sanitárias que padecem no tédio da quarentena. Passa os dias com Jean Baudrillard e François Lyotard. Em sua biblioteca, reveza-se entre aulas virtuais e mais leitura para passar o tempo.
O bairro do Morumbi, onde Do Carmo mora e trabalha, foi um dos primeiros atingidos pelo novo coronavírus. Ainda em março, as aulas no colégio onde leciona foram suspensas e a família tratou de se afastar. “Logo o ministro começou a falar na televisão para isolar os velhos e para parar as escolas”, confessa, insatisfeita.
Veja mais em ESQUINAS
Quarentena dos idosos: “todos os dias são tristes, até quando não são ruins”
Quarentena dos idosos: “Quando bate a ansiedade do isolamento, digo a mim mesma que está tudo bem”
Quarentena dos idosos: “Venci o câncer. Não vai ser o corona que vai me derrubar”
Poderia ser pior. A professora mantém contato com seus alunos, e a companhia virtual até que segura um pouco da saudade, segundo ela. As aulas por videoconferência a ajudam a esquecer a falta dos corredores e da sala de aula. Mas faz ressalva: “Já dei aula pela internet antes. Não tenho problema com a plataforma digital. Mas isso é uma coisa. Ter que acompanhar uma sala de aula por semanas, por meses, pela internet é outra coisa completamente diferente!”.
Apesar de descontente, Do Carmo – que cumpre rigorosamente as medidas de isolamento social há quase seis meses – ainda completa, resignada: “E é o que tem que fazer, né? Eu tenho condições de pagar um convênio médico e um tratamento particular, e mesmo assim posso ficar sem vaga. E quem depende do sistema público? Como fica?”.