Saiba quais foram os principais momentos da Aula Magna de jornalismo
Para Patrícia Campos Mello, “tendo emprego, o jornalismo é a melhor profissão do mundo”. A repórter especial da Folha de S. Paulo e autora do livro A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital, além do ex-casperiano, apresentador e comentarista da GloboNews, Guga Chacra, foram os convidados das Aula Magna de jornalismo deste ano. Durante essa semana, as tradicionais palestras da Faculdade Cásper Líbero acontecem virtualmente, transmitidas pelo YouTube. Ontem, 5 de maio, foi a vez dos jornalistas conversarem com os alunos e interessados sobre suas experiências na profissão.
Guga Chacra: de volta à Cásper
Correspondente internacional em Nova Iorque, Guga compartilhou sua trajetória profissional na Aula Magna, que começou em veículos impressos e canais de televisão aberta, principais fontes de informação à época.
Palmeirense e apaixonado por futebol, ficou fascinado pelo jornalismo esportivo, que o fez considerar a profissão. Apesar disso, sua paixão por geografia, somada à descendência libanesa, num momento em que o Líbano estava em guerra civil, levou o jovem ao noticiário internacional. “Nunca vou esquecer que vi no Jornal Nacional como o Líbano foi destruído. Eu queria saber mais sobre lá e os países vizinhos.”
Guga prestou vestibular para Ciências Sociais na USP e Jornalismo na Cásper Líbero. Foi aprovado nas duas e começou a cursar ambas as faculdades, mas abandonou o curso na USP logo depois. Estudou, também, na Emerson College, em Boston. Quando voltou ao Brasil, além de retomar os estudos de jornalismo, iniciou o curso de economia na USP.
Guga estreou sua vida profissional no trainee da Folha de S. Paulo, em 1998. Teve passagem pela revista IstoÉ e, depois de uma viagem pelo Líbano, foi chamado para trabalhar no caderno de notícias internacionais da Folha, assunto que cobre até hoje.
Guga pelo mundo
Com apenas 23 anos e sem estar formado na faculdade, foi correspondente do jornal em Buenos Aires. Depois, cobriu os ataques de 11 de setembro também pela Folha e virou setorista das intifadas e da questão entre Israel e Palestina. Finalmente, concluiu o curso de jornalismo, mas, para a surpresa dos alunos que o ouviam, foi reprovado no TCC. No ano seguinte, aprovado.
Guga fez mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, experiência que considera essencial em sua trajetória de correspondente internacional. “Foi fundamental para mim tanto pelo conteúdo acadêmico, quanto por ter feito em Nova Iorque e pelas pessoas que você convive, que são de diferentes origens.”
Passou um ano viajando pelo Oriente Médio e se tornou correspondente internacional na região pelo Estadão. Em 2009, correspondeu em Nova Iorque e, em 2012, foi convidado pela GloboNews para participar do GloboNews em Pauta.
O currículo do jornalista é marcado por coberturas importantes, como guerras no Oriente Médio, terremoto no Haiti — para ele, a mais marcante –, golpe de estado em Honduras e as três eleições americanas entre 2012 e 2020.
Um dos momentos de maior destaque de sua carreira foi a entrevista com o ditador sírio, Bashar Al-Assad, antes da guerra civil no país: “É um choque eu ter conversado com essa pessoa”.
Ao final da Aula Magna, Guga aconselhou os estudantes a aprenderem a fazer de tudo e, se possível, morarem no exterior. “Morem fora. Morem no exterior por seis meses ou um ano. Morem ainda jovens se tiverem a oportunidade, viajem para onde tenham interesse. Tenham essa experiência de morar no exterior. Se puderem, façam isso para ver o Brasil de fora, conhecer outra cultura e entender onde você está no mundo”.
Veja mais em ESQUINAS
Ataques de Bolsonaro à imprensa ferem a democracia, dizem jornalistas políticos
E se a grande notícia for o Jornalismo?
Patrícia Campos Mello: referência no jornalismo investigativo
Para Patrícia Campos Mello, ser jornalista “é absolutamente fascinante. Você tem a oportunidade de conhecer os lugares e as pessoas mais diferentes. É impossível ficar de saco cheio, estamos sempre entrando em universos diferentes”.
Formada pela ECA-USP, hoje é uma das mais importantes repórteres investigativas do Brasil. Em sua Aula Magna para a Faculdade Cásper Líbero, compartilhou algumas de suas opiniões a respeito do atual momento vivido pela profissão no País e experiências em coberturas importantes, como no Oriente Médio e em Serra Leoa durante a pandemia de ebola, em 2016.
Segundo ela, o jornalismo vem sofrendo uma crise de relevância e identidade. A democratização do acesso à informação ocorrida nos últimos anos, impulsionada pelas redes sociais, proporcionou um paradoxo. Ao mesmo tempo em que é positivo que não haja mais guardiões da informação, o jornalismo profissional parece ser desnecessário para a população. Além disso, as ofensivas contra a imprensa por parte de governantes de extrema-direita são cada vez mais constantes.
Ainda assim, ela se diz otimista. Em sua opinião, a pandemia e a ascensão de governos populistas estão devolvendo, aos poucos, a credibilidade ao jornalismo profissional, que voltou a ter a confiança das pessoas e se provou necessário. “Hoje, temos uma avalanche de informação, e é muito difícil saber o que é verdade e o que não é, o que é opinião e o que é fato”.
É aí que está a relevância dos jornalistas, na contramão da disseminação de fake news e desinformação. “A única coisa que impede esse universo paralelo de dominar o País e vários outros são os jornalistas profissionais, e também os acadêmicos e cientistas, alvos preferenciais desses tipos de governantes”.
Na linha de frente contra fake news
Para ela, a competição entre notícia e fake news é desigual. A primeira não viraliza, enquanto a segunda é rapidamente disseminada nas mídias sociais: “Temos que continuar tentando fazer o nosso trabalho da melhor maneira possível e descobrir como fazer a informação correta viralizar, porque por enquanto estamos perdendo essa guerra”.
A jornalista foi vítima de ataques na internet em dois momentos distintos. O primeiro, em 2018, quando reportou o uso do WhatsApp para a disseminação de notícias falsas durante o período eleitoral, e o segundo, em 2020, quando sua fonte alegou que ela teria oferecido sexo em troca de informações privilegiadas.
Os casos ganharam muita repercussão nas redes sociais, impulsionados, principalmente, por políticos e blogueiros de direita, e ilustram, segundo Patrícia, como a ofensiva contra a imprensa, somada à misoginia, transforma a verdade num elemento secundário em meio à avalanche de desinformação. “É muito bizarro, num dia você está investigando o assunto; no outro, é mais um alvo daquilo”, diz. Apesar de assustada com os ataques, ela ficou com “sangue nos olhos”, ainda mais motivada e comprometida a investigar.
Ao final de sua fala na Aula Magna, a repórter pontuou que se sente otimista com o futuro da profissão, já que vê os estudantes de jornalismo cada vez mais conscientizados e bem informados acerca do mundo e sociedade. A mensagem deixada por ela é que “jornalista é jornalista, repórter é repórter, seja cobrindo guerra na Síria ou manifestação na Avenida Paulista. O principal ponto do nosso trabalho é fazer as perguntas certas e ouvir muito mais do que falar”.
Assista às palestras de Guga Chacra e Patrícia Campos Mello na íntegra pelo YouTube.