Projetos de incentivo à presença feminina no automobilismo têm contribuído para o aumento de mulheres nas pistas nos últimos anos
Em julho do ano passado, a “More than Equal” realizou um estudo com 70 referências do automobilismo e descobriu que o esporte a motor é uma das modalidades com o maior indíce de desigualdade de gênero, atrás apenas do futebol americano.
Segundo a organização fundada por David Coulthard, ex-automobilista escocês, e pelo empresário checo Karel Komárek, a participação das mulheres na categoria é de apenas 10%. Apesar da disparidade, o interesse do público feminino aumentou em 40% nos últimos cinco anos, de acordo com a instituição.
Nesse cenário, são criados projetos de incentivo à participação de meninas, como o “Girls Like Racing”, a “FIA Girls on Track” e a “FIA Got: Formula E”. O primeiro e mais conhecido foi criado em 2018 pela enegenheira Erika Prado, que é também diretora da inicitaitva.
O programa conta com mais de 600 participantes, que promovem ações nas pistas, como conhecer os boxes – espaço para parada técnica -, interação com equipes e pilotos, além de caminhar pela pista de corrida.
“O ‘Girls Like Racing’ tem como objetivo acabar com o sexismo que circula sobre a figura feminina. O projeto propõe dar abertura e oportunidades para meninas e mulheres que se interessam pelo esporte a motor. Enfrentei todos os preconceitos e barreiras para que ele existisse e, hoje, tento ao máximo conscientizar as pessoas quanto ao assunto”, comenta Prado.
Na rede social Instagram, o perfil da iniciativa já ultrapassa 9 mil seguidores, e traz conteúdos com dicas para o público feminino que frequenta os autódromos brasileiros.
“Ter que se provar” automobilismo
Para a jornalista e apresentadora do BandSports, Isabella Ayami, os números de jovens meninas querendo trabalhar no automobilismo brasileiro aumentou principalmente na área do jornalismo. Mas ainda assim, há preconceitos bem expostos e enrustidos na sociedade, com palavras sexistas e estereótipos utilizados em prol da discriminação.
“Tudo isso é sobre o que nós (mulheres) sentimos todos os dias, de ter que se provar constantemente, de ter que trabalhar e estudar três vezes mais do que os homens, porque se eu cometer algum erro, vão me culpar pelo fato de ser mulher”, completa Ayami no contexto da sua área.
Em sua maioria, as mulheres ocupam cargos relacionados a mídia, porém, o número de engenheiras, mecânicas e pilotas cresce mais lentamente. Para Erika Prado, o problema começa com a baixa quantidade de jovens formadas em engenharia e a dificuldade na empregabilidade delas, ela relata que o gênero feminino precisa do dobro de recomendações.
Além disso, em relação ao caminho para se tornar pilota, segundo a diretora do “Girls Like Rcing”, é um pouco mais difícil por conta dos obstáculos de se conseguir patrocinadores, uma vez que, as marcas estão mais acostumadas a apoiar homens e colocá-los nas competições.
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Inclusão feminina automobilismo
Em novembro de 2022, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) criou a F1 Academy – principal categoria feminina de Fórmula 1 -, como forma de incentivo as mulheres que se interessam na pilotagem. A iniciativa também serve de projeção para que algumas das melhores pilotas consigam integrar as principais equipes de F1, como RedBull, Ferrari e Mercedes, tendo as mesmas condições que os homens e correndo rente ao seus chassis.
Na visão de Rachel Loh, esse movimentou começou antes, especificamente em 2010, com a criação da FIA Women in Motorsport Commission – comissão que trabalha na inclusão de mulheres em diversas áreas de atuação no automobilismo.
Para Giovana Contti, jornalista especializada no esporte a motor, as medidas adotadas ainda são ínfimas, pois pilotas que chegaram na Fórmula 1, como é o caso da colombiana Tatiana Calderón, ocuparam no máximo o posto reserva das equipes.
No contexto ideal, Ayami ressalta que o melhor seria a criação de uma categoria unissex – homens e mulheres correndo juntos. E que não é uma inovação no automobilismo, já que categorias como Stock Car e Fórmula Indy já adotaram a inicitaiva.
Caso tenha mais interesse no automobilismo feminino, não deixe de acompanhar estas pilotas:
– Antonella Bassani, de 17 anos, que atua na Porsche Carrera Cup Brasil e já foi campeã da categoria em 2023. A jovem se destacou após ser a primeira mulher a cravar pole position – largar em 1º lugar -, na categoria Sprint Challenge.
– Bia Figueiredo, de 39 anos, é a primeira brasileira a disputar as 500 milhas de Indianápolis.
– Cecília Rabello, de 16 anos, já esteve presente em corridas de Kart e Fórmula 4 Brasil. É a segunda temporada de Rabello na principal categoria de monopostos do país.