Apresentadora Helena Nogueira analisa cenário dos esports, cobertura jornalística e perspectivas para os próximos anos
O público de esportes eletrônicos, ou esports, deve ultrapassar 474 milhões de pessoas no mundo em 2021, 8,7% a mais do que em 2020, segundo a plataforma especializada Newzoo. Ainda este ano, 728 milhões de pessoas devem acompanhar os games no geral, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. No Brasil, cerca de 20% do público gamer consome conteúdos de esports pelo menos uma vez por semana, e 65% conhece competições, de acordo com a oitava edição da Pesquisa Game Brasil, feita através da parceria entre a Blend New Research, ESPM, Go Gamers e Sioux Group.
Esse crescimento do cenário competitivo dos games em solo brasileiro avança de maneira mais acelerada desde 2014, com a entrada de novos times, empresas e plataformas para transmissão de jogos. Recém-chegada ao Brasil, em junho de 2021, a Globo Ventures, setor de investimentos do Grupo Globo, fundou a Player1 Gaming Group, empresa que agora será responsável por fazer transmissões e promover torneios como o Campeonato Brasileiro de Counter-Strike (CBSB) e a competição nacional de Pro Evolution Soccer (PES). Além disso, ela organizará o Prêmio eSports Brasil, principal do cenário no País.
A jornalista Helena Nogueira foi jurada do Prêmio em 2019 e 2020. Formada em jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), ela está no meio há sete anos, e teve passagens como apresentadora e redatora no site Versus (agora MGG) e no programa Multiverso, do canal Loading. Para Helena, o alcance do Prêmio eSports Brasil ajuda a “estourar a bolha” dos jogos e levar o universo dos games para um público diferente do habitual.
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Inclusão nos esports
Porém, a jornalista avalia que o cenário dos esports ainda precisa evoluir em outros aspectos antes de buscar “novos holofotes midiáticos”. “É claro que quanto mais estourar a bolha, melhor, mas é mais importante desmistificar e acabar com o racismo, machismo, preconceito”, diz. E o jornalismo bem feito, sério e ético é a chave para isso. “Não dá pra só chamar mulheres em eventos para aquela velha pauta de ‘como é ser mulher nos esports’”, ressalta a apresentadora. “Há muitas mulheres para comentar jogos, fazer as transmissões. As empresas e o público só vão ganhar com maior diversidade”, completa.
Para ela, o Prêmio também propicia pluralidade e inclusão nos esports, seja pela composição do júri ou com homenagens e discursos durante a celebração. Segundo a Pesquisa Game Brasil, o público feminino é maioria entre os gamers brasileiros, representando 51,5% da audiência. A jornalista também percebe que mais mulheres estão conseguindo espaço na cobertura brasileira, principalmente nas redações, o que, segundo ela, não é frequente em outros países.
Helena conta que o caminho para continuar essa evolução é a boa apuração e sensibilidade jornalística, o que ainda se confunde em um ambiente que não é totalmente profissionalizado. A entrada de grandes veículos de mídia ajuda, aumentando a qualidade do serviço e referenciando conteúdos. O Prêmio Esports é também um bom incentivo para que os profissionais do mercado “se organizem e ajam eticamente para entregar a melhor prática do esporte eletrônico possível”, explica.
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Um dos principais obstáculos na cobertura jornalística desse meio é que muitas vezes não há abertura dos times para entrevistas e comentários. Os jogadores têm certo receio da imprensa. Mas o trabalho conjunto é fundamental para o crescimento do cenário. Segundo Helena, há uma tríade de critérios de noticiabilidade no jornalismo de esports: jogadores; competições e organização/Pro Player (dia a dia e movimentações dos times e jogadores profissionais). As matérias ajudam a compor a imagem dos clubes e profissionais, e, com informação de qualidade, a validar o setor e chamar atenção de investidores.
O trabalho de jornalista se mistura cada vez mais com o de influenciador e figura pública. A apresentadora avalia que isso não é algo ruim, contanto que seja lembrado o papel que deve ser desempenhado. “Quanto mais figura pública a gente é, mais alcance a nossa voz, a nossa informação têm, mas precisamos diferenciar a figura pública, o influenciador, do jornalista”, opina. “Vão ter oportunidades que a gente vai ser chamado para um evento por causa dos números no Instagram, mas antes disso a gente é jornalista. O que prevalece é o nosso compromisso com a formação de opinião e transmissão da informação”, pontua.
Audiência dos esports
Em 2024, a audiência dos esports vai chegar a 577 milhões de pessoas no mundo todo. A Newzoo atribui isso ao crescimento das competições em vários continentes, entre eles a América Latina. Se o cenário cresce, a cobertura jornalística dele também. Helena é otimista quanto ao futuro dos esportes eletrônicos e do jornalismo nesse nicho. “Diferente dos games, esports têm muito mais potencial de crescimento. Não é um mercado que vai estagnar, vejo um futuro brilhante”, avalia.
Ela aconselha que, para quem quer se inserir no meio, é importante se tornar conhecido pelas pessoas dentro dele, conversando com personalidades que admira e até mesmo entrando em contato com portais. “Mostre seu trabalho para as pessoas, cresça nas redes sociais, principalmente no Twitter. Esteja sempre ligado no que tá acontecendo, sempre comentando, que quando abrirem vaga, vão pensar em você”, finaliza a apresentadora.