Setoristas de futebol relatam os principais obstáculos impostos pela pandemia - Revista Esquinas

Setoristas de futebol relatam os principais obstáculos impostos pela pandemia

Por Matheus Thomeu Toaldo, Murillo Ferreira Bedoschi e Thiago Oliveira : julho 3, 2021

Jornalistas que acompanham o dia a dia de clubes brasileiros relatam as dificuldades que vêm enfrentando diante da crise sanitária

Os setoristas esportivos, peças-chave para a divulgação de informações que cercam os clubes de futebol, passaram a ver seus trabalhos sendo fortemente afetados pela pandemia. Muitos foram deslocados da parte futebolística para outras editorias.

Lucas Musetti, setorista do Santos pela Gazeta Esportiva, Luísa Sá, repórter do LANCE! e atual setorista do Fluminense, e Fred Gomes, setorista do Vasco pelo Globoesporte.com, contam sobre a mudança de cenário enfrentada por eles e como se adaptaram para continuar entregando informação de qualidade ao público.

CT fechado e o Home Office

Com a chegada do novo normal, os setoristas não podem mais entrar nos clubes para acompanhar os treinos. Por mais que, de alguns anos para cá, a maior parte dos treinamentos ocorresse com portões fechados, essa restrição total causa enorme impacto em suas rotinas. “O que a gente sente muita falta é o contato pessoal com possíveis fontes, quando você vai ao clube cria-se uma relação”, “Com o CT fechado, perde-se aquela conversa informal com pessoas ligadas ao time”. As frases ditas por Fred e Lucas, respectivamente, evidenciam o valor de estar presente dentro dos clubes, por menor que seja o tempo disponível para imprensa.

A experiência de trabalhar em casa, que se tornou comum com a chegada da pandemia, gera situações inusitadas durante o trabalho dos setoristas. Durante uma entrevista com o goleiro Muriel, Bruce, o cachorro da Luíza, resolveu participar.

Novo protocolo na rotina

A partir das restrições exigidas, que visam impedir a contaminação dentro dos clubes, o contato com os jogadores passou por uma grande mudança de protocolo. A maioria dos clubes se adaptaram para promover as coletivas de imprensa de forma virtual: “Todas as entrevistas e coletivas estão sendo intermediadas pelos assessores”, disse Fred. Mesmo com essa mudança, não foi o contato com os jogadores e comissões técnicas que sofreu as maiores consequências. Os setoristas reconhecem a necessidade das restrições, mas alegam que “numa linha geral, o impacto maior foi não ter jogo”, explica Lucas, setorista do Santos.

Durante os jogos, foi estabelecido um protocolo rígido: “Álcool e aferição de temperatura na entrada, túnel de descontaminação, preenchimento de questionário sobre sintomas, distância entre as cadeiras para a imprensa e dispensers de álcool” foram as medidas adotadas na Vila Belmiro, observadas por Lucas, que chegou a cobriu alguns jogos do alvinegro praiano. Apesar disso, não foram todos os setoristas que puderam ir aos jogos. Fred conta que não vai aos jogos do Vasco desde março do ano passado, pois o Globo Esporte adotou medidas para prevenir seus funcionários de maiores riscos: “Há um limite de IMC (índice de massa corporal) para cada setorista, justamente para evitar que as pessoas do grupo de risco sejam expostas”.

Os que não puderam trabalhar presencialmente nos jogos sentiram uma grande perda em relação à qualidade das matérias. Segunda Luíza Sá, “quando você está no estádio, você consegue ver o jogo de uma forma mais ampla”. Fred acredita que “no campo, às vezes, você enxerga situações que dão um belo furo de reportagem”.

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Surtos de Covid e a paralisação do futebol

Apesar de todas as medidas de segurança, houve momentos em que os setoristas correram riscos. “As eleições do Vasco, que foram realizadas em condições absurdas, com cerca de 3000 pessoas no ginásio” é um exemplo desses momentos, conta Fred. Além disso, durante a pandemia se tornou recorrente os clubes passarem por surtos de Covid. Enquanto aqueles que mantinham o contato com as pessoas de forma presencial estavam correndo risco, os clubes tinham receio de divulgar maiores informações sobre os casos. “No Fluminense é a assessoria que divulga”, explica Luíza, enquanto no Vasco, “A gente (setoristas) tinha que apurar com pessoas ligadas aos jogadores”, relata Fred.

De Março a Julho de 2020, o futebol sul-americano ficou paralisado por conta do aumento gradual dos casos de Covid-19, tanto em relação à população, quanto dentro do universo futebolístico. Fred conta que durante este momento, “a maneira que a gente (setoristas) fez para se reinventar foi apurando contratações e trabalhando com muitas efemérides”. Em relação ao atual momento, em que a vacinação já se iniciou, mas a quantidade de infectados continua batendo recordes, ele acredita que o futebol não vai parar. “Se parar, a nossa rotina vai continuar a mesma. As cobranças e obrigações permanecerão”, diz Luisa.

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