Milei e Massa: como os candidatos podem afetar as estratégias políticas e econômicas do Brasil  - Revista Esquinas

Milei e Massa: como os candidatos podem afetar as estratégias políticas e econômicas do Brasil 

Por Gabriel Castanho, Guilherme Pitta, João Pedro Peracini, Juliano Bertaco, Karoliny Gouveia, Sophia Rabassi e Stefhany Major : novembro 17, 2023

Javier Milei disputará o segundo turno presidencial da Argentina com o atual ministro da Economia, Sergio Massa. Foto: Reprodução/Juan Mabromata e Luis Robayo (AFP)

Corrida presidencial entre os dois candidatos que disputam o segundo turno das eleições argentinas interessa diretamente ao Brasil, um dos principais parceiros econômicos e políticos do país

Os argentinos foram às urnas no dia 22 de outubro para escolher quem irá governar o país pelos próximos quatro anos. Os resultados colocaram Javier Milei (Libertad Avanza) e Sergio Massa (Unión por la Patria) na disputa do segundo turno das eleições presidenciais da Argentina, que acontecerá no próximo domingo, dia 19 de novembro.

Diferentemente das amostras das pesquisas, Milei não foi o candidato mais votado, somando apenas 29,98% dos votos válidos, enquanto Massa, atual Ministro da Economia, chegou ao segundo turno com 36,68% da aprovação popular.

Ambos os políticos têm visões divergentes sobre o modo de agir em relação ao governo brasileiro: De um lado, Javier Milei, com seus discursos e críticas diretas à atual maneira de organização e posicionamento político da Argentina, que fizeram o  “anarcocapitalista” (como ele se autointitula) disparar na corrida eleitoral e chegar ao segundo turno.

Do outro lado, Sergio Massa, que adotou uma estratégia de apresentação mais moderada, e sua vitória no primeiro turno indica que o pragmatismo do candidato, que já possui relações com o Brasil, pode ajudá-lo a se sentar na Casa Rosada.

Relações históricas entre Argentina e Brasil

O vínculo de quase 200 anos entre Argentina e Brasil começou com uma guerra e virou exemplo de integração, tornando-se uma das mais importantes e complexas uniões da América do Sul. Os dois países compartilham uma fronteira extensa e têm desempenhado papéis significativos na política, economia e cultura da região ao longo da história.

Em termos diplomáticos, Brasil e Argentina têm um elo de cooperação e rivalidade. Ambos os territórios são membros do Mercosul, bloco econômico que visa promover o comércio e a integração regional, idealizado pelos dois países, mais Paraguai e Uruguai.

Ao longo dos anos, houve momentos de tensão e disputas, especialmente em questões comerciais e políticas regionais. Apesar disso, os países trabalharam para fortalecer os laços e buscar soluções conjuntas para desafios.

No campo econômico, Brasil e Argentina são parceiros comerciais importantes — em agosto de 2023, por exemplo, os países acordaram US$ 600 milhões para financiar exportações brasileiras para o país vizinho.

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Bandeira do Mercosul ao lado da bandeira do Brasil, simbolizando a parceria e integração na América do Sul.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

A proximidade geográfica e a complementaridade das economias são fatores que impulsionam o comércio entre elas. O Brasil importa cerca de 14% de toda produção argentina. Ambos os países são grandes produtores agrícolas e possuem setores industriais desenvolvidos.

A reportagem buscou analisar as atividades recentes e os discursos de cada candidato a fim de apontar as expectativas para o próximo mandato presidencial da Argentina em relação ao seu relacionamento comercial e diplomático com o Brasil.

Milei e o Brasil

Do outro lado da disputa, Javier Milei tem um histórico de críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que se iniciou em 2021, quando se fortaleceram os rumores de que Lula poderia concorrer à Presidência da República.

O episódio mais recente ocorreu quando o jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que a Argentina conseguiu um empréstimo milionário com o aval do governo brasileiro. Na reportagem, o veículo afirmou que Lula tinha influenciado a Corporação Andina de Fomento (CAF), também chamada de Banco do Desenvolvimento da América Latina, a emprestar US$1 Bilhão à Argentina.

Tratava-se de uma operação triangulada com o consentimento do Banco Central Argentino e do FMI (Fundo Monetário Internacional), e o dinheiro seria utilizado para pagar uma parcela ao fundo, que por sua vez, liberaria mais recursos aos argentinos, que pagariam a dívida com a CAF.

A iniciativa teria um impacto positivo na atual gestão presidencial do peronista Alberto Fernandez e do candidato apoiado por ele, Sérgio Massa. Isso fez Milei acusar Lula de atuar contra a sua candidatura e chamá-lo de “comunista furioso”. Diante dessas acusações, a Ministra do Planejamento Simone Tebet, negou em entrevista à CNN a interferência do presidente na tramitação.

“Lula não me ligou”, disse Tebet ao veículo.

Outro momento em que a preocupação com a saúde das relações entre Brasil e Argentina aumentou, foi quando o Partido dos Trabalhadores apoiou a campanha de Massa, coordenada pelo mesmo grupo de profissionais de marketing que fizeram as campanhas do presidente Lula e do candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, em 2022.

Em diversos momentos, Milei proferiu críticas aos Governos da China e do Brasil, dois dos principais parceiros comerciais do país. Durante as eleições de 2022 o candidato apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e chamou Lula de ex-presidiário.

Mais recentemente, acusou o presidente Lula de ser um “socialista com vocação totalitária” que se apropria da liberdade de imprensa. Sobre o cenário político brasileiro, o candidato argentino disse que Lula foi responsável pela tentativa de golpe de Estado, além de afirmar que as urnas brasileiras não são confiáveis.

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Javier Milei fala sobre o presidente Lula durante evento.
Foto: Luis Robayo/Reprodução

Segundo fontes do Itamaraty, o Brasil vinha dialogando com o Banco dos Brics, FMI e outras instâncias para ajudar a Argentina, terceiro principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China (1ª)  e dos Estados Unidos (2ª).

Os integrantes do governo Lula não escondem a preocupação com a possível vitória de Milei. Em entrevista à Reuters, o Ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou que uma eventual vitória do candidato preocuparia o governo. Ele ressaltou durante a conversa que acompanha a eleição da Argentina com interesse, principalmente pensando em uma América do Sul mais integrada, negociando com a União Europeia mais forte. O ministro considera, também, a eleição de Milei um “retrocesso diplomático” na relação entre os países.

Propostas internas, como redução de impostos e dos gastos públicos, reformas tributárias e a remoção do controle cambial não são as que preocupam. A postura do candidato frente às relações diplomáticas e econômicas da Argentina com outros países, tanto no bloco Mercosul quanto com EUA, China e Israel, por exemplo, é o principal problema de uma eventual vitória de Milei.

Brics

Milei expressou sua oposição à entrada do país no grupo Brics, após o anúncio feito durante uma reunião do Conselho das Américas, declarando que a Argentina não deveria se alinhar com o que ele chamou de “comunistas”.

Ao invés disso, enfatizou a importância do alinhamento da Argentina com os Estados Unidos e Israel, ressaltando também que esse fator não deveria impedir o setor privado de conduzir negócios com outros países, promovendo a ideia de comércio livre e deixando as decisões comerciais nas mãos do setor privado.

O Brics representa o agrupamento de cinco grandes economias emergentes, — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — que compartilham traços comuns, como um rápido crescimento econômico, influência regional significativa e, em muitos casos, sistemas políticos democráticos. A partir de 2024, Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos farão parte da aliança. Essa medida resultará em, aproximadamente, 46% da população global e quase 36% do PIB (Produto Interno Bruto) global.

Milei e o Mercosul

Entre as polêmicas propostas e declarações de Milei, uma das mais comentadas é seu posicionamento em relação a importantes parceiros comerciais da Argentina, como a China e o Brasil. Opiniões políticas contrárias à atual organização do Mercosul e ofensas ao presidente Lula preocupam o governo brasileiro.

“Acredito que o Mercosul é um fracasso. Não serviu ao povo, serviu apenas para negócios entre políticos e empresários”, disse o candidato em entrevista ao “The Economist”.

A reportagem ouviu o jornalista Ariel Palácios, correspondente da Globo News em Buenos Aires, que comentou sobre a complexidade de uma eventual saída argentina do bloco: “A entrada no Mercosul foi aprovada pelo parlamento naquela época, então isso seria muito difícil. Por isso, na prática, a saída do país é improvável”.

Milei afirmou também ser a favor de uma agenda de abertura unilateral: “Uma vez concluídas as reformas associadas a esta abertura unilateral, não acredito que o governo administre o comércio. É uma decisão privada, então você pode fazer comércio com quem você quiser”.

Eduardo Oviedo, professor titular de História das Relações Internacionais Contemporâneas na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, e pesquisador do CONICET (Conselho Argentino para as Investigações em Ciência e Tecnologia), analisou a importância de acordos econômicos para alavancar as exportações:

“O candidato Milei disse que o comércio privado pode realizar interações comerciais, mas que não afirmaria acordos com ditaduras. O problema é que não se pode desprender o setor público do setor privado. Se você quer vender um produto argentino no Brasil ou na China, é preciso firmar os acordos sanitários indispensáveis para que esse produto possa ingressar no país, então nisso o papel do Estado é importante.”

O candidato já associou publicamente o presidente Lula à imagem de um líder comunista em diversas oportunidades, o que pode significar uma busca argentina por outros parceiros comerciais caso o candidato seja eleito: “Milei propõe uma política exterior sem vinculação com ditaduras e com países comunistas. Em seus discursos, ele menciona os casos da China e de outros países, incluindo o Brasil, que ele tomou como um país comunista. Esses dois países são os maiores parceiros econômicos da Argentina atualmente e, por isso, ele tem planejado que sua política exterior vai ser baseada em dois aliados, no caso de Israel e dos Estados Unidos,  e, seguramente, com outros atores do mundo capitalista”, afirma o professor.

O internacionalista ainda afirma que o candidato eleito deve pautar os movimentos internacionais argentinos em interesses nacionais e não ideologias individuais, mas alerta: “É muito difícil fazer projeções para o futuro. Nós temos que ser prudentes quando analisamos esses cenários. Mas os candidatos se comprometem a fazer algumas ações acerca da política exterior e tentarão levá-las à prática”.

‘Dolarização’ do peso

Em mais uma de suas propostas controversas e polêmicas, Milei expressou sua intenção de substituir o atual peso argentino pelo dólar estadunidense como moeda oficial. A implementação dessa mudança não seria tão simples, pois exigiria a aprovação do Congresso.

A proposta tem como objetivo conter a crônica inflação que assola a Argentina e trazer estabilidade econômica para o país. No entanto, a dolarização não é uma medida isenta de desafios. Caso seja implementada, a Argentina perderia a capacidade de emitir sua própria moeda, tornando-se dependente da entrada da moeda estadunidense e de fontes externas para realizar qualquer transação financeira Antes de colher os potenciais benefícios da dolarização, o país teria que enfrentar o desafio de uma possível hiperinflação dos pesos argentinos, à medida que os cidadãos seriam forçados a converter seus pesos para dólares.

A primeira tentativa de dolarização da economia argentina, sob o governo de Carlos Menem, ocorreu na década de 1990, mas teve que ser interrompida em 2000 devido à insustentabilidade da medida. Os desafios econômicos e sociais que surgiram naquela época ainda são lembrados por muitos argentinos.

Um dos principais obstáculos que atualmente trava a dolarização na Argentina é a falta de reservas do sistema monetário no Banco Central do país. A instituição praticamente esgotou suas reservas, chegando ao ponto de limitar os saques de dólares pelos cidadãos, a fim de conter a fuga de divisas estrangeiras.

A atual situação econômica delicada do país torna a proposta de dolarização uma questão de grande importância e debate na campanha eleitoral, que envolve não apenas questões econômicas, mas também políticas e sociais.

Parlamento Argentino: eleições no país têm congresso fragmentado

Os dois candidatos que disputarão o segundo turno na eleição presidencial da Argentina têm o desafio de ampliar sua base de apoio, partindo, ambos, de um alto índice de rejeição no Parlamento Argentino.

O comportamento extremista de Milei pode garantir uma crise, caso ele seja eleito. Ariel conta durante a entrevista:

“É muito difícil para o país, muito complicado e bastante negativo esse comportamento. As ideias dele (Milei), não poderiam ser implementadas, o que leva o país para uma situação de crise”.

Na entrevista com Ariel Palacios, o jornalista falou sobre a presença do grupão no Brasil e da complexidade de governar sem esse apoio na Argentina: “Aqui não tem centrão, por exemplo: No Brasil, desde a época da república velha, todos os governos brasileiros, exceto no período da ditadura, tentaram alianças. Na Argentina não tem isso”.

Milei não vai ter como liderar tendo apenas 33% dos votos no Congresso, na visão de Ariel. “Como é que vai fazer para governar? Por decreto algumas coisas podem ser feitas, mas não tudo. Não vai ter como, e por isso mesmo ele diz que vai governar por plebiscito”, comenta o jornalista.

Para o jornalista, diferente do Brasil, os políticos argentinos estão interessados em alcançar a presidência e derrubar seus opositores e não pensam em apenas estar no poder, eles querem o poder central.

“Todos os grupos estão interessados em puxar o tapete dos outros, a oposição sempre vai fazer o possível para que o governo que está no poder caia. Aqui o pessoal é mais fominha que tudo”, finaliza Ariel.

Fim do Banco Central

O candidato de extrema direita é contra a existência do Banco Central. Em um documento enviado à justiça eleitoral em maio, Milei apresenta seus planos de governo para a economia, entre eles, está a eliminação do BC argentino para acabar com a inflação, além da reforma monetária, que permitiria dolarizar a economia.

Em entrevista ao Diário de La Nación, Carlos Rodríguez, economista formado pela Universidade de Buenos Aires, afirmou que seria preciso romper com a política monetária vigente.

Javier declarou que fará todo o esforço para evitar uma nova negligência na dívida do país caso vença as eleições em novembro. Seu plano inclui reduzir os gastos que são equivalentes a 13% do PIB antes de 2025, por meio da eliminação de ministérios e restrições de capital e subsídios que permitiriam às empresas fazerem transações em dólares americanos.

Um paralelo com os políticos brasileiros sobre as eleições

Apesar da possível saída da Argentina do Mercosul acarretar consequências negativas para as importações do Brasil, um lado da política brasileira vê com bons olhos a candidatura e o sucesso de Milei. A direita entende que a eleição do autoproclamado libertário é o principal meio para uma melhora na economia da região e os principais líderes do apoio brasileiro são Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, e Sérgio Moro.

Eduardo viajou até a Argentina para acompanhar as apurações do primeiro turno, em que deu entrevistas para a TV Argentina apoiando a proposta de Javier Milei sobre o porte de armas como “legítima defesa”, motivo que o fez ser cortado do programa ao vivo. Enquanto isso, o ex-ministro da Justiça e senador do Paraná, Sérgio Moro, defende a importância desta eleição para o fim do kirchnerismo. “Com Milei ou Bullrich, as eleições presidenciais representam a oportunidade para o ‘adiós’ ao kirchnerismo”, afirmou Moro antes da apuração dos votos.

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Eduardo Bolsonaro ao lado de Javier Milei.
Foto: Reprodução/X de Eduardo Bolsonaro

Usada pela direita para nutrir a esperança em uma retomada conservadora no Brasil, as eleições na Argentina preocupam a esquerda brasileira, que teme a influência de candidato na próxima votação na região, caso seja eleito. Para Ariel, se o governo de Milei for um sucesso, a extrema-direita brasileira pode utilizá-lo como um exemplo positivo, de modo que os próprios argentinos usam outra figura política de modelo. “Hoje, Bolsonaro não é exemplo de sucesso para a extrema direita da região. Eles estão paparicando o Nayib Bukele, presidente de El Salvador”, declarou o jornalista.

Bukele é exemplo para a direita sul-americana, principalmente pela maneira de lidar com os direitos humanos. O presidente salvadorenho suspendeu os direitos constitucionais dos cidadãos após o registro de 87 mortes em dois dias. O resultado exposto por Nayib, em suas redes sociais, é que o país não teve nenhum registro de morte em 365 dias (não consecutivos).

Promessas como porte de armas, diminuição de ministérios e eliminação de “privilégios” de minorias agradaram a direita brasileira, que comparou o líder argentino aos os ex-presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump juntos.

Por outro lado, a esquerda brasileira teme eleição de Milei. Para aqueles que estão no governo Lula, a confirmação do liberal como presidente seria um desastre econômico para o Brasil.

“Uma pessoa que tem como bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa”, afirma Fernando Haddad.

Ministros do governo Lula, como Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Pimenta (Secretaria Especial de Comunicação), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) torcem pela eleição de Sergio Massa e comemoraram nas redes sociais sua vitória no primeiro turno, principalmente em razão da preocupação com a possível saída da Argentina do Mercosul.

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Início da carreira de Sérgio Massa

Sergio Massa iniciou sua atividade política aos 27 anos, após se formar em direito e foi nomeado, em julho de 2009, Chefe de Gabinete do governo federal pela então presidente Cristina Kirchner — figura de influência no cenário político do lado peronista. Essa aliança se demonstrou conturbada, principalmente porque as ideias e soluções políticas eram divergentes, levando Massa a se afastar do cargo apenas um ano desde a nomeação.

Em 2017, após exercer funções de prefeito, deputado nacional e concorrer à presidência contra o candidato apoiado por Cristina, Sergio criticou diretamente o que antes era sua base de aliança: “Eu não vou à esquina com o kirchnerismo porque eles vão às eleições em busca de privilégios”. Apesar dos desentendimentos, uma reaproximação dos dois na coligação “Frente de Todos” resultou na vitória nas eleições de 2019, em que Alberto Fernández saiu como candidato à presidência, apoiado por Cristina Kirchner como vice e Sergio Massa como presidente da Câmara dos Deputados.

Contudo, o agravamento da crise política e econômica argentina, com uma inflação de quase 100% nos preços em 2022, fez com que o então ministro da Economia, Martín Guzmán, se demitisse após divergências com a vice-presidente e o aumento da pressão pública. Esse cenário levou Massa, com o apoio dos seus dois parceiros políticos, a assumir o controle do Ministério da Economia e de outras duas pastas econômicas em agosto daquele ano, cargo que até os dias atuais, Massa exerce.

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Cristina Kirchner, Alberto Fernandez e Sergio Massa.
Foto: Reprodução/AFP

Massa como Ministro da Economia

As políticas econômicas de Massa significaram um resultado negativo no panorama da crise: um aumento de 37 pontos percentuais na inflação em relação ao ano anterior, alcançando um recorde de 138%. Somado a isso, a moeda argentina desvalorizou 98,37% em comparação ao dólar desde 2013.

Esse contexto atinge diretamente a população do país, que agora possui 40% dos seus cidadãos em situação de pobreza, segundo o estudo de setembro deste ano feito pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Em um paralelo com o Brasil, um estudo da Universidade de São Paulo (USP) aponta que 21% dos brasileiros se encontram na mesma situação.

A principal proposta de Massa para superar a crise é buscar o fortalecimento das exportações, estimulando assim a circulação de dólares e a estabilização do peso.

A relação entre Massa e o governo brasieiro

A relação da Argentina com o Mercosul e seus acordos impactam diretamente o Brasil, principal país do bloco. As políticas de Massa pretendem contar diretamente com essa ligação: “Temo uma eventual saída argentina do Mercosul porque resultaria em mais desemprego no nosso país”, disse após a apuração dos votos do primeiro turno.

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Sergio Massa e Fernando Haddad durante encontro em Brasília deste ano.
Foto: Divulgação

Um resultado prático das pretensões de Massa na relação com o Brasil é, caso ele seja eleito, a construção de um gasoduto até o território brasileiro, que se concretizará nos próximos anos em conjunto dos dois governos. O candidato afirma ter muito afeto por Lula, Haddad e Gabriel Galípolo — o Diretor de Política Monetária do Banco Central brasileiro.

O candidato é visto como alguém próximo ao presidente Lula e ao Ministro da Fazenda Fernando Haddad e já se encontrou com os dois em exercício de seu cargo.

Editado por Mariana Ribeiro

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