Os perigos de passar mais tempo nos ambientes digitais e as precauções para oferecer mais segurança nas redes
O crescente uso das redes sociais, ação catalisada pela pandemia, não seria restrito à população adulta. As brincadeiras e jogos deixaram de ser limitadas a um espaço físico e foram para o mundo digital. Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil, 22 milhões de crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, possuem contas em redes sociais. A exposição de jovens nas redes representa o aumento da preocupação para os pais e responsáveis sobre o que seus filhos podem encontrar nesses ambientes.
Conforme dados da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do Instituto Interamericano da Criança (IIN), as tecnologias da informação deixam as crianças muito mais expostas a oportunidades, mas também a riscos, tornando-as alvos fáceis para os cibercriminosos.
O abuso sexual, o assédio e a exploração, que muitas vezes geram imagens com o propósito de compra e venda; sexting e sextorsão, o primeiro consistindo em troca de imagens íntimas por texto e o segundo na propagação dessas imagens, caso a criança não continue mandando; “grooming”, realizado por um adulto que ganha a confiança do jovem com a finalidade de abusar e explorar sexualmente; o acesso a conteúdos inapropriados, que podem prejudicar em seu desenvolvimento; publicação de informações privadas; o cyberbullying, que é a intenção de agredir, perseguir, ridicularizar ou assediar alguém por meio da internet; entre outros, são algumas das ameaças que esse meio facilita.
Segurança para crianças
Para lidar melhor com a segurança das crianças, a IBLISS Segurança Inteligência, cujo propósito é uma sociedade digital mais segura, criou uma iniciativa de Responsabilidade Social, o Projeto Sec4kids, que contêm materiais lúdicos que contribuem para entreter e educar as crianças sobre a importância de se proteger nas redes.
Além disso, é fundamental os pais manterem uma relação de diálogo com os filhos desde pequenos, com orientações sobre privacidade, como não revelar e postar informações pessoais; impor limites quanto ao uso dos dispositivos móveis; ter acesso a todas as senhas; acompanhar os sites visitados verificando o histórico do computador; alertar sobre o perigo de pessoas desconhecidas e cliques em links. Assim, quando jovens, já saberão lidar sozinhos com os perigos da internet e poderão desfrutar de sua privacidade com inteligência.
Existem alguns filtros de conteúdos e ferramentas de monitoração que ajudam na proteção das crianças e orientam melhor os pais sobre o assunto:
- Mecanismos de busca: Os pais e as crianças podem buscar diversos assuntos com a segurança de que na maioria das vezes são apropriados para as famílias. Alguns confiam em esquemas de filtragem e outros contêm listas de sites pré-selecionados que podem ser usados para a pesquisa.
- Ferramentas para bloqueio no envio de dados: Esses programas servem para impedir a criança de fornecer dado pessoais pela internet, como nome endereço, número do cartão, etc. Através da ferramenta, os pais também podem determinar uma lista de de remetentes e destinatários para os quais a criança pode enviar e-mails e controlar a participação do menor em salas de bate-papo online.
- Ferramentas de limitação de tempo, sites e palavras proibidas: Limita o horário os locais e as palavras a serem utilizadas na internet.
- Navegadores para crianças: Programas iguais aos navegadores normais mas que auxiliam o aprendizado no uso da internet, e direcionam para sites educacionais e de entretenimento.
- K9 Web Protection: os pais podem aplicar a “Safe Search”, recurso do Google que atua como um filtro de pornografia e conteúdos inadequados. Além de bloquear outros sites e colocar restrições de tempo;
- MetaCert: ferramentas de proteção para as crianças contra a pornografia online;
- Windows Live Proteção: programa gratuito desenvolvido para a proteção da família e principalmente das crianças. São permitidos vários usuários em um mesmo computador, além de permitir o gerenciamento de acesso de cada.
Assédio na rede
Em canais do Youtube, principalmente naqueles focados em crianças e jovens, inúmeros vídeos do website Omegle estão viralizando. Nele, pessoas de qualquer idade podem entrar e interagir com anônimos do mundo todo por chat ou vídeo.
Na sua descrição, o site diz “a internet é cheia de pessoas legais; Omegle permite você conhecê-las”. Por um lado, é possível fazer novas amizades. Por outro, é impossível não se deparar com indivíduos adultos e, até mesmo, com as próprias crianças mostrando e tocando em seus órgãos genitais.
E outro exemplo é o aplicativo Linkee, uma nova rede social que é alvo de pedófilos. Mesmo com o requerimento de dezesseis anos para o cadastro, as crianças são atraídas pela rede, pois esta não confere a idade e não contém público adulto. Porém, ao pesquisar o termo “pedófilo” encontra-se centenas de vídeos dos jovens reclamando de diversos tipos de assédio.
Em agosto desse ano, veio à tona no Twitter a hashtag “#savegarotinhadoomegle” apontando uma suposto abuso cometido na rede social em questão: um homem com uma garotinha tocando em suas partes íntimas. A tag repercutiu rapidamente ganhando um lugar nos Assuntos do Momento e fazendo com que outros abusos fossem denunciados, juntamente com contas que compartilhavam esse tipo de conteúdo.
De acordo com a psicóloga e neuropsicóloga, Kátia Cilene Moreschi, as crianças e os adolescentes que são vítimas deste tipo de abuso apresentam mudanças repentinas e, até mesmo, regressões nos padrões de comportamento, como: alterações de humor, agressividade, surgimento de medos, interesse repentino e exagerado por questões ligadas à sexualidade, isolamento, comportamentos sexualizados, entre outros.
Kátia adiciona que, por estarem em desenvolvimento e não possuírem maturidade para perceber situações de risco e suas consequências, as crianças acabam se tornando presas fáceis para os pedófilos e abusadores.
Em caso de assédio, como proteger as crianças?
Caso se descubra sobre um abuso que uma criança está sofrendo, a psicóloga frisa que é de extrema importância o modo como a conversa sobre o assunto será conduzida pelos pais, pois se feita de maneira incorreta, pode levar os jovens a se sentirem ainda mais culpados com a situação.
Ela aponta que a criança é vítima do ocorrido, e nunca a culpada, e que os responsáveis devem ter isso em mente e estarem dispostos a ouvir o que têm-se a dizer ao invés de duvidar dos acontecimentos, uma vez que, sem acompanhamento médico, a vítima, por estar em fase de desenvolvimento, sofre diversos impactos emocionais, sexuais e sociais, podendo desenvolver transtornos mentais.
Após uma conversa com orientações e explicações, é importante que os adultos guardem todas as provas de conversas que houve entre as crianças e o abusador, a fim de usá-las posteriormente em um eventual processo de denúncia.
Kátia afirma que o próximo passo é concretizar a denúncia, que pode ser feita pelo safernet.org.br, pelo Canal do Cidadão do Ministério Público Federal, ou pelo Disque 100.
Além disso, também existem as Delegacias de crimes cibernéticos, espalhadas pelo território brasileiro, em que todos os tipos de cibercrimes podem ser denunciados.
É importante ressaltar que a criança que vivenciou uma situação de assédio deve ter o acompanhamento de um profissional para que fale e lide com ocorrido em um espaço seguro, visando um não desenvolvimento dos impactos e transtornos.
Quanto à prevenção do assédio virtual, a profissional afirma que a educação sexual é uma medida preventiva essencial, somada à orientação dos pais, tendo em vista que as crianças, cada vez mais cedo, entram em contato com a imensa quantidade de informações e oportunidades disponíveis na internet, situação com a qual, muitas vezes, esses jovens não têm maturidade para lidar.
A partir do aprendizado sobre seu próprio corpo e dos limites entre o toque permissivo e o abusivo, as crianças seriam capazes de identificar o assédio mais facilmente.
Somando-se à esse conhecimento as diretrizes oferecidas pelos responsáveis sobre os perigos de uma superexposição virtual e o controle do que é acessado pelos jovens, teria-se números mais baixos quanto ao abuso nas redes, confirma Kátia. “A prevenção contra o abuso sexual na internet começa em casa”, conclui a terapeuta.
Uso abusivo de dados pessoais
Já foi o tempo em que os filmes sobre usos perversos da tecnologia eram obras de ficção. Hoje, o que os filmes antes previam como um futuro distante virou realidade mostrada em documentários sobre poderosas corporações fundadas em usos abusivos de dados de usuários.
Produzido pela Netflix, o documentário Privacidade Hackeada retrata os escândalos do Facebook e da Cambridge Analítica, empresa de tecnologia, ao utilizar informações de usuários da rede para modificar as eleições americanas de 2016, casos também relatados em outros países. Os métodos de manipulação de comportamentos geraram discussões e as empresas buscam se adaptar a legislações ao redor do mundo.Segundo dados da pesquisa Global Digital Overview 2020 realizada este ano pelo site “We Are Social” em parceria com a Hootsuite, sistema especializado em gestão de marcas nas mídias sociais, o Brasil é o segundo país do globo onde as pessoas mais gastam tempo na internet. Em média, cada usuário ao redor do mundo passa 100 dias por ano conectado às redes e, no Brasil, até fevereiro eram praticamente 9 horas e 20 minutos online e 3 horas e 31 minutos nas redes sociais.
Todos os dias, as pessoas expõem diversos tipos de informações que circulam nas redes. O lançamento de dados pessoais na internet acontece em inúmeras situações: nas redes sociais, em sites de busca e de compras, nos cartões de crédito, programas de fidelidade, e nos dispositivos móveis que contém cada dia mais informações sobre a vida das pessoas. Estar conectado com segurança é um grande desafio e exige muita atenção.
Barreiras ao abuso
A tentativa de criar barreiras para a exposição excessiva de dados dos usuários resultou na Lei Geral de Proteção de Dados. O projeto foi aprovado em 2018, com o intuito de definir o que é dado, seus usos, direitos do usuário, dentre outros. As restrições estão mais acentuadas para o setor privado do que para o público. Como se tratam de procedimentos previstos na lei, o consentimento fica dispensado para uso do governo.
A segurança digital é um importante segmento da TI (Tecnologia da Informação) e se dedica a bloquear as ameaças que estão presentes em todas as atividades realizadas. Seu papel é propor uma série de medidas para proteger dados, controlar a operação digital, evitar fraudes financeiras, entre outros riscos.
Para se proteger é essencial o uso de senhas fortes em suas contas, ter cuidado com os downloads, estar atento ao acesso à internet com redes Wi-Fi desconhecidas (redes com baixa segurança podem ser facilmente interceptadas), e é muito importante definir o limite de dados que se compartilha, tanto nas redes sociais e até em seu próprio dispositivo.
Como prevenir ataques e fraudes
Os computadores são mais vulneráveis a ataques cibernéticos, mas existem algumas práticas fundamentais que diminuem as chances de que isso ocorra, como por exemplo, a utilização de antivírus, que é uma proteção básica para o sistema operacional do computador. A instalação de firewall (dispositivo que aplica parâmetros de segurança), obtenção de VPNs (rede virtual privada) e fazer backups com frequência são outras maneiras de proteger os computadores. Já nos celulares em que o envio e gerenciamento de dados é intenso, é importante a utilização da verificação em duas etapas, que garante que contas só sejam acessadas por seus próprios usuários, e ainda, o uso de notificações de segurança, que avisam aos usuários caso suas contas estejam sendo acessadas por outro dispositivo ou em um outro local.
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