Na pandemia, reality shows têm recorde de engajamento, e participantes temem o cancelamento - Revista Esquinas

Na pandemia, reality shows têm recorde de engajamento, e participantes temem o cancelamento

Por Antonia Oliveira, Geórgia Ponce e Giovanna Garcia : abril 15, 2021

Psicóloga ainda diz que desestabilização emocional dentro dos programas é estratégia das emissoras

“O dia a dia alterado pelo isolamento social refletiu diretamente na audiência”, é o que diz Jojo Todynho, vencedora da última edição de A Fazenda, sobre os reality shows durante a pandemia. Os dados comprovam a fala da cantora. Segundo informações divulgadas pelo Twitter, o BBB20 foi o tópico mais comentado do ano na rede. A edição também detém o recorde mundial de maior quantidade de votos do público recebidos por um programa de televisão: 1,5 bilhão – com o paredão entre Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzalez. Em 23 de março de 2021, dia da eliminação de Carla Diaz, foram contabilizados 2.988 milhões de votos em apenas 60 segundos, número nunca antes alcançado em outra edição do BBB.

Por que o crescimento na pandemia?

A neuropsicoterapeuta Patrícia Pires acredita que, com o isolamento social, as pessoas tiveram um contato mais próximo com suas emoções, que poderiam passar despercebidas em meio à rotina agitada. Essa percepção evidenciou o tema da saúde mental, antes mantido em sigilo. “Eu sempre assisti ao Big Brother. Sou psicóloga e sempre falei que aquilo para mim era um laboratório, são pessoas reais. Sempre fui muito julgada por assistir, mas, hoje em dia, eu realmente vejo as pessoas com menos vergonha de falar que acompanham porque, agora, falar sobre inteligência emocional, razão e emoção está em voga”, ela explica.

Não só o envolvimento do público aumentou, mas o de celebridades. A integração de famosos no elenco foi um diferencial para alavancar os níveis de audiência dos programas. Jojo Todynho, por exemplo, ao ser questionada sobre falas antigas de que nunca participaria de um reality show, relata que a pandemia fez com que ela mudasse de opinião. Jaquelline, ex-participante do BBB 18, participaria outra vez de um reality, dessa vez, durante a pandemia, e acha que “seria muito legal e com novos desafios”.

 

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Dentre os novos desafios citados pela ex-sister, há o cancelamento: quando uma pessoa é removida de uma posição de influência e/ou boicotada por comportamentos considerados questionáveis. Essa é uma pauta que só ganhou visibilidade nos últimos dois anos, visto que, em 2018, Jaquelline “nem sabia o que era cancelamento e nem imaginava como seria após minha participação”. Em 2020, já na pandemia, Jojo afirma que “em determinados momentos, fiquei preocupada em estar sendo cancelada do lado de fora”.

 

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Como deve ser um elenco que entretém na pandemia?

Patrícia Pires aponta que há um planejamento na escolha do elenco. “Pessoas se conectam com pessoas. Então, eles colocam quem está levantando as bandeiras que estão na moda atualmente. São militantes, pessoas jovens, que têm voz”. Além disso, sabendo da demanda dos telespectadores por desentendimentos entre os participantes, as emissoras utilizam recursos pensados para causar desconforto nos competidores. “Falta de comida, falta de espaço, pessoas de culturas muito diferentes, tudo isso faz com que haja muitos conflitos. Querem desestabilizar a saúde mental do participante, a maioria ali é gerenciada pela emoção e, quando a emoção vem, não tem como controlar. Aí, vem as brigas e as discórdias e a audiência vai aos píncaros”, conclui a terapeuta.

No entanto, a priorização da audiência sobre a saúde mental é controversa. Na edição atual do Big Brother Brasil, a hashtag #TorturaPsicólogaNãoÉEntretenimento ficou famosa após o participante Lucas Penteado desistir da competição. A psicóloga esclarece que “é preciso um bom senso de quem está fazendo o programa, o povo percebe tudo. Infelizmente, o intuito é fazer dinheiro para a emissora. Então, eles estão muito mais focados nisso do que no bem-estar dos participantes, e se o mal-estar dos participantes aumenta a audiência, aumenta os lucros deles também”.

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