Jornalista musical e público que estava com ingresso na mão falam sobre expectativas e decepções em relação ao Lollapalooza 2020
Era outubro de 2019, e o Lollapalooza Brasil anunciava o tão esperado line up do festival que aconteceria em abril de 2020. Como ninguém podia prever o que estava por vir no próximo ano, jovens de todo o Brasil se apressavam para comprar os ingressos, já no terceiro lote, que custavam de R$950 a R$3900 e garantiam acesso aos três dias de show.
Uma dessas pessoas é a estudante de fisioterapia Camila Nicolau, de 19 anos, que garantiu seu passe para ouvir os headliners Guns N’ Roses, Travis Scott, The Strokes, Lana Del Rey, Martin Garrix e Gwen Stefani, entre outros artistas.
Mas no dia 13 de março de 2020, com a chegada da pandemia de coronavírus, foi anunciado o adiamento do festival. O evento, que aconteceria nos dias 3 a 5 de abril, passou para a primeira semana de dezembro do mesmo ano. A princípio, os headliners haviam sido mantidos.
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Mais tarde, no dia 4 de setembro de 2020, o festival foi novamente adiado, agora para setembro de 2021, e com line up em aberto. No final deste abril, porém, foi emitido um comunicado anunciando uma nova data: o Lollapalooza Brasil 2020 será em 2022, nos dias 25 a 27 de março, e ainda não tem programação definida.
Consequências do adiamento do Lollapalooza
Tendo em vista a alta transmissibilidade do coronavírus, é inviável realizar um festival que promove aglomerações de milhares de pessoas enquanto a população não estiver vacinada. Mas mesmo quando isso acontecer, Camila não comparecerá na nova data. Para ela, o problema não é a crise sanitária, e sim seus compromissos com a faculdade fora da cidade de São Paulo. “Ter uma data incerta não colabora para o meu planejamento”, afirma.
Já havendo segurança sanitária e um line up semelhante ao divulgado em 2019, a presença da estudante de engenharia de alimentos, Cecília Pimentel, também de 19 anos, estará confirmada. Como ela, muitos brasileiros não veem a hora de voltar a se aglomerar. Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), o percentual de pessoas dispostas a ir a eventos em julho de 2020 era de 25%. Em janeiro de 2021, chegou a 58%, apesar do agravamento da pandemia.
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Choque no setor de eventos
O impacto da crise sanitária sobre o serviço de eventos foi brutal. Uma pesquisa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) aponta que 98% do setor foi afetado pela pandemia. Segundo reportagem da CNN, o ramo teve prejuízo de R$270 bilhões entre março e dezembro de 2020.
Um evento de grande porte como o Lollapalooza emprega, além de artistas, muitos outros trabalhadores em diversas áreas. O adiamento de festas, shows e festivais foi catastrófico para essas pessoas, que, em geral, viram suas receitas secar. As perdas do segmento, que representa 13% do Produto Interno Bruto (PIB), levaram três milhões de trabalhadores ao desemprego e são reflexo da situação econômica do País.
Segundo o jornalista musical José Norberto Flesch, o contexto financeiro atual também impacta os compradores e frequentadores do Lollapalooza, um festival de elite cuja maior parte do público é de jovens adultos.
Para piorar, metade do público do Lollapalooza não é de São Paulo, e o mercado de viagens também foi bastante afetado pela crise sanitária. De acordo com um relatório do Novo CAGED, no primeiro semestre de 2020, o saldo entre contratações e demissões na área do turismo foi negativo em 364.044 vagas de emprego. Hotéis e demais estabelecimentos ligados ao setor sofreram forte retração com a chegada da pandemia e o consequente adiamento do festival.
Como será o próximo Lollapalooza
Apesar de o Brasil estar longe do fim da pandemia, e consequentemente do próximo Lollapalooza, algumas mudanças já são pensadas para quando o festival voltar a acontecer. Dentre elas, o jornalista destaca a necessidade de apresentar um exame negativo para a covid-19 e a limitação no número de pessoas, como já ocorre em alguns eventos no exterior.
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Além disso, o repertório pode sofrer mudanças, tanto pela disponibilidade dos artistas quanto pela situação do Brasil na mídia internacional. Dessa forma, os músicos podem não se sentir confortáveis com a ideia de viajar a um país visto como uma fábrica de variantes do vírus e uma ameaça mundial. Por isso, aponta Flesch, a mudança no perfil dos artistas do festival é uma possibilidade.
Para ele, o Lollapalooza não terá, necessariamente, um line up mais nacional, “mas pode existir uma dificuldade na contratação de artistas”. Ele também destaca que o dinheiro é um fator muito importante para os cantores: “Com turnês acontecendo lá fora, artistas vão sondar a possibilidade de vir. Daí entra o fator ‘onde é mais rentável para mim?’”.
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