Após um ano e meio parados, organizadores de eventos musicais contam sobre suas principais perdas e as perspectivas para a volta do trabalho com público
Desde que a OMS decretou a pandemia da covid-19, todos os eventos presenciais de música e de entretenimento ficaram paralisados. Festivais de grandes públicos, como o Lollapalooza – previsto para ocorrer em março do ano passado -, tiveram de ser adiados e utilizarem diferentes alternativas para a devolução do dinheiro de quem já havia comprado ingresso.
Os eventos de menor porte, como aqueles de casas noturnas e as festas universitárias, também tiveram que parar e muitos produtores e organizadores ficaram sem sua principal fonte de renda.
Mesmo sabendo que alguns empresários usaram a promoção de festas clandestinas para driblar o isolamento, Guilherme Fernandes, sócio de quatro casas noturnas no estado de São Paulo, optou por respeitar o momento vivido e não organizou festas e eventos desde o início do período de isolamento, em março de 2020: “Eu fui um dos caras que respeitou a pandemia e não abri. Eu não iria ficar em paz com o vírus rolando. Além disso, eu me posicionei – contra a abertura – e tive o apoio da prefeitura e de grande parte da população”, explica.
@factual900Conversamos com uma infectologista para tirar a dúvida “já pode aglomerar?” #foryoupage #fy #foryou #covid #covidvaccine♬ original sound – Factual900
Abrir novas portas na pandemia
Quase um ano e meio passado e ainda sem poder trabalhar como antes, organizadores de eventos como o Guilherme tiveram de se reinventar durante todo esse tempo, investindo em si próprios e se programando para assim que seja liberada a volta dos eventos presenciais, estejam mais preparados do que nunca: “Eu trabalhei muito, mas não monetizei. Eu investi em mim, trabalhei meu networking, estudei e terminei minha pós-graduação”, afirma Guilherme.
Entretanto, vale ressaltar que nem todos tiveram a mesma “sorte” que Guilherme teve durante o período, muitos trabalhadores do mesmo ramo não suportaram as condições impostas pela pandemia e tiveram que interromper seus negócios, cancelando eventos já marcados e fechando suas respectivas casas de shows.
De acordo com o empresário, o que vem o mantendo até aqui é o fato de ter inaugurado uma casa pouco tempo antes do início da quarentena: “Como eu tinha acabado de inaugurar uma casa e, logo que você inaugura, você faz uma grana alta, eu tinha um dinheiro em caixa. É isso que está me mantendo até hoje”, explica.
A pandemia também fez com que produtores de eventos universitários, que dependem do público para se sustentar, criassem alternativas para lidar com esse período, em que não conseguiriam promover seus eventos e shows.
Eduardo Vaz, Head de Marketing da Gruppo, uma das mais relevantes produtoras de eventos universitários de São Paulo, afirmou que a empresa, assim como o organizador de eventos Guilherme Fernandez, também não produziu eventos durante a pandemia: “Não realizamos nenhum evento desde 7 de março de 2020″.
Para se sustentar durante esse período, a Gruppo teve que buscar novos negócios: “Durante a pandemia, a Trupe, nossa frente de Brand Experience, se tornou a frente com mais impacto na network, durante esse período atendemos a Ambev com o produto Mike’s realizando home sampling, criamos DNVBs em nossa frente de e-sports, entre outros produtos criativos”.
Seguimos no imprevisível
A questão da devolução do dinheiro para pessoas que já haviam comprado o ingresso antes da pandemia começar também foi um incômodo para produtores e organizadores de eventos e revoltou alguns consumidores, já que durante a pandemia, não é possível fazer uma previsão definitiva sobre a volta dos eventos e, portanto, a maioria dos consumidores optaria por um reembolso ao invés de esperar por uma nova data.
A infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen destaca essa imprevisibilidade do coronavírus: “Planejar é importante, mas afirmar diante da covid-19 é bastante difícil”. Porém, no início de abril de 2021, o governo editou uma medida provisória determinando que as empresas não são obrigadas a reembolsar os consumidores pelo cancelamento de pacotes turísticos ou eventos culturais – como shows e sessões de teatro – devido à pandemia. As empresas poderão remarcar os serviços cancelados, disponibilizar créditos para outros serviços ou fazer outro tipo de acordo com os clientes.
O retorno dos eventos
No Estado de São Paulo, as festas universitárias já reestrearem legalmente. O governador João Dória (PSDB) liberou a retomada desses eventos a partir do dia primeiro de novembro.
Em entrevista à Factual 900, a Gruppo, produtora de eventos, disse estar confiante com o retorno: “Acreditamos que a partir de novembro estará bem encaminhada a retomada. Depois de muitos estudos, vimos que é seguro agendar os eventos para o fim do ano de 2021 e início de 2022”.
Para o dia 17 de dezembro de 2021 e 29 de janeiro de 2022, a Gruppo planeja duas festas, com atrações e locais confirmados. Além disso, a comercialização de ingressos já foi iniciada. A produtora afirma “que algumas referências internacionais serão adotadas, como a obrigatoriedade do passaporte das duas doses da vacina”.
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Essa esperança também se aplica a produtores de eventos em casas noturnas. Guilherme Fernandes afirma que a vacina é a solução para a retomada efetiva.
Ele acredita que os comprovantes de vacinação podem ser uma boa ferramenta para uma retomada mais segura, sempre de forma legalizada no âmbito institucional e de conformidade legal do estado e do município. “O que os órgãos competentes e especializados falarem, eu vou seguir à risca”, diz.
Guilherme está esperançoso e acredita que – para as casas que sobreviveram – com a vacinação haverá uma retomada rápido no setor de eventos. Ao seu ver, isso se dará porque a pandemia criou uma “demanda reprimida” e “existe uma ansiedade pela volta de eventos e festas”. Apesar disso, Guilherme também diz que essa realidade não é para todos. “Infelizmente os que já fecharam dificilmente vão se reerguer.”
A infectologista Larissa Tiberto acredita na normalização completa nesse setor de eventos, porém, apenas em 2022. Segundo a médica, após a volta, mesmo com a vacinação completa, será necessário tomar alguns cuidados como a higienização das mãos e o não compartilhamento de objetos pessoais (copos, canudos e talheres). Leia a entrevista completa no Twitter da Factual 900.
🦠 Sobre cuidados necessários para tomar nos shows, mesmo depois da vacinação completa, Larissa acredita na importância da higienização das mãos, não compartilhamento de objetos pessoais (copos, canudos, talheres) e distanciamento social.
— factual900 (@factual900) August 24, 2021
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