Pandemia promove "boom" do e-commerce, mas nova geração busca práticas mais sustentáveis de compra - Revista Esquinas

Pandemia promove “boom” do e-commerce, mas nova geração busca práticas mais sustentáveis de compra

Por Analuá Baptista, Diovanna Monte, Isabella Zacharias, Julia Brito e Larissa Cassano : fevereiro 12, 2021

Venda de alimentos e eletrônicos aumentou, mas muitos agora se preocupam com consumo consciente

As vendas e consumo online, também conhecidos como e-commerce, deslancharam com a pandemia. A resistência do brasileiro a comprar sem ver ou tocar os produtos foi por terra logo no começo do isolamento social. O comércio digital aumentou 47% no primeiro semestre de 2020, de acordo com pesquisa da Ebit/Nielsen, sendo essa a maior alta em duas décadas.

“Tem muita gente nova comprando no e-commerce que não comprava e muita gente que não vendia no e-commerce que começou a vender”, explica André Santini, especialista em marketing e comunicação, durante uma live para o Instagram da Factual900. Isleide Arruda Fontenelle, socióloga e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), acrescenta: “O consumo se tornou mais forte justamente pela ‘busca por distrações e compensação’ durante a pandemia”.

De acordo com uma pesquisa do Think Google, além da alimentação, o consumo de produtos de higiene pessoal e limpeza cresceram 53% e 45%, bem como o uso dos serviços de delivery, que aumentaram 37%. “Como estamos mais dentro de casa, estamos preocupados com o que a família toda vai consumindo”, diz Santini.

O boom do e-commerce está vinculado à reinvenção da sociedade do consumo, ou seja, uma sociedade na qual o consumo é estimulado o tempo todo. De acordo com a professora Fontenelle, o mundo está se tornando cada vez mais digital, algorítmico e virtual. Mas esse despertar digital é acompanhado de um movimento de maior conscientização em relação ao consumismo, sobretudo entre os mais jovens.

Geração que consome de forma consciente

Letícia Martins, 18 anos, é estudante de artes visuais pela FMU e conta que é vegetariana há quase dois anos. “Eu assisti a um seminário na escola que me marcou muito sobre essa questão. A quantidade de gasto de água que tem, a poluição, todo esse ‘rolê’ de degradação. Comecei a pensar nisso e um tempo depois virei vegetariana”, relata.

Letícia também é consumidora de brechós desde 2018. Ao pesquisar sobre consumo sustentável dentro da moda, descobriu os impactos da indústria têxtil, como o trabalho escravo e a produção por trás de grandes marcas. Isso explica o sucesso dos brechós físicos e online nos últimos anos. Impulsionado pelos millennials, geração considerada a mais consciente em relação ao consumo, o Enjoei é um site que conta com cerca de 7,5 milhões de usuários empenhados em vender e comprar produtos usados.

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Consumo com pegada ecológica

Guarda-roupa sustentável

O caminho da sustentabilidade

 

A youtuber Barbara Graves, usuária da plataforma, diz que o desapego é um exercício que deve ser praticado. “É muito bom porque te liberta das coisas materiais e é sustentável, você tá comprando algo que não vai para o lixo”. O “armário-cápsula” é outro conceito que, apesar de ter surgido nos anos 1970, vem ganhando destaque nas redes sociais. A ideia principal é a escolha de peças essenciais, versáteis e com durabilidade maior para fugir do modelo de consumo do fast fashion, responsável pelo descarte de roupas que contribuem para a emissão de substâncias tóxicas.

A prática é uma ótima alternativa para quem quer controlar o consumo individual. A também youtuber Ana Desidério defende que com o minimalismo começou a comprar qualidade. Ela conta que, apesar de manter um guarda-roupa compacto, as roupas, na maioria das vezes, eram baratas. “É ruim porque elas estragam muito rápido. Isso não é nada sustentável para o planeta, porque você descarta cada vez mais tecido, e nem para o bolso porque você gasta mais a longo prazo.”

Consumo e posicionamento político

Para a antropóloga Shirley Torquato, a geração mais jovem é menos ligada às tradições e aos padrões de compra consolidados porque tem uma facilidade maior em aderir ao “consumo político”. Ou seja, o boicote a empresas que utilizam trabalho escravo ou semi-escravo, que compram sementes transgênicas ou que utilizam fertilizantes não saudáveis.

“Isso está muito associado a um posicionamento político, vai muito além dessa questão da reutilização de roupas. Tem o movimento vegano, que é político também, consumo sustentável. Então acho que essa época que a gente está vivendo dá abertura para muitas escolhas e novas formas de consumir”, diz Torquato.

A crise ambiental força a sociedade a repensar seus hábitos de consumo que exploram recursos naturais, devastam florestas, esgotam recursos renováveis e contribuem para a obsolescência programada, lógica em que os produtos são feitos para serem descartados e substituídos rapidamente.

Essa mudança de comportamento individual, junto de sistemas de produção mais limpos e com a promoção de políticas de reciclagem, reutilização ou reaproveitamento dos produtos não utilizados, pode caminhar para um futuro que priorize a natureza e a saúde.

Quer saber mais sobre o assunto? A Factual900 produziu três episódios sobre consumo na pandemia, para acessar, basta clicar aqui ou no link abaixo:

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