Por que é tão difícil fazer com que os parques de São Paulo saiam do papel?
Na correria rotineira dos paulistanos, os ambientes públicos, como praças, parques e áreas de lazer, podem ser importantes espaços de socialização entre moradores. É lá que muitos deles se sentem pertencentes aos bairros em que vivem. Segundo Valter Caldana, professor adjunto de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, esses espaços “recebem todo tipo de gente e têm múltiplas funções, têm um grande significado na vida das pessoas”. Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo, concorda: “É um local muito importante para a coesão social e para a democracia”.
Contudo, os parques sempre ficam em segundo plano na capital paulista. A movimentação de pessoas pelas zonas verdes de São Paulo se concentra no Ibirapuera, no Carmo e no Villa Lobos. O Ibirapuera foi concedido à iniciativa privada em outubro de 2019 devido a interesses econômicos e à falta de um Plano Diretor que garantisse a preservação do parque. O Carmo, por sua vez, pegou fogo no início de novembro de 2019. Segundo informações do Corpo de Bombeiros, o incêndio consumiu uma área de mata de reserva, unidade de conservação e proteção integral.
O estímulo à criação de novos ambientes ecológicos e à manutenção deles em meio ao concreto caminha, portanto, a passos lentos na capital paulista, o que leva à reflexão: se os ambientes públicos, como os parques, são tão importantes, por que não incentivar novas possibilidades de contato com a natureza?
Rodrigo Ravena, chefe de gabinete da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), explica que, no processo de criação de um parque, é preciso privilegiar a mata existente, evitar a cimentação do solo e pensar na função paisagística de interação com o público.
Segundo Ravena, a meta é lançar, até 2020, dez novos parques na cidade. Porém, todos dependem de negociação, principalmente quando a área exige intervenção de outros setores. “Em maior ou menor grau, todos os projetos impactam a sua vizinhança”, completa.
O chefe de gabinete acrescenta que está em curso o Plano Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livre, um trabalho que define uma política de provisão, gestão e proteção de áreas verdes do patrimônio ambiental do município de São Paulo. A partir de uma pesquisa realizada entre os habitantes, o funcionamento e a gestão de parques municipais serão adaptados ao perfil, frequência de uso, formas de acesso e tempo de permanência dos frequentadores nesses espaços.
Nestas páginas, ESQUINAS revela em que estágio está a criação de três novos parques na região central da capital paulista.
Parque Augusta
O terreno entre a Rua Caio Prado e a Marquês de Paranaguá é um exemplo recente da demanda dos paulistanos por parques. A área, que abrigou o antigo colégio Des Oiseaux, deveria se tornar um jardim público em 1970, mas uma decisão da Câmara Municipal a devolveu aos antigos proprietários. Quase meio século depois, a Prefeitura finalmente consolidou o acordo que permite a criação do Parque Augusta.
Com a vegetação original composta por espécies remanescentes da Mata Atlântica, o espaço contará também com um boulevard de ligação com a Praça Roosevelt, na Consolação. O fim das obras está previsto para 2020.
Parque da Mooca
A área, que fica entre as ruas Dianópolis e Barão da Monte Santo, inicialmente estava contaminada por benzeno e fenol e pertencia à petroleira Esso. Ela foi comprada pela Construtora São José, responsável pela reabilitação do local. Em 2016, a empresa iniciou negociações com a Prefeitura para ceder metade do terreno ao projeto do Parque da Mooca. Entretanto, até o momento, nenhuma obra foi iniciada.
Os moradores da região apoiam a criação do espaço verde e acreditam que ele seria essencial para a melhora da qualidade de vida do bairro. Demetrius Munhoz, morador do bairro há 15 anos, afirma que o projeto seria muito interessante do ponto de vista ambiental e cultural para seus vizinhos. “Acredito que seria uma importante área de lazer para a população que vive nas nossas imediações”, explica.
Minhocão
Inspirado no nova-iorquino High Line Park, o Parque do Minhocão divide opiniões. A ideia do prefeito Bruno Covas de transformar o Elevado João Goulart em uma área verde não recebeu apoio de arquitetos e, principalmente, de moradores da região. Além de ser um projeto utópico e caro, afetaria diretamente a vida dos habitantes ao seu redor.
Tanila Savoy, vizinha do Minhocão há 12 anos, é membra do movimento que pede pelo seu desmonte e acredita que o parque seria apenas “mais um gasto absurdo de dinheiro público”. Roberto Amado, que vive entre o possível espaço verde e o Parque da Água Branca, reconhece os diversos benefícios de uma área arborizada. Contudo, concorda que o plano não é atraente. “Dessa forma, é fundamentalmente elitista e restritivo. Contempla ciclistas e skatistas da região, afinal, é uma pista, nada mais. Além disso, a circulação do ar é muito ruim e a proximidade de prédios é comprometedora”, critica.