Os esportes femininos vêm ganhando destaque, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido até a igualdade
Há 40 anos, as mulheres ainda eram proibidas de praticar esportes que não condiziam com sua “natureza”. Durante a ditadura do Estado Novo, Getúlio Vargas assinou o Decreto-Lei n. 3 199, de 14 de abril de 1941, que proibia quase qualquer tipo de esporte para as mulheres, por “masculinizarem” a essência feminina. Enquanto isso, o Brasil já era chamado de “país do futebol”.
O decreto de Vargas caiu em 1979 mas, mesmo com toda a precariedade e falta de investimento, as mulheres ainda lutam por espaço no meio esportivo. A história da mulher na sociedade não é diferente da do esporte feminino: ambas são marcadas por desigualdade, preconceito, assédio e falta de oportunidades, alguns dos obstáculos enfrentados por atletas do mundo inteiro para se manterem no esporte.
Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), a participação de mulheres nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro aumentou 10% em relação à última competição, levando mais de 5 mil atletas à capital fluminense. Esse número se tornou um recorde das Olimpíadas, seguido pela edição de Londres, com 4.676 atletas. As mulheres representaram 45,29% dos esportistas inscritos e, com esse crescimento, as organizações responsáveis precisaram se adequar e abrir espaço para elas.
Outra conquista muito importante foi a cobertura da Copa do Mundo de 2019 na França. Além de levar olhares do mundo todo ao futebol feminino, foi a primeira vez em que houve transmissão da competição inteira em TV aberta e fechada no Brasil. Grandes portais de notícias, como El País e O Globo, comentaram sobre a grande de audiência alcançada pela Seleção Feminina. Na derrota do Brasil para as anfitriãs, mais de 30 milhões de pessoas acompanharam a partida por aqui, batendo o recorde da programação normal. Os quatro jogos da seleção brasileira reuniram 892 mil telespectadores brasileiros, um passo grande para o futebol feminino, que, mesmo recebendo pouca atenção da CBF, brilhou em direção a um futuro de igualdade.
Essas conquistas muito suadas não excluem, infelizmente, o descaso, a precariedade e a instabilidade do esporte feminino no Brasil. É fato que as condições para as práticas esportivas já evoluíram muito, mas ainda não chegamos nem perto da igualdade de gênero no esporte. Todos os dias uma mulher perde patrocínio por engravidar, ou até mesmo não o consegue, pois não tem a mesma visibilidade de um homem em modalidades iguais. Ainda existe um abismo em relação ao investimento aplicado e ao prestígio dado, mas isso não diminui tudo o que foi conquistado até aqui.