Esportistas adeptos ao veganismo desmistificam a ideia de que é necessário ingerir alimentos de origem animal para manter a alta performance
O vegetarianismo e o veganismo crescem mundo afora e, no Brasil, isso não é diferente. Um estudo encomendado pela Sociedade Vegetariana Brasileira e realizado em 2018 pelo Ibope aferiu que cerca de 14% dos brasileiros se consideram vegetarianos. Mas é possível ser vegano e continuar praticando esportes em alto nível? Muitos atletas mostram que sim. Nomes reconhecidos mundialmente como a tenista Venus Williams, o jogador do Manchester United Chris Smalling e o ultramaratonista norte-americano Scott Jurek são exemplos.
O veganismo é o vegetarianismo estrito, ou seja, que não utiliza nenhum produto de origem animal em sua dieta, desde carne até leite e ovos. Esse estilo de vida não se restringe aos alimentos. Grande parte dos veganos busca também não usar roupas e outros produtos que tenham sido testados em animais ou que sejam prejudiciais ao meio ambiente.
O jogador de futebol Guilherme Fioravanti, brasileiro e ex-lateral esquerdo do time suíço SC Cham, diz que sua transição para o veganismo foi motivada pela preocupação com o bem-estar animal. “O que era mais importante, o sofrimento animal ou meu paladar?”, questionou o atleta, vegano há dois anos.
O motivo para não ter iniciado a dieta vegana antes era o receio de não conseguir suprir a quantidade de nutrientes necessária. Começou com ela enquanto morava na Suíça, após saber que o homem mais forte do mundo, Patrik Baboumian, é vegano, e fez um acompanhamento básico com o nutricionista de seu time. “Na Europa foi muito fácil manter [a dieta], eu mesmo fazia a comida e todos os supermercados eram muito bem preparados para veganos e vegetarianos”, afirma.
Segundo a nutricionista Marcela Worcemann, é preciso ingerir os macronutrientes – carboidrato, proteína e gordura –, sendo vegano, vegetariano ou onívoro. “A ideia de que o atleta tem que ingerir carne ou outros produtos de origem animal é um mito. Ele precisa ingerir proteína. Tanto faz se ela vem de origem animal ou vegetal”, afirma Worcemann. Ela explica que todos os aminoácidos essenciais estão presentes no reino vegetal, só variando a quantidade em cada produto.
Há sete anos, a ultramaratonista e nutricionista Mariana Scarpelli também é vegana. Sua dieta consiste principalmente em leguminosas, verduras, frutas e temperos naturais. “Para complementar o aporte calórico, utilizo suplementos proteicos à base de ervilha, quinoa, arroz, amaranto e aminoácidos”, diz.
Quando questionada sobre a diferença em relação ao físico desde quando se tornou vegana, Scarpelli comenta: “Ganho massa magra mais rápido e fácil. A recuperação muscular também é mais ágil. Sinto maior disposição nos treinos e posso contar nos dedos as vezes que peguei uma gripe”.
A rápida e melhor recuperação mencionada por ela foi um aspecto apontado por todos os entrevistados desta reportagem ao falar da nova dieta. Segundo Fioravanti, desde que se tornou vegano não teve mais lesões, ganhou massa magra, perdeu gordura e parou de fazer fisioterapia e massagens com frequência. Também não teve mais rinite e intoxicação alimentar.
Outra preocupação desses atletas é o posicionamento das marcas e patrocinadores em relação aos animais. Ricardo Seixas, lutador de MMA, é vegano há um ano e meio e diz não usar produtos que realizam experiências em animais. “Nunca que eu faria propaganda de um produto que causa sofrimento nos animais”, afirma.
Fioravanti, Scarpelli e Seixas acreditam que estudar e ler sobre veganismo é o principal ponto para quem quer incorporar essa filosofia de vida. A transição pode ser feita de forma mais adequada e evita-se, assim, a desinformação. Ao estudar, a pessoa entende as necessidades nutricionais de seu corpo, escolhendo a melhor dieta. O ex-jogador de futebol do SC Cham alerta, ainda, que não só os veganos ou vegetarianos devem procurar um nutricionista. “A alimentação do brasileiro, no geral, é horrível, independentemente de ser vegano ou não. Fazer o acompanhamento é sempre importante”.