Orquestra Jovem da Escola Municipal de Música de São Paulo transforma a vida de adolescentes
Num cenário de redução de verbas das instituições culturais em todo o país, a Escola Municipal de Música de São Paulo (EMM) da Fundação Theatro Municipal, resiste, completando 50 anos em 2019. Apesar de não ter sofrido diretamente com os cortes, a EMM precisa lidar com o reajuste anual, que diminui o capital da entidade. Ainda assim, a Orquestra Jovem vem formando novas gerações de músicos reconhecidos em grandes orquestras brasileiras e internacionais.
Composta majoritariamente por jovens entre 18 e 25 anos, o conjunto é de alto nível. Para ingressar, os musicistas precisam estudar na Escola ou fazer a oficina de prática orquestral. Os estudantes então passam por um acirrado processo seletivo e, uma vez aprovados, aqueles que tocam um instrumento de orquestra, têm participação obrigatória por dois anos, como explica Gabriela Carolina Assunção Souza, inspetora de alunos da EMM.
Os ensaios, que acontecem às terças e quintas na Praça das Artes, no Centro, são regidos pela maestrina Érica Hindrikson, de 49 anos, conhecida pelos alunos como “mãestrina”. Para ela, viver de música é, na verdade, uma profissão como outra qualquer: “o que dá o diferencial é que você escolhe pelo amor e não pelo dinheiro. Eles precisam se realizar dentro da música, o resto é consequência”. A regente valoriza muito o contato com os jovens do grupo por se perceber uma influência para eles.
Assim como há pluralidade de instrumentos na Orquestra, há também uma diversidade de personalidades e trajetórias entre esses jovens. Uma das alunas, é Isabela Ferreira Arantes, de recém-completados 18 anos, que ingressou na EMM em 2014. Apesar de ser violinista desde os sete anos, almejava primeiramente, por influência de seu pai, tocar violão. “O primeiro instrumento que abriu vaga [para aula] foi o violino, aí minha mãe falou ‘vamos?’ e eu topei. Nunca imaginei que fosse chegar até aqui”, revela.
Durante os ensaios, o companheirismo é essencial para a evolução dos musicistas
Já Daniel Lopes Soares, também de 18 anos, começou com o violão, até se encontrar na flauta transversal. Suas primeiras aulas em uma escola de música foram em 2013 com o Projeto Guri, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Em 2016, entrou no coral da EMM. “Logo no ano seguinte, iniciei na Orquestra Infantojuvenil e, ano passado [2019], na Orquestra Jovem”.
Matheus Costa Barbosa, de 21 anos, também iniciou a carreira musical pelo violão. “Minha história com a música começa desde criança, meus pais tocavam na igreja. Comecei a ouvir várias músicas com contrabaixo, acabei ouvindo o baixo acústico e me interessei”. Como o colega Soares, Barbosa estudou no Guri e lá selou sua paixão pelo contrabaixo, instrumento que toca hoje na Orquestra Jovem.
Os três músicos criaram laços mais fortes na EMM do que em outras escolas de música. “Aqui é todo mundo junto, conversamos muito”, descreve Barbosa. Arantes diz que eles se juntam para fazer música de uma forma divertida. Esse clima de amizade é facilmente notado durante os ensaios, e principalmente durante as pausas, quando os instrumentistas trocam risadas entre si. “Eu conheço bastante gente desde o Guri, então tenho amizades de quatro, cinco anos”, afirma Soares.
Barbosa é graduado em Música pela FMU. Arantes sonha em trabalhar com composição, mas, por causa do mercado internacional muito seleto, pensa em começar pela produção musical. Já Soares está se preparando para ingressar na faculdade de Música da USP. Embora tenham trajetórias distintas, uma semelhança entre os três é o apoio familiar. “Minha família me apoia 100%, se não fosse por eles eu não estaria tocando hoje”, afirma Barbosa.
Seus gostos musicais são variados. Soares partilha: “Meu Spotify tem playlist de chorinho brasileiro, eletrônica, orquestra, muita coisa diferente”. Arantes gosta tanto de artistas eruditos, como Dmitri Shostakovich e Astor Piazolla, quanto artistas mais atuais, como Ryuichi Sakamoto, Harry Styles e BTS. Barbosa ocupa todos os dias de sua semana com o estudo de música clássica, estando mais envolvido nesse meio.
Mesmo que a música influencie grande parte da vida dos três, eles não deixam de ser jovens comuns, com sonhos, ambições e particularidades. A Escola Municipal de Música de São Paulo exerce uma função crucial em suas vidas, tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. “O que eu busco, desde que entrei aqui, é transformá-los sempre em jovens melhores, como pessoas e como músicos”, enfatiza Hindrikson.