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Por Thiago Bio Edição #65

Tradições do imaginário brasileiro

Lira dos Autos leva cultura popular aos palcos de Osasco e do estado de São Paulo

Roupas coloridas estampadas, saias de renda comprida, maquiagem cintilante no rosto e panos pendurados pelo cenário de madeira. Acontece ali naquele palco a apresentação de tradições populares de um grupo de 19 anos de estrada, o Lira dos Autos. Inspirados nas histórias orais de norte a sul do Brasil, os espetáculos levam ao público manifestações folclóricas nacionais.

Instalado na Escola de Artes César Antonio Salvi, no Centro de Osasco, cidade da Região Metropolitana de São Paulo, o grupo nasceu em 2000 a partir da iniciativa de Genivaldo de José. “Desde que eu entrei no teatro com 17 anos eu já vivia com a cultura popular”, diz, relembrando da juventude nas cidades de Arcoverde e Ibimirim, no sertão de Pernambuco. A primeira apresentação foi um Auto de Natal no calçadão da cidade.

Em Ibimirim, onde “não tinha nem luz elétrica”, José vivia da tradição local e dos ciclos da cultura popular – folguedos de São João, Semana Santa, Natal, quadrilhas, entre tantas outras manifestações populares. “Meu pai reunia todo aquele povo e começava a contar história de trancoso, de malassombro [assombração]”, recorda. Mas não é somente de lendas quase esquecidas de curupira, sereia, boitatá e mula sem cabeça que vive o Lira. “Quando você fala de folclore você só olha para esse lado das histórias. Ele é muito abrangente, desde a forma de as pessoas acordarem, a comida até a tradição nossa de cada dia”.

Costumes e histórias brasileiros são o foco do grupo, que tem 19 anos de estrada
Sesc Birigui / Divulgação

Elson Leite, representante jurídico e coreógrafo do grupo desde 2005, explica que o folclore passa pela oralidade, “só de boca”. “A gente trabalha com danças mais específicas, sempre do folclore. A gente chama de danças populares brasileiras”, diz. A equipe – que já teve 30 componentes e hoje possui 16 – quer se transformar em um grupo de pesquisa. “A gente encara o Lira dos Autos como um trabalho mesmo, porque isso é trabalho, sim”, defende Leite.

Mas o maior problema para os integrantes é a arrecadação de dinheiro para sustentar o grupo. “Nosso grande desafio é a monetização, infelizmente”, lamenta o produtor Márcio Peres. “É muito difícil a gente tirar do nosso bolso, porque todos precisam pagar suas contas”, comenta Leite. Em cada projeto, é guardada uma parte dos lucros para o seguinte. Além disso, algumas roupas e cenários são produzidos a partir de doações de fantasias de escolas e blocos de Carnaval e de tecidos das lojas de vestido de noiva que ficam nos quarteirões ao redor da Escola de Artes de Osasco.

Com apresentações na região e em cidades do interior de São Paulo, o Lira dos Autos leva essas tradições para todos os públicos. “Dentro da cultura popular existe muita coisa para ser mostrada. No país tem muita coisa para ser explorada”, aponta José. Os espetáculos partem das suas ideias levando uma mistura de costumes do País. Independentes, os artistas do Lira apresentam nos palcos e ruas paulistas tradições do imaginário brasileiro, muito além das lendas perdidas no dia a dia de cada um.