Um passeio no tempo pelos bairros Brás, Bixiga e Barra Funda, dos operários italianos à caótica São Paulo de hoje
O escritor Alcântara Machado vivenciou o crescimento dos bairros italianos da cidade de São Paulo e produziu, em 1927, o livro Brás, Bexiga e Barra Funda, relatando o dia a dia dos imigrantes que ali moravam. Inspirada pela obra, esta fotorreportagem penetra visualmente nos locais de maior fascínio do cronista. As legendas, por exemplo, são trechos escolhidos a dedo para ilustrar cada região.
São Paulo cresceu e se desenvolveu pelas mãos dos imigrantes que chegaram na cidade a partir do século XIX. Fazendo da capital paulista sua nova pátria, os italianos foram um de tantos povos que ajudaram a construir a nação brasileira. Em busca de uma vida melhor, trouxeram seus costumes e cultura, deixando marcas profundas na cidade, como a comida típica das cantinas e a arquitetura que ainda sobrevive no Bixiga.
Em bem mais de um século da imigração italiana, muitas mudanças aconteceram. As ruas foram asfaltadas, os bondes saíram de circulação para dar espaço a carros modernos, algumas casas foram demolidas, outras permaneceram e construções modernas foram erguidas, como a Arena Allianz Parque, na Barra Funda, que realiza espetáculos, concertos e partidas de futebol. Uma coisa é certa: dentre tantas modificações, as tradições italianas ainda sobrevivem na agitada São Paulo.
- Visão do topo da Escadaria do Bixiga. Foto de Maria Antonia Anacleto
- Janela de restaurante, no Bixiga. Foto de Maria Antonia Anacleto
- Chaminé da Casa das Caldeiras, na Barra Funda. Foto de Maria Antonia Anacleto
- Feirinha da madrugada no Brás. Foto de Amanda Prado.
Brás
“O vestido de Carmela coladinho no corpo é de organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora. Sapatinhos verdes. Bago de uva Marengo maduro para os lábios dos amadores. (…) Abre a bolsa e espreita o espelhinho quebrado, que reflete a boca reluzente de carmim primeiro, depois o nariz chumbeva, depois os fiapos de sobrancelha, por último as bolas de metal branco na ponta das orelhas descobertas. Bianca por ser estrábica e feia é a sentinela da companheira”
- Feirinha da Madrugada no Brás. Foto de Maria Antonia Anacleto
- Rua do Gasômetro, no Brás. Foto de Pedro Marinelli
- Comércio popular no Brás. Foto de Amanda Prado
Bixiga
“Mas quando dava na telha do Carlino Pantaleoni, proprietário da Quitanda Bella Toscana, de vir também se reunir ao grupo era uma vez o silêncio. Falava tanto que nem parava na cadeira. Andava de um lado para outro. Com grandes gestos. E era um desgraçado: citava Dante Alighieri e Leonardo da Vinci. Só esses. Mas também sem titubear. E vinte vezes cada dez minutos. Desgraçado. O assunto já sabe: Itália. Itália e mais Itália. Porque a Itália isto, porque a Itália aquilo. E a Itália quer, a Itália faz, a Itália é, a Itália manda”
- Um dos tradicionais empórios italianos do Bixiga. Foto de Maria Antonia Anacleto
- Rua 13 de Maio atualmente. Foto de Maria Antonio Anacleto
- Escadaria do Bixiga. Foto de Maria Antonia Anacleto
Barra Funda
“Delírio futebolístico no Parque Antártica. Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, embaralhavam-se, caíam, contorcionavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo que não parava, que não parava um minuto, um segundo. Não parava”
- O campo do Nacional Atlético Clube. Foto de Amanda Prado
- A estação Barra Funda atualmente. Foto de Maria Antonia Anacleto
- O Allianz Parque, também conhecido como Arena Palestra Itália. Foto de Yasmin Luara