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Por Amanda Prado, Maria Antônia Anacleto, Pedro Marinelli e Yasmin Luara Edição #65

Viagem ao pretérito

Um passeio no tempo pelos bairros Brás, Bixiga e Barra Funda, dos operários italianos à caótica São Paulo de hoje

O escritor Alcântara Machado vivenciou o crescimento dos bairros italianos da cidade de São Paulo e produziu, em 1927, o livro Brás, Bexiga e Barra Funda, relatando o dia a dia dos imigrantes que ali moravam. Inspirada pela obra, esta fotorreportagem penetra visualmente nos locais de maior fascínio do cronista. As legendas, por exemplo, são trechos escolhidos a dedo para ilustrar cada região.

São Paulo cresceu e se desenvolveu pelas mãos dos imigrantes que chegaram na cidade a partir do século XIX. Fazendo da capital paulista sua nova pátria, os italianos foram um de tantos povos que ajudaram a construir a nação brasileira. Em busca de uma vida melhor, trouxeram seus costumes e cultura, deixando marcas profundas na cidade, como a comida típica das cantinas e a arquitetura que ainda sobrevive no Bixiga.

Em bem mais de um século da imigração italiana, muitas mudanças aconteceram. As ruas foram asfaltadas, os bondes saíram de circulação para dar espaço a carros modernos, algumas casas foram demolidas, outras permaneceram e construções modernas foram erguidas, como a Arena Allianz Parque, na Barra Funda, que realiza espetáculos, concertos e partidas de futebol. Uma coisa é certa: dentre tantas modificações, as tradições italianas ainda sobrevivem na agitada São Paulo.

Brás

“O vestido de Carmela coladinho no corpo é de organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora. Sapatinhos verdes. Bago de uva Marengo maduro para os lábios dos amadores. (…) Abre a bolsa e espreita o espelhinho quebrado, que reflete a boca reluzente de carmim primeiro, depois o nariz chumbeva, depois os fiapos de sobrancelha, por último as bolas de metal branco na ponta das orelhas descobertas. Bianca por ser estrábica e feia é a sentinela da companheira”

Bixiga

“Mas quando dava na telha do Carlino Pantaleoni, proprietário da Quitanda Bella Toscana, de vir também se reunir ao grupo era uma vez o silêncio. Falava tanto que nem parava na cadeira. Andava de um lado para outro. Com grandes gestos. E era um desgraçado: citava Dante Alighieri e Leonardo da Vinci. Só esses. Mas também sem titubear. E vinte vezes cada dez minutos. Desgraçado. O assunto já sabe: Itália. Itália e mais Itália. Porque a Itália isto, porque a Itália aquilo. E a Itália quer, a Itália faz, a Itália é, a Itália manda”

Barra Funda

“Delírio futebolístico no Parque Antártica. Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, embaralhavam-se, caíam, contorcionavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo que não parava, que não parava um minuto, um segundo. Não parava”