Zoológico de São Paulo trabalha com foco na preservação da fauna brasileira e protege animais como Laura, a tamanduá
Queimadas, perda do habitat e atropelamentos põem tamanduás-bandeiras em risco de extinção. Todos esses motivos levaram Laura a se separar de sua mãe logo cedo, mesmo sendo um animal que precisa do auxílio materno para se locomover e se alimentar durante os primeiros meses de vida. Foi encontrada em 2011 na cidade de Salto, interior de São Paulo, e rapidamente levada para o Zoológico de São Paulo, onde chegou com dois meses de vida e recebeu o nome de batismo.
Ali recebeu todos os cuidados necessários: amamentação de madrugada com uma fórmula especial pensada para ela, passou para os alimentos sólidos e foi socializada com Lica, outra tamanduá de mesma espécie e idade nascida no próprio zoológico, e com Julie, uma veado-catingueiro já idosa. As três vivem no mesmo recinto e a rotina de Laura se resume a acordar cedo para dar uma voltinha enquanto a tratadora arruma o espaço. Depois vai dormir novamente, às vezes no sol para ajustar a temperatura corporal. Acorda no fim da tarde para se alimentar e curtir o crepúsculo farejando, arranhando troncos e fazendo outras peripécias comuns a um tamanduá.
A bióloga responsável pelos mamíferos no Zoológico de São Paulo, Amanda Alves de Moraes, explica que a maior dificuldade da instituição com os tamanduás é a alimentação. São animais seletivos e cada um prefere sua papa de um jeito – feita de extrato de soja, água, ração de gato, carne de frango, ovo, alguns legumes, fibra e outros complementos. A beterraba é o que dá a cor rosa para a comida. Uma vez por semana, o cardápio inclui um cupinzeiro.
O caso do “salvamento” de Laura, a tamanduá, é um exemplo de atividade do zoológico para além da visitação. Algumas pessoas ainda veem o local como um ambiente que aprisiona e entretém com animais, mas a equipe dali trabalha em outras frentes além do lazer. Mara Marques, bióloga da instituição, explica que o foco da entidade é a preservação ambiental. Esse trabalho é dado pela pesquisa, políticas públicas, educação ambiental e reprodução de espécies.
“Nossa exposição não é o meio, mas o fim para onde se quer chegar”, explica Marques. A bióloga ressalta que toda a verba do local vem das visitações, que passaram de um total de 1,3 milhão em 2017. “O visitante que vem aqui está diretamente envolvido em um programa de conservação [da fauna brasileira]”. Laura é um exemplo desse trabalho, que não para por aí: o local é o único do Brasil que reproduz a arara-azul-de-lear, uma das mais raras espécies da ave, e está pronto para reintroduzir jacutingas na natureza, pássaro ameaçado de extinção desde 2010. Marques também pontua que na exibição, por mais que o animal não tenha a liberdade e o espaço da natureza, há o programa de enriquecimento ambiental para que os sentidos do animal sejam estimulados e ele se mantenha saudável de todas as formas possíveis. No caso de Laura, isso é feito com o estímulo olfativo, vegetações para ela se esconder, locais para caçar a comida e os já mencionados troncos para arranhar as garras.
A discussão de zoológicos é ampla e envolve do bem-estar animal à preservação ambiental. Laura pode dar uma dimensão de como esses espaços ajudam a fauna e que o animal, mesmo em exibição, pode ter uma boa qualidade de vida. Marques ressalta que nem todos os zoológicos cumprem esse papel e que alguns deles têm que ser fechados por isso. “Nenhum de nós gostaria de ter zoológico, mas a partir do momento que os animais não tem para onde ir, ele pode ser uma alternativa de conservação”, conclui a bióloga.