Aos 80 anos, …E o Vento Levou e O Mágico de Oz continuam fortemente ligados ao pensamento norte-americano atual
Em 1940, no Ambassador Hotel, em Los Angeles, a 12ª edição do Oscar premiava os melhores filmes do ano anterior. Considerado o ano de ouro de Hollywood, 1939 agraciou a história do cinema com obras como O Mágico de Oz e …E o Vento Levou, os grandes vencedores daquela edição do prêmio, ambos dirigidos por Victor Fleming.
Os anos 1930 foram marcados, nos Estados Unidos, pela alta produção e consumo de filmes. Tudo isso devido à catástrofe que arrebatara o país uma década antes, com o crash de 1929. Depois da crise financeira, o cinema na década seguinte serviu para reconstruir o orgulho em ser norte-americano, reforçando o patriotismo e criando narrativas com mensagens de superação. As produções de grandes clássicos da época permanecem até hoje no imaginário de cinéfilos ao redor do mundo.
…E o Vento Levou é a história de Scarlett O´Hara, uma moça de família sulista e rica que é assolada pela Guerra Civil Americana (1861-65). Assim como aconteceu na Grande Depressão, O’Hara e seus parentes também perdem todos seus bens no conflito e chegam ao fundo do poço. A protagonista decide abandonar o papel de moça mimada e batalhar para superar suas tragédias. Apesar de dificuldades tanto no campo político quanto no amoroso, O’Hara diz que sua terra natal é o que lhe dá forças para continuar lutando.
Já O Mágico de Oz conta a história de Dorothy, uma menina sonhadora do estado do Kansas, que possui uma vida simples ao lado dos tios. Após um tornado em sua cidade, ela acorda em um mundo diferente: o País dos Munchkins. E daí tem início a odisseia de Dorothy de volta para casa. Após finalmente retornar, o filme termina com Dorothy sussurrando o mantra tão característico do ideal norte-americano: “Não há lugar melhor do que o nosso lar”.
Ambos os filmes tratam da questão da terra de origem que, para os espectadores norte-americanos, representa o próprio País. As obras não são marcantes apenas por seus cenários elaborados ou pelas questões técnicas, como o processo de filmagem em cores em Technicolor, considerado uma inovação na época. O que de fato diferencia os longas de Fleming é sua importância para a construção do ideal norte-americano. O saudosismo de uma terra natal idealizada é um forte traço no pensamento do cinema hollywoodiano que se mantem até hoje.
As produções de Victor Fleming de 1939 passam uma mensagem sutil, mas que moldam o ideal da população em direção ao American way of life e a promessa de que tudo pode ser resolvido a partir da crença que os Estados Unidos são um país poderoso. Apesar das diversas dificuldades, a personagem Scarlett O’Hara também termina o longa com uma esperança sonhadora: “Afinal, amanhã é outro dia”.