Mudanças nos padrões de produção e compra incentivam um discurso em prol do meio ambiente
Ser sustentável é adequar o estilo de vida para que o consumo seja o mais próximo do zero sem degradar o meio ambiente. Não é sinônimo de consumo “verde”, focado em produtos diferenciados que visam o crescimento na área ambiental. Um dos grandes problemas no comércio é a busca do equilíbrio entre um desenvolvimento que acompanhe as necessidades sociais e a preservação ambiental.
Embora o crescimento sustentável seja uma alternativa considerável para o setor industrial, há empresas que praticam greenwashing, um discurso meramente comercial que visa atrair os consumidores sensíveis à causa ambiental. Para Miguel Bortoletto, engenheiro ambiental da Universidade de São Paulo (USP), as pessoas se engajam em discursos de marketing sem refletirem sobre o assunto. “Precisamos repensar nossos comportamentos enquanto sociedade. Ainda estamos desenvolvendo as ditas práticas sustentáveis, o que é uma mudança difícil e que exige uma quebra de paradigmas”, afirma.
Um dos termos que se popularizou dentro do debate ambiental foi o da “pegada ecológica”. “É uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais”, explica o site da ONG World Wide Fund for Nature (WWF). Ela permite diferenciar padrões de consumo entre nações de acordo com a capacidade ecológica do planeta. Basicamente, diz se a quantidade de recursos naturais que o ser humano retira da natureza é equivalente ao que ela pode repor. Mas isso está longe de ser uma realidade.
O ser humano consome mais do que precisa, passando a extrair mais do que o planeta consegue restituir. O atual cenário mundial reflete um padrão de consumo nada sustentável. De acordo com a organização norte-americana Global Footprint Network, em 1961, a biocapacidade do planeta era de pouco mais de 9,5 bilhões de hectares globais, enquanto a pegada ecológica girava em torno da casa dos sete bilhões, o que garantia certa reserva ambiental. Cinquenta e cinco anos depois, em 2016, a capacidade biológica cresceu somente 2,5 bilhões de hectares globais e o consumo da população humana sobre os recursos naturais subiu 13,4 bilhões, extrapolando a quantidade que a Terra aguenta.
Para o professor de Microeconomia do Meio Ambiente da Universidade Federal do ABC, Tiago Fonseca, uma mudança dos padrões de consumo não partirá somente das decisões dos consumidores. “Eles são tomadores de um padrão de consumo definido pelas corporações e veiculado pela grande mídia”, explica. “Daí a necessidade de impor limites ao impacto ambiental”.
No Brasil, especialistas concordam que o consumo não é sustentável – nem do ponto de vista ecológico nem econômico. O problema brasileiro está na falta de informação e de iniciativa das empresas de fazer produtos com menor impacto ambiental. O professor de Economia da FEA-USP, José Afonso Mazzon, vê a questão em um espectro maior. “Temos índice de desemprego elevado, problemas na economia e altíssimo endividamento, o que prejudica a questão de sustentabilidade”, critica.
Bortoletto, por sua vez, enxerga uma evolução e uma maior atenção a consequências socioambientais do mercado brasileiro. Apesar de algumas empresas se aproveitarem do discurso ambiental, “o movimento em prol de produtos sustentáveis é uma demonstração de que o discurso da preocupação ambiental passa a sair da forma e se transforma na prática da temática ecológica”. As mudanças de comportamento da população pressionam a indústria a rever seus hábitos de produção para obter produtos mais responsáveis com a natureza e um futuro mais promissor e verde.