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Por Vanessa Nagayoshi Edição #63

Movimentos extremos em tempos complexos

Marcados por sentimentos contraditórios, jovens brasileiros buscam novas maneiras de fazer política no Brasil

Após o impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, incentivado pelo movimento estudantil dos jovens caras-pintadas, o País silenciou. Somente em junho 2013, quando foi anunciado um aumento de vinte centavos na passagem dos transportes públicos, o Brasil novamente parou. De acordo com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), 63% dos manifestantes tinham idade entre 14 e 29 anos.

“Antes de 2013, nenhum assunto conseguia unificar todo esse sentimento de retrocesso”, afirma o estudante Vitor Fuks, de 19 anos. Ele é filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e faz parte dos grupos Juntos e Movimento Esquerda Socialista (MES), que são duas das correntes da sigla. Fuks começou a se interessar por política no ensino médio, especialmente em 2016, quando ocorreram as ocupações das escolas públicas de São Paulo devido ao descontentamento diante das medidas educativas do governo de Michel Temer. Ao ingressar na faculdade, Fuks decidiu se filiar ao partido.

O mesmo aconteceu com a estudante de Direito Mariana da Costa, também de 19 anos, que passou a ter uma proximidade maior com a política quando sua escola, ETEC Professor André Bogasian, em Osasco, participou do movimento secundarista em 2016. Negra e de classe baixa, conta que acontecimentos do seu dia a dia contribuíram para seu engajamento político. “Eu falava que queria entrar numa faculdade de Direito e as pessoas diziam ‘nossa, mas é muito difícil para você entrar lá’ e para a minha amiga branca, que fazia ensino médio comigo, diziam ‘você consegue’. Hoje nós estudamos na mesma sala de aula”, relata.

Estudante de Publicidade e Propaganda, Vanessa Soares, de 23 anos, prefere não se pronunciar em relação ao seu posicionamento político por não ter conhecimento aprofundado sobre o assunto. Apesar disso, Soares defende a importância de estar sempre consciente do que está acontecendo no País, mas sem opiniões extremas. “É essencial saber, mas respeitar a opinião do próximo também”, diz a universitária.

Em tempos de forte debate político, sobretudo nas redes sociais, o extremismo e a intolerância acabam se sobressaindo. Júlia Fróes, de 22 anos, ex-estudante de Jornalismo, precisou criar outro perfil no Facebook somente para o seu círculo social da faculdade por conta de perseguições. “Na época, eu apoiava o Movimento Brasil Livre (MBL). Quando descobriram isso foi um caos, ficavam o tempo todo atrás de mim”, conta.

Imersa na política desde nova, Fróes declara que grande parte do seu interesse e engajamento provém de sua família. Seu pai é português e sua mãe, russa. Vieram para o Brasil fugindo dos regimes autoritários de Salazar e da União Soviética em seus países de origem. “Meu pai é historiador e tem um posicionamento mais de direita, enquanto minha mãe tem um viés mais social, então sempre tivemos um diálogo mais equilibrado”, observa. Fróes era associada do Livres, do Partido Social Liberal (PSL), mas saiu após a filiação do deputado Jair Bolsonaro, por não concordar com seus posicionamentos.

Durante a ditadura militar brasileira, sua mãe sofreu preconceito por ser filha de estrangeiros e participava ativamente do Movimento Tortura Nunca Mais. Naquela época, a repressão e o autoritarismo do regime fomentaram o surgimento de mobilizações estudantis, que promoviam protestos e reivindicações pelo Brasil e foram fundamentais para a resistência e fim do governo militar. Hoje, os espaços e instrumentos de atuação política mudaram, uma vez que a participação não tem se articulado somente de forma explícita, como ir às ruas. “Não acho que os jovens de hoje são alienados. A gente vê pelas manifestações, pelo debate político nas redes sociais, que as pessoas têm mais opiniões”, afirma Costa.

Durante a história, a juventude sempre esteve na vanguarda. A cada geração, uma nova mentalidade se forma para quebrar tradições. No dia a dia, Costa pratica pequenas ações que refletem nos seus princípios e expectativas para o futuro. Na sua casa, sendo a primeira integrante da família a ingressar na faculdade, procura passar conhecimentos sobre política, a fim de gerar reflexões e senso crítico. “Essa é a principal tarefa dos jovens: ser locomotiva das grandes mudanças e transformações da sociedade. O que falta é a compreensão desse papel histórico”, conclui Fuks.