A ONG Pimp My Carroça luta pelos direitos e pela projeção dos catadores de materiais recicláveis
Nas ruas das cidades, estão os catadores de lixo, responsáveis por quase 90% de todo o material que é reciclado no País, segundo o Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA). É por meio de um punhado de tábuas de madeira, papelões e pneus carecas que surge a principal, e às vezes a única, fonte de renda dessas pessoas.
Existe uma iniciativa que procura romper com a invisibilidade e resgatar a autoestima desses catadores: o Pimp My Carroça. Em meio ao cenário desanimador de falta de políticas públicas para esses profissionais, o grafiteiro ativista Thiago Mundano, de 32 anos, surge com a iniciativa de ir às ruas entender um pouco sobre as histórias e necessidades desses trabalhadores e promover ações para ajudá-los.
Mundano pinta carroças desde 2009. O nome do projeto, que foi estabelecido como ONG, em São Paulo, em 2016, faz alusão ao programa da MTV “Pimp My Ride”, no qual se reformam carros. O principal objetivo da organização consiste em ter força para incidir em políticas públicas, por meio da pintura e promoção das ações do movimento dos catadores pelas mídias sociais do Pimp. Assim, espera-se que haja a regularização da profissão e, consequentemente, a garantia de direitos trabalhistas. Sustentado com o apoio de fundações internacionais, verba via Lei Rouanet e financiamento coletivo, a ONG atua como um serviço fundamental na área social, além de apresentar a arte como um instrumento para tirar da marginalidade social esses trabalhadores.
Atualmente, o projeto possui reconhecimento internacional e seu idealizador viaja o mundo colocando em prática o ideal proposto pelo Pimp, mudando a vida dos catadores além das fronteiras brasileiras. Receberam, inclusive, o prêmio International Award for Public Art de arte urbana, em Hong Kong, China.
As razões pelas quais alguém se torna catador são inúmeras. Heleno Augusto Silva, de 60 anos, era motorista e pintor, mas hoje, desempregado, trabalha na coleta de materiais recicláveis. Tudo que ele deseja na vida é uma casa própria, maior qualidade de vida e um emprego regularizado. Ao ser questionado como foi parar na rua, o homem diz que a vida o levou e o ensinou a ser catador e, embora não goste da sua situação, não enxerga outras possibilidades para sua vida. “Não vou ficar parado e também não vou roubar. Prefiro trabalhar coletando papelão, latinha aqui e ali. Roubar nunca”.
Rodrigo Lucena é catador há 25 anos e conheceu o projeto em 2014. Ainda na infância, encontrou um bebê no lixo e, desde então, mudou o conceito sobre o que encontra na rua. “Agora de dia quando eu saio pra vender algum material, ele [o carrinho] fica descoberto assim ó: exposto para a sociedade”, relata sobre sua rotina e carroça, reformada e equipada. Lucena ainda mantém contato com Mundano e considera o projeto do grafiteiro como parte de sua vida, já que não vê nenhuma ação partindo do poder público.
Pedro Alma, que já foi grafiteiro voluntário, relaciona o grafite com o próprio trabalho dos catadores, pois ambos são marginalizados, estão começando a ganhar espaço agora. Para Alma, o significado do Pimp My Carroça é de resistência.
Os voluntários fazem parte dos mutirões, feitos de duas a três vezes ao ano, de acordo com a quantidade de capital adquirido pelos financiamentos virtuais via crowdfunding. Além de pintar as carroças e distribuir equipamentos de segurança para as pessoas amparadas pelo projeto, existem também os atendimentos voluntários, como dentista, oftalmologista, massagista, cabeleireiro, veterinário, auxílio jurídico, entre outros. A primeira edição foi realizada em 2012, no Vale do Anhangabaú, na cidade de São Paulo, e reuniu cerca de cinquenta catadores.
O Pimp My Carroça quer quebrar os estereótipos e estigmas da sociedade sobre esses trabalhadores. Heleno Augusto e Rodrigo Lucena, cada um com sua respectiva trajetória, são apenas algumas das milhares de figuras que existem pelas ruas de todo o mundo. A certeza que eles têm é de que existe uma constante em suas vidas: falta de visibilidade, falta de respeito, falta de política públicas que reconheçam o valor socioambiental do serviço prestado por eles.