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Por Laura Molinari, Luisa Pascoli e Milena Alvarez Edição #62

Sombrinha na Pauliceia

O frevo sai de Pernambuco e ocupa diferentes lugares

Segundo o livro “Frevo – 100 anos de folia”, de 2007, escrito por Camilo Cassoli e Luiz Augusto Falcão, diferente da maioria dos ritmos populares brasileiros, o surgimento e o amadurecimento do frevo se deram em uma área bastante limitada à cidade de Recife. Como, então, que uma tradição tão localista e enraizada se espalhou por diferentes campos da cultura?

Para Alisson Lima, pernambucano de nascença e professor de frevo no Instituto Brincante, na Vila Madalena, o cenário do ritmo na capital paulista vem ganhando cada vez mais abertura. “O frevo é uma dança contagiante”, afirma. O professor também ressalta o contraste entre costumes. “Os paulistanos, muitas vezes, desconhecem ou possuem uma visão superficial sobre a cultura de outros estados, já que costumam consumir a arte vinda de fora do país. Aqui as pessoas não estão acostumadas a ouvir e a sentir o corpo da forma que o frevo proporciona, porque vivem um ritmo frenético de trabalho e de estresse”.

É nesse contexto que o Instituto Brincante promove a propagação da cultura nacional em São Paulo. Além de aulas de frevo, o espaço oferece cursos sobre danças afro-brasileiras, capoeira, poesia e percussão. O projeto foi idealizado pelo violinista Antônio Nóbrega, que pretendia apresentar aos próprios brasileiros um Brasil ainda pouco conhecido. Nascido em Recife, Nóbrega trilha um caminho de grande envolvimento com a música popular brasileira e é, atualmente, a principal autoridade na divulgação do frevo para além de seu estado de origem.

A Cia Brasílica também contribui para a disseminação de ritmos genuinamente brasileiros pela capital paulista. Foi fundada em 2005 pelo recifense Deca Madureira e por Lucila Poppi com o intuito de transmitir a alegria nordestina aos paulistanos. Localizada no bairro da Lapa, fornece aulas, debates, eventos culturais e ensaios dos mais diversos ritmos, entre eles o frevo.

Atualmente, os dois fundadores conduzem a companhia de dança contemporânea, responsável por levar criações singulares e críticas aos mais diversos públicos. “Canteiro de Obra”, de 2010, é um dos espetáculos premiados do grupo. A apresentação promove, por meio de experiências rítmicas e sonoras em um ambiente de uma construção civil, uma forte interação com a plateia e discute questões sociais como o alto número de migrantes nordestinos em canteiros de obras. O frevo, junto a outros ritmos brasileiros, auxilia a companhia a tratar de temas atuais interagindo com o cenário multicultural existente na capital paulista.

O coreógrafo André Luís Santana da Silva nasceu nas proximidades de Olinda, em Pernambuco, e veio a São Paulo em 2015. Formado em danças brasileiras, balé clássico e contemporâneo, foi responsável por trazer o frevo aos jovens bailarinos que nunca haviam tido contato com o ritmo. Ele conta que sente orgulho em poder levar parte da cultura brasileira a um ambiente onde ela é desconhecida.

O frevo também está presente no carnaval de rua da terra da garoa com o bloco “Olha o Sucesso”. Foi fundado por Pedro Henrique Carvalho, Manuela Alcoforado, Bartolomeu Cavalcanti e Thiago Gomes, que moraram em Recife antes de se mudarem para São Paulo. Eles tiveram a ideia do bloco quando o carnaval de rua começou a crescer e a se estruturar na capital paulista. Em 2016, ela foi posta em prática e continua sendo uma proposta única.

Com a intenção principal de manter o bloco pequeno, em um clima de “carnaval de bairro”, os fundadores evitam divulgar o trabalho. Mesmo assim, há um aumento significativo do público. A paulistana Ana Becker disse que foi participar por indicação de um amigo e que pretende retornar: “Foi o meu bloco preferido, o ambiente estava incrível”.

Segundo uma das organizadoras, Manuela Alcoforado, no primeiro ano de realização do bloco, cerca de 500 pessoas participaram da festa e a recepção dos paulistanos vem sendo muito positiva: “As pessoas adoram a questão cultural. O ritmo é contagiante e, logo, todos estão se acabando de frevar sem sequer saber dar um passo da dança”.