Periferia Invisível luta para criar um cenário cultural no extremo leste da capital paulista
Ao andar pelas ruas do distrito de Ermelino Matarazzo, localizado na Zona Leste da cidade de São Paulo, são poucos os espaços destinados às atividades culturais. Algumas casas de show noturnas e pouca coisa além disso. Para mudar tal cenário, foi criada em 2008 a Associação de Arte e Cultura Periferia Invisível.
O foco da organização que está completando uma década de atuação é democratizar o cenário cultural periférico da região onde se encontram. Com uma equipe composta por cinco pessoas, dois produtores musicais, uma fotógrafa e mais dois na área administrativa, a associação trabalha ajudando no gerenciamento da carreira de artistas independentes e também na parte administrativa e jurídica de eventos culturais, como, por exemplo, cedendo o número de seu Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) para grupos de teatros que precisam do documento para se apresentar em algum local.
Atualmente, as ações da Periferia Invisível são focadas no ramo musical. Um exemplo disso é o projeto na ativa “Música por Minuto”. Nele os músicos, com uma ajuda de custo de cem reais, vão até a associação e utilizam sua estrutura, saindo de lá com um hit pronto e postado nas plataformas digitais de música e têm a divulgação da produção nas redes sociais.
Binho Santana, um dos fundadores e presidente da Periferia Invisível, explica que o intuito das ações voltadas para a música é para sustentar a tentativa da criação de uma cena musical vinda da região. “Já existe o pessoal do funk aqui na área, mas a gente queria emplacar também na MPB e no indie, por exemplo, queríamos artistas de vertentes novas. Queremos ser uma produtora de música de referência e periférica”, afirma.
Por mais que a maioria dos trabalhos atuais estejam focados no ramo musical, a Periferia Invisível trabalha com outras manifestações artísticas também. A equipe da iniciativa realiza também a gestão de grupos circenses e teatrais e participa do grupo de gerenciamento da “Ocupação Cultural Mateus Santos”, localizada na mesma região da capital paulista.
“Há uma escassez cultural da região. As pessoas não têm um meio para chegar no fim de semana e poder consumir cultura, então a Mateus Santos proporciona isso”, opina Santana. Ele enxerga a importância da ocupação, localizada em um espaço público, na possibilidade que ela dá aos moradores da região de poderem frequentar saraus, terem um espaço para leitura, frequentarem aulas de dança e entrarem em contato com fotografia e artesanato, por exemplo.
Para manter seu funcionamento na ativa, a Periferia Invisível tem sua verba proveniente de diferentes fontes. Nos anos de 2015 e 2016, a associação ganhou verbas de editais públicos para tocarem dois projetos. Mas, nos últimos dois anos, tem se mantido por conta própria, com o dinheiro adquirido com alguma gravação, pois os artistas produzidos por eles cedem parte da porcentagem de seus lucros para viabilizar a continuidade do projeto. A Periferia Invisível também aceita doações, mas seu presidente revela que elas raramente são feitas.
É na luta para produzir cultura e democratizar seu acesso que Binho Santana e sua singela equipe depositam seus esforços. Ao contrário do que consta no artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que afirma que “todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes”, São Paulo se mostra com o ramo cultural centralizado e com difícil acesso para os que vem de longe. Mas a Periferia coloca-se contra a norma observada e traz para sua região um alívio e esperança, no que diz respeito ao mundo das artes.