O Manas à Obra se diferencia no mercado oferecendo serviços executados por mulheres em um campo dominado por homens
Mulheres e membros da comunidade LGBT sabem que, ao contratar algum tipo de serviço simples de reparo para casa – como encanador, eletricista ou mesmo um empreiteiro para uma obra maior – eles devem tomar mais cuidado em relação à sua segurança. Ao receber um homem estranho em casa, eles se sentem vulneráveis a ataques, assédios e violências maiores. Diante desse cenário perigoso, surgiu o Manas à Obra. A fundadora, Priscila Vaiciunas, é técnica em edificações e, enquanto ainda estudava, teve a ideia de um negócio de prestação de serviços em reparos e obras, priorizando clientes mulheres e LGBT. Mas foi só em 2015 que pôde colocar a mão na massa e concretizar seu sonho.
Na época, Vaiciunas estava desempregada e com dificuldade de voltar ao mercado de trabalho. Resolveu então reviver uma vontade antiga e abrir uma empreiteira voltada à sustentabilidade usando apenas mão de obra feminina. Começou a pesquisar e estudar meios de abrir uma empresa por conta própria e criou o Manas, priorizando a mão de obra feminina, mas contando também com uma equipe mista de mulheres e homens para obras maiores. Como a empresa tem o objetivo de inclusão, a empresária também dá oportunidade de emprego às pessoas transexuais, por terem maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
A dona chama seus serviços de “mana de aluguel”, brincando com a ideia de “marido de aluguel”. As mulheres do Manas à Obra realizam manutenções simples, sejam preventivas, sejam corretivas, pinturas, repaginação e reforma de espaços. Elas tentam evitar que as clientes que as contratam se sintam constrangidas na presença de um homem estranho no ambiente doméstico.
Levando em consideração que a divulgação do projeto foi feita, principalmente, boca a boca, sua visibilidade cresceu rápido. Inicialmente falando para os amigos, Vaiciunas criou a página do Facebook, atualmente com quase seis mil curtidas. Com apenas quatro meses de funcionamento, já estava com a agenda lotada. O empreendimento atende as regiões das cidades de São Paulo e do ABC Paulista.
Os clientes da empresa variam de gênero e orientação sexual. Vaiciunas afirma que já escutou diversos relatos de pessoas que sofreram algum tipo de assédio em suas casas quando contrataram uma obra e por isso resolveram procurar um serviço diferenciado como o dela. Bárbara Nascimento, uma das mulheres atendidas pelo Manas, procurou o serviço da empresa por uma questão de segurança e por valorizar o trabalho feminino em uma área dominada predominantemente por homens. Luciana Christante chamou a empresa duas vezes para trocar o chuveiro, furar a parede e reparar a descarga de sua casa. “Eu me sinto muito mais segura contratando uma mulher. Fico mais à vontade colocando-a dentro de casa por várias horas”, conta a moça.
O Manas já sofreu preconceito por ser uma instituição que preza a mão de obra das mulheres. A própria fundadora passou por situações de discriminação apenas por ser do sexo feminino. Segundo ela, o pior tipo de preconceito é aquele que vem de outra mulher. “É como se uma mulher estivesse tentando silenciar a outra, sabe?”, admite pesarosamente.
O próximo passo do Manas à Obra é oferecer serviços sustentáveis. A empresária fez um curso de energia solar recentemente e pretende começar a adaptar a mão de obra para a instalação em residências dessa fonte “amiga do meio-ambiente” como um dos seus serviços.