Estudantes de Engenharia da USP se reúnem para construir robôs e competirem em torneios nacionais e internacionais
Do outro lado do mundo, dois robôs se enfrentam dentro de uma arena feita de policarbonato – vidro à prova de bala. Todo cuidado é pouco quando se trata de batalhas de robôs. Conduzidos por meio de um controle, eles tentam danificar o adversário por meio de uma placa de ferro que gira freneticamente na horizontal ou na vertical até nocauteá-lo. Se, em um determinado tempo, ambos ainda estejam ilesos o critério passa a ser de agressividade e danos.
China, Índia e Holanda foram grandes obstáculos para a equipe brasileira de robótica Thunderatz, constituída por alunos de Engenharia da Universidade de São Paulo (USP), conquistar o primeiro e o segundo lugar na competição FMB World Cup 2017 realizada na China, em outubro de 2017. Não foi a primeira vez que o grupo foi convidado para participar do evento. Em abril do mesmo ano, eles se consagraram vencedores na categoria de combate com o robô Armagedrum (13,6 kg), que é campeão nacional.
O grupo de robótica se formou em 2001 pelos alunos de Engenharia da Escola Politécnica da USP que desejavam construir robôs em um espaço livre na faculdade. No começo, eram quarenta membros, hoje já são 64 de diversas áreas da Engenharia. Todo processo é feito por eles, desde a idealização do projeto até a montagem e o reparo dos robôs. Os professores ficam apenas nas partes burocráticas como na regulamentação do uso do local. O trabalho é totalmente voluntário tanto por não ser remunerado quanto por não ser considerado carga horária oficial da Escola Politécnica. “São pessoas que realmente querem fazer robôs”, diz o estudante do terceiro ano de Engenharia Mecatrônica, Lucas Eder, um dos capitães da equipe.
No centro de um enorme espaço labiríntico, separado por salas com diversas ferramentas e máquinas – onde os alunos de Engenharia Mecatrônica praticam o que aprendem em sala de aula – encontra-se a “Gaiola”. Parecida com uma jaula e com aproximadamente quarenta metros quadrados, a oficina é cercada por tramas de arames que substituem as paredes, e é lá que nascem os robôs feitos pela equipe.
Os estudantes Vitor Feola e Isabella Bologna foram membros que representaram a equipe na China. Feola cursa o terceiro ano de Engenharia Mecânica e está há dois anos no grupo. Ele é responsável pelo funcionamento geral dos robôs. Já Bologna, estudante do segundo ano de Engenharia Elétrica, é responsável pela locomoção e o funcionamento da arma dos robôs. O que se ganha é a imensa bagagem de conhecimento. “Vamos aperfeiçoando e buscando o melhor. A gente gosta de manter a união, porque sessenta cabeças pensam melhor do que uma, né? ”, afirma Feola.
O grupo tem vinte projetos: robôs autônomos, humanóides, de sumô, de inteligência artificial, de rock, de hockey, sendo os de combate o principal. A Thunderatz é uma das maiores equipes do Brasil e está em 2° lugar no ranking nacional, perdendo apenas para o RioBotz, da PUC – RJ. A equipe já conquistou medalha no Japão, Estados Unidos e China, além de competições nacionais. Centenas de medalhas e troféus e até pedaços dos robôs adversários danificados na competição estão expostos no alto das tramas de arame.
A principal fonte de renda da equipe é o apoio da escola e do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, que conta com a doação financeira de ex-alunos e, atualmente, é a principal fonte de renda da equipe. Além disso, os patrocínios majoritariamente são de produtos e serviços, poucos são em dinheiro. Itens que dificilmente podem ser manipulados dentro da oficina são personalizados pelas indústrias parceiras. “Nossa vida é correr atrás de patrocínio e fazer robô. Seja para fazer o robô, seja para levá-lo para o combate”, afirma Eder.
Na competição da China, o evento cobriu inteiramente as despesas. “Fomos muito bem recebidos. É de se impressionar no empenho que tinham em nos deixar o mais confortável possível”, conta Feola. O primeiro lugar deu à equipe um prêmio em dinheiro no valor de quarenta mil yuans (cerca de 15 mil reais), equipamentos robóticos e a classificação para a final. Todo prêmio em dinheiro é reinvestido nos robôs. “Eu diria que a gente mais gasta do que ganha. Ganha com muito conhecimento”, afirma o capitão.