A bioconstrução se transforma em uma alternativa à vida em meio ao concreto
O Sítio Pau D’Água tem sua própria beleza. Uma casa térrea ampla abriga um espaço com mesas, sofás, livros, discos, som e televisão espalhados pelo local, iluminado pelas janelas e portas sempre abertas, que irradiam luz. É um centro cultural para os “novos rurais”, jovens que se cansaram do cotidiano urbano, como define o bioconstrutor e primeiro homem a erguer o sítio em Piracaia, no interior de São Paulo, Edilson Cazeloto. Não é dono ou proprietário, como ele mesmo enfatiza, o espaço é de todos que por ali passarem e quiserem contribuir com a construção de uma vida fora da lógica acelerada das cidades.
Todas as construções do sítio, o centro cultural, o alojamento para os visitantes e a casa de Cazeloto, que foi arquitetada para suas necessidades básicas, resume-se a um pequeno quarto, foram bioconstruídas e a futura casa coletiva, onde viverão três famílias imersas em uma rotina comunitária, também acompanhará tal modelo. Isso significa que essas moradias seguiram o molde de trabalho respeitoso ao ambiente e às relações humanas para suas construções. “Bioconstruir é ser arrebatado pela vida”, afirma Cazeloto, explicando que utilizar as matérias-primas disponíveis nas proximidades, como barro, esterco e palha, investindo em mão de obra qualificada e próxima são os pilares dessa forma antiga de se construir casas.
Roberta Figueiredo é bióloga e mora na região central da capital paulista, mas decidiu que estava cansada da rotina urbana. Junto com seu namorado, planeja morar em uma ecovila, comunidades que tem a intenção de integrar uma vida social harmônica a um estilo de vida sustentável. “Descobrir que é possível construir com minhas próprias mãos, por mais que leve mais tempo, foi transformador”, descreve Figueiredo ao participar do curso de bioconstrução oferecido pelo Sítio Pau D’água.
A relação de cada pessoa que passa pela proximidade do sítio com a bioconstrução é única e mutável, mas parece ser sempre consciente. Jhony Arai é assessor de imprensa e comprou um terreno na Ecovila Clareando, vizinha ao Sítio Pau D’Água, com a intenção de construir algo sustentável. “Desse desejo que nasce minha investigação sobre o que é sustentabilidade”, afirma.
O universo da bioconstrução tem crescido no Brasil. Existem vídeos no Youtube ensinando técnicas e oficinas são divulgadas nas redes sociais. Mas, uma tendência já é observada tanto por Cazeloto quanto Arai, o perfil das pessoas que participam dessas oficinas têm sido marcado pelo gênero feminino: 70% dos que participam são mulheres. “E muitos homens que chegam são trazidos por elas”, afirma Arai. Parece que elas estão na vanguarda dos processos de sustentabilidade, pelo menos na pequena Piracaia. Para começar a bioconstruir no sítio, basta seguir o lema de Cazeloto e se entrosar: “Se não for divertido, não é sustentável”.