A Casa Podo é especializada em realizar todo o tipo de prazer e atender a qualquer público na capital paulista
No Belenzinho, bairro da Zona Leste de São Paulo, a poucos quarteirões da estação Belém do metrô se encontra um ambiente comercial que destoa um pouco de seu entorno. No meio de uma rua majoritariamente residencial, nomeada Toledo Barbosa, na altura do número 519, encontra-se a Casa Podo.
A fachada com um pé desenhado em uma das paredes não deixa transparecer o que ocorre no interior do ambiente. No período noturno, as luzes e música alta mudam um pouco a vista externa do lugar, que passa a aparentar ser uma boate. Porém, a Casa Podo se diferencia dos locais de festa que a maioria das pessoas costuma frequentar, ela é uma casa de fetiches.
Aqui você pode falar sobre o que sente tesão que a gente dá um jeito de realizar – Leo, proprietário da Casa Podo
Como seu nome sugere, a especialidade da casa é a podolatria, mas de acordo com seu proprietário, Leo – que prefere não ter seu sobrenome divulgado, como, aliás, todos os outros entrevistados para esta reportagem –, a Podo realiza qualquer tipo de fetiche. A predominância do desejo por pés é percebida logo na entrada. No local, existem mesas e cadeiras, ao lado do balcão do bar, e sobre elas ficam dispostos sapatos de salto alto. Nesse mesmo salão inicial, existe uma cadeira suspensa para quem deseja ficar dependurado e uma mesa de sinuca, não utilizada da forma usual, como contaria Leo ao longo da noite.
Um estreito corredor leva ao segundo cômodo, onde estão instaladas cabines escuras com cortinas em vez de portas, nas quais é possível realizar sexo grupal e voyeurismo, prática na qual os participantes têm prazer em observar relações sexuais de terceiros, sem nenhuma interação física. Ao lado das cabines, existe um sofá de frente para uma parede onde há um “X” desenhado. Nele, há fivelas para prender as mãos de quem desejar. Entre a parede e o sofá está uma pequena área livre com um tapete no chão, onde quem gosta de ser pisado ou usado de cadeira pode realizar seu fetiche. Ainda nessa parte da Casa Podo, está a mesa do DJ que toca literalmente de sertanejo a heavy metal.
A casa noturna se completa com mais um cômodo. Nos fundos, localizam-se quatro quartos, para os que desejam um pouco de privacidade. Em um deles, inclusive, há um “X” para os casais sadomasoquistas, que sentem prazer em fornecer ou sentir dor, mas que não são exibicionistas. Leo conta também que prostitutas da região utilizam os quartos do local para trabalharem, devido ao baixo preço de entrada, vinte reais por casal, sem tempo estipulado de permanência. Mas o responsável pelo local ressalta que o público da prostituição é diminuto e frequenta o local na maioria das vezes à tarde, quando não estão acontecendo as festas fetichistas.
Os eventos temáticos na Casa Podo ocorrem todos os sábados. Leo afirma que as vantagens de seu estabelecimento são, além do baixo preço, a abertura para o público em geral, heterossexual em sua maioria, mas também há a presença de LGBTs. A limpeza do local não é das melhores, com latas de cerveja espalhadas e alguns cinzeiros lotados. A equipe de funcionários garante que há a troca da roupa de cama e que ela está sempre limpa. Camisinhas e lubrificante também são uma preocupação e são distribuídos pelo ambiente. É permitido fumar narguilé e cigarro no interior da casa e menores de idade podem entrar tranquilamente, já que o documento não é pedido na entrada.
A noite começou parada. Mas próximo a uma da manhã as práticas de fetiche começam. Umas das frequentadoras tirou sua saia e se posicionou de calcinha em frente ao “X” na parede. Naquele momento, um homem chegou com um chicote e começou a açoitá-la, depois mudou o objeto para uma raquete de frescobol e acabou a sessão com um chicote equestre, o que atesta a cultura do consentimento implantada no local.
Sempre que Renata, a mulher na parede, fechava sua mão, o homem parava de bater em sua bunda. Mais tarde, Vitor, um frequentador assíduo do local, contou que na Casa Podo e no mundo fetichista o consentimento é essencial e sempre presente. Ele relata nunca ter visto um homem puxando uma mulher pelo braço, como ocorre em baladas, e diz sempre haver códigos para quando a pessoa se sentir desconfortável, como o uso de três tapinhas como em uma luta no facesitting, quando uma pessoa senta na cara da outra até sufocá-la.
A podolatria seguiu em alta no restante da noite. Com homens massageando, chupando e beijando os pés das mulheres. Leo aproveitou esse momento para divulgar o concurso de pés femininos que ocorreria em duas semanas, com dez jurados avaliando diversas categorias, como a maciez, das concorentes. O dono da casa também comenta o fato de uma mulher se tornar uma rainha em meio aos fetichistas por ter pés atraentes e ganhar presentes e até mesmo dinheiro, caso opte por cobrar para masturbar homens com o pé.
Leo também conta outras preferências sexuais realizadas no local. Na Casa Podo, é possível comprar meias femininas de 50 a 100 reais. Lá também são vendidas roupas intimas, urina e fezes de mulheres. Na mesa de sinuca, as pessoas deitam para serem queimadas com cera de vela ou então participarem de um ritual de sushi, no qual uma pessoa deita nua ou seminua e é colocada comida sobre seu corpo. Há também casais em que um deles gosta de se fingir de cachorro, coloca um plug anal semelhante a um rabo e imita o animal. Além de muitos homens que procuram por inversão no sexo, ou seja, mulheres que os penetrem com dedos ou acessórios.
Sobre a inversão, Vitor conta um causo ocorrido em uma festa. Ele narra que após o término de uma briga na piscina de plástico montada para a ocasião, lembrando a famosa Banheira do Gugu, um frequentador da casa tirou sua roupa na frente de todos os presentes e pediu que uma mulher o “comesse”. Vitor diz não ter a coragem de fazer o mesmo publicamente, mas assim como muitos homens que vão à Podo, pratica tal ato entre quatro paredes, mas lembra que nunca comentaria o assunto da porta para fora da casa de fetiche devido ao tabu existente com o prazer anal masculino.
Leo conta não se surpreender com mais nenhum fetiche. “Se você me contar que gosta de se masturbar assistindo o Datena eu vou achar normal. Aqui você pode falar sobre o que sente tesão que a gente dá um jeito de realizar”, conta. Um dos fetiches que considerou mais inusitado foi o pedido de um homem casado para comprar pele de um pé feminino, adquirido após uma mulher lixar seu calcanhar. Na multiplicidade de fetiches, ele conta que sua última parceira sexual só chegava ao orgasmo com um aspirador de pó em sua vagina, pois sentia prazer na sucção.
“Todo mundo tem um fetiche, as pessoas só têm medo de dizer e explorar isso”, afirma Leo. Ele conta ainda que na Casa Podo as pessoas têm a chance de se libertarem sexualmente, sem julgamentos e sem preocupação de serem expostas. O que ocorre na Podo fica por lá, com conforto e respeito, mas muita sacanagem.